terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

"Bola de Sebo", Guy de Maupassant

Bom dia!

Como ontem escrevi sobre José de Alencar e a sua crítica social em Senhora, hoje resolvi escrever sobre outro escritor que também é perspicaz nas suas críticas à sociedade, Guy de Maupassant. Eu já escrevi aqui no blog sobre o conto Aparição do autor francês, porém o conto que escolhi para hoje não tem nada de fantástico ou sobrenatural.
Bola de Sebo foi publicado em 1880, é um conto um pouco mais longo, cerca de 40 páginas, dependendo da edição. É, portanto, considerado uma novela por alguns. Uma novela é um gênero literário escrito em prosa mais extenso do que um conto, porém mais curto, e normalmente com menos personagens, do que um romance.

Este conto/novela de Maupassant tem como plano de fundo a Guerra Franco-Prussiana, que ocorreu entre 1870 e 1871. Este foi um conflito entre o Império Francês e o Reino da Prússia, que culminou na unificação da Alemanha sob o comando de Guilherme I e na queda de Napoleão III.

Retirada da bandeira francesa para a colocação da bandeira alemã

A trama de Maupassant conta a trajetória de dez passageiros que, após a ocupação prussiana na França, decidem fugir de Rouen. São eles três casais burgueses, duas freiras, um republicano radical e uma jovem prostituta, chamada de Bola de Sebo por ser pequena e bastante robusta. No primeiro dia de viagem, depois de horas na estrada e sem mantimentos à vista, pois a Guerra havia afastado os comerciantes da região, todos os passageiros estão cansados e mortos de fome. Bola de Sebo, então, retira uma cesta cheia de pães e carnes e fica feliz em dividi-la com os outros passageiros, que a princípio relutaram, por serem de uma classe social mais alta do que ela, mas no fim cederam à fome imensa.
Finalmente, o grupo de passageiros chega a uma estalagem onde passam a noite. No dia seguinte, no entanto, o comandante prussiano proíbe a continuação da viagem do grupo francês. Ele afirma que só deixará o grupo seguir viagem se Bola de Sebo dormir com ele. Bola de Sebo fica ultrajada com a proposta e a rejeita diversas vezes. Com o passar do tempo, os outros passageiros ficam com raiva por terem sido detidos ali pelo fato de uma prostituta não fazer o trabalho que lhe é requisitado. Bola de Sebo acaba cedendo pelo bem dos outros e no dia seguinte o grupo continua a viagem.
Preparados, desta vez, com muita comida para o trajeto, os passageiros entraram na carruagem. Bola de Sebo, no entanto, não teve tempo para trazer mantimentos. Durante a viagem, todos se regalaram com a fartura de comida, mas ninguém teve a audácia de partilhá-la com uma mulher suja como aquela prostituta.

Guy de Maupassant
Maupassant é sagaz na crítica à hipocrisia e preconceito da sociedade da época: são pessoas que, em caso de necessidade, não hesitam em aceitar a ajuda de membros da classe inferior, porém, quando o oposto acontece, não abrem mão de seu orgulho hipócrita para ajudar ao outro.

Gustave Flaubert, autor de Madame Bovary (1865), primo seu por parte de mãe, considerou Bola de Sebo "uma obra-prima", e eu concordo. É um título que não pode faltar em sua lista de leituras obrigatórias! Além de ser extremamente divertido e irônico.
Guy de Maupassant (1850-1893) participou da Guerra Franco-Prussiana como voluntário.


Boa terça-feira a todos!

Um abraço,

Fernanda
 

10 comentários:

  1. Fernanda, grato pela informação. Não conhecia este conto de Maupassant. Estava, na verdade, procurando "paralelos" entre a "Ópera dos três vintens" de K. Weil e B Brecht e a "Ópera do malandro" de Chico Buarque e deparei-me com esta sua crônica (?). Parabéns. Grato.

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