terça-feira, 30 de junho de 2015

"O Curioso Caso de Benjamin Button", F. Scott Fitzgerald

Boa noite queridos leitores,

Hoje trago para vocês uma história que, até pouco tempo atrás, não sabia que tinha sido, antes de tudo, um conto escrito no início do século passado. Vocês, muito provavelmente, já ouviram falar de O Curioso Caso de Benjamin Button, talvez até já tenham assistido ao maravilho filme de 2008. Mas vocês sabiam que ele foi baseado em um conto de F. Scott Fitzgerald de 1922? Eu fiquei muito surpresa com a descoberta, e também muito animada, pois há tempo queria conhecer a escrita de Fitzgerald e essa me pareceu uma boa oportunidade para começar.

Fitzgerald (1896-1940) é mais conhecido por escrever histórias da Era do Jazz, que retratam o estilo de vida exuberante da classe alta norte-americana na década de 20. Entre suas principais e mais conhecidas obras estão O Grande Gatsby (1925) e Suave é a Noite (1934). O próprio autor Fitzgerald, na verdade, compartilhava deste estilo de vida e, juntamente com sua mulher Zelda Sayre, participava de muitos bailes, festas e reuniões da alta sociedade. No início da década de 20, Fitzgerald chegou a afirmar que às vezes não sabia se Zelda e ele eram reais ou personagens de uma de suas histórias.

Infelizmente, dez anos depois, a felicidade do casal iria encontrar obstáculos com a doença mental de Zelda. Ela foi internada em um hospício em 1930 e Fitzgerald, sofrendo de alcoolismo, se mudou para Hollywood, onde trabalhou como roteirista de cinema até sua morte em 1940, aos 44 anos.

Scott Fitzgerald e sua mulher Zelda


Em O Curioso Caso de Benjamin Button, um conto de pouco mais de quarenta páginas - por isso, ele pode até mesmo ser considerado uma novela -, Fitzgerald nos apresenta o estranho caso de Benjamin, um bebê que já nasceu velho, com 70 anos de idade, rugas no rosto e uma longa barba prateada! O médico e enfermeiros do hospital estavam enfurecidos com a reputação que tal caso traria para a instituição, e o pai do "bebê", Roger Button, tinha até vergonha de levar a criança para casa e do que os vizinhos falariam. Com dificuldades, o tempo passou para o velho bebê Button, mas, ao invés de envelhecer como todos os outros seres humanos, ele ficava cada dia mais jovem! Aos 20 anos de idade, ele parecia um homem de 50; aos 40, aparentava ter 30 anos; e, quando completou 50 anos, tinha a aparência de um jovem de 20 anos!


Daisy e Benjamin
Acho a trama da história sensacional! Porém, devo admitir, que o modo como Fitzgerald tratou o enredo deixou a desejar. O foco do conto é Benjamin e como ele sofre preconceitos por aparentar uma idade que não tem, suas dificuldades em entrar para a universidade, fazer amigos... enfim, como ele luta para ter uma vida normal. A adaptação de David Fincher para o cinema em 2008, no entanto, alçou o conto para outro patamar, explorando a relação de amor entre Benjamin e Daisy. Os dois se conhecem quando ele era uma criança em um corpo de um velho, e ela era apenas uma menina. Os dois se reencontram quando Daisy é uma jovem e bela bailarina, e Benjamin aparenta ser um homem de 50 anos. Os dois finalmente se apaixonam quando se encontram no meio do caminho e aparentam ter, mais ou menos, a mesma idade. No entanto, a felicidade dos dois não estava destinada a durar, pois Daisy continua a envelhecer, enquanto Benjamin fica cada vez mais jovem. É um filme maravilhoso, com uma maquiagem e efeitos visuais excepcionais, que nos faz refletir sobre o significado do tempo e o seu peso em nossas vidas, e o quão longe conseguimos ir por amor.

Brad Pitt como Benjamin Button
As atuações de Brad Pitt como Benjamin e de Cate Blanchett como Daisy são impecáveis. O filme foi indicado a 13 Oscars em 2009, dos quais ganhou Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem e Melhores Efeitos Visuais.



Espero que tenham gostado de conhecer o conto de Fitzgerald por trás do filme, e espero que o curioso caso de Benjamin Button os conquiste, assim como conquistou a mim!

Um grande abraço e ótimas leituras!

Fernanda

domingo, 28 de junho de 2015

"Romeu e Julieta", William Shakespeare

Bom dia, queridos leitores!

Hoje, após quase dez dias, finalmente pude voltar ao blog e compartilhar com vocês o que estive lendo nos últimos dias! Todos os estudantes sabem que o final de semestre é um período muito atribulado, mas, mesmo assim, não deixamos de fazer aquilo que mais nos dá prazer: ler.

Ultimamente, tenho me dedicado a conhecer melhor a obra de William Shakespeare e, por isso, venho lendo algumas de suas peças. Há uma que estava na minha estante há anos esperando para ser lida, e agora foi a sua vez. Trata-se de Romeu e Julieta, a tragédia de Shakespeare, escrita entre 1591 e 1595, que atravessou os séculos e permanece em nosso imaginário tanto tempo depois.

Acredita-se que a peça de Shakespeare tenha sido inspirada no conto italiano A Trágica História de Romeu e Julieta escrito por Matteo Bandello, traduzido para o inglês em versos pelo poeta Arthur Brooke em 1562, e, mais tarde, adaptado para uma versão em prosa, escrita por William Painter em 1582, sob o título Palácio do Prazer. A partir destes textos, Shakespeare criou a sua memorável peça e influencious muitos escritores posteriores, como em Inocência (1872), de Visconde de Taunay, considerado o "Romeu e Julieta do sertão" (para revisitar esta publicação, clique aqui), e em Amor de Perdição (1862), de Camilo Castelo Branco, o "Romeu e Julieta lusitano".

Romeu e Julieta na cena da varanda
Em Romeu e Julieta de Shakespeare, dois jovens apaixonados sofrem com as brigas entre as duas famílias, Capuletos e Montecchios. Prometida ao nobre Páris, Julieta se apaixona perdidamente por Romeu, que, por sua vez, esquece sua antiga paixão e só tem olhos para a bela Julieta. Casados em segredo pelo Frei Lourenço, os dois precisam buscar uma solução para ficarem juntos depois de Romeu ser banido de Verona. O Frei sugere um macabro plano, que mudará para sempre as vidas das duas famílias.

Hoje, Romeu e Julieta são considerados arquétipos do amor juvenil, que não mede consequências para estarem juntos, seja na vida ou na morte.  Eles são, nas próprias palavras de Shakespeare, "star-crossed lovers", cujo destino estava escrito nas estrelas.
O último beijo de Romeu e Julieta

Romeu e Julieta já foi adaptado para diversos meios artísticos. No cinema, talvez seja a peça mais adaptada para as telonas. Entre os filmes mais conhecidos e aclamados estão o do diretor Franco Zeffirelli de 1968, com Leonard Whiting como Romeu, e Olivia Hussey, de apenas 17 anos na época, como Julieta; em 1996, Baz Luhrmann dirigiu Romeu + Julieta, trazendo a história de Shakespeare para Verona Beach dos anos 90, com Leonardo di Caprio no papel de Romeu e Claire Danes como Julieta; e, finalmente, em 2013 o diretor Carlo Carlei dirigiu o filme britânico Romeo & Juliet, com Douglas Booth como Romeu e Hailee Steinfeld como Julieta.


Filme de 1968


Filme de 2013



Filme de 1996


 Tais adaptações apenas comprovam como a trama de Romeu e Julieta é atemporal. Para os amantes da literatura, esta peça não pode faltar em sua lista de leitura!


"For never was a story of more woe,
Than this of Juliet and her Romeo"
(Shakespeare)


Um ótimo domingo a todos e boas leituras!

Fernanda


sexta-feira, 19 de junho de 2015

"Lancelot: O Cavaleiro da Carreta", Chrétien de Troyes

Bom dia, queridos leitores!

Se existe um período histórico que me fascina e um universo mítico que me encanta, são eles a Idade Média e a corte do Rei Arthur. Adoro ler histórias sobre cavaleiros medievais, donzelas no alto das torres, poções mágicas e encantamentos, lutas por poder e por amor... são temas pelos quais sou apaixonada!


Já faz um tempo que venho tentando conhecer melhor o universo arturiano e, por isso, venho lendo diversas obras que retratam essa corte lendária, que não se sabe se realmente existiu. Mas o fato é que os cavaleiros da Távola Redonda vêm reunindo fãs gerações após gerações. Eles são adaptados para romances modernos, séries de televisão, filmes, pinturas... enfim! Eles fazem parte de nosso imaginário coletivo.


Portanto, hoje trago para vocês a história de um dos mais conhecidos cavaleiros da Távola, Lancelot, escrito por Chrétien de Troyes, poeta e trovador francês do final do século XII, conhecido por suas histórias de cavalaria. Lancelot: O Cavaleiro da Charrete, ou Le Chevalier de la Charrette no original, foi dedicado à condessa Marie de Champagne, filha de Eleanor da Aquitânia e Luís VII da França. Marie era, assim como sua mãe, grande entusiasta da literatura e patrocinava diversos artistas; entre eles, Chrétien de Troyes.



Lancelot: O Cavaleiro da Carreta foi escrito, provavelmente, entre 1178 e 1181; e o fato que ainda lemos essa obra, mais de oitocentos anos depois, é mesmo incrível, não? Nesta história, a rainha Guinevere, esposa do Rei Arthur, é sequestrada pelo maléfico Maleagant. Os cavaleiros Kay, Gawain e Lancelot se propõem, então, a resgatar a rainha. Mas, para tal, os três se dispersam e cada um passa por diversas aventuras e desafios. Nesta história, também, o leitor conhece o grande amor que a rainha e Lancelot têm um pelo outro, e como este amor os levará a um dilema entre a Razão e o Sentimento.


Chrétien de Troyes escreveu outros quatro romances arturianos: Érec e Énide (1170)., Cligès (1176), Ivain, o Cavaleiro do Leão (1178-1181) e Perceval ou O Conto do Graal (1182-1190); este último permaneceu inacabado devido à morte do autor.

Guinevere e Lancelot

Espero que tenham gostado dessa nossa jornada pelo universo arturiano, e não deixem de conhecer as incríveis aventuras dos cavaleiros da Távola Redonda!

Um grande abraço e ótimas batalhas!

Fernanda

quinta-feira, 18 de junho de 2015

"Os Pássaros", Daphne du Maurier

Boa tarde, queridos leitores!

Ultimamente tenho estado tão atarefada que mal tenho tido tempo para atualizar o blog! É uma pena, porque adoro escrever e compartilhar com vocês as minhas experiências literárias! Mas hoje estou de volta e trago para vocês um conto simplesmente sensacional: Os Pássaros, de Daphne du Maurier.

Os Pássaros foi primeiramente publicado em 1952. A história se passa em uma fazenda no interior da Inglaterra, onde vive um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, agora aposentado, com sua família. Em uma manhã gelada, Nat observa alguns pássaros, que se comportam de uma maneira estranha. Ele deixa o assunto cair no esquecimento, porém, à noite, um barulho recorrente na janela do seu quarto o acorda. Ele abre a janela para verificar de que se tratava e vê um pássaro, que afunda o bico pontudo nas mãos de Nat, fazendo-as sangrar. Depois, o fazendo escuta um barulho no quarto das crianças e encontra diversos pássaros atacando as duas crianças, que choravam desesperadas.

A manhã seguinte amanheceu serena. Nat acalmou sua família, dizendo-lhes que os pássaros estavam perturbados por causa da súbita mudança de temperatura. Mas livrar-se do ataque dos pássaros não foi tão simples assim...

A história parece familiar? Talvez seja pelo fato de que ela foi adaptada ao cinema em 1963 pelo aclamado diretor Alfred Hitchcock. Eu me lembro muito bem desse filme. Quando era criança, eu o assisti na televisão e por muitos dias não pude olhar um pássaro sem sentir um calafrio!

Filme de Hitchcock baseado no conto de Daphne du Maurier


Alfred Hitchcock
O filme foi muito bem recebido pela crítica, recebeu diversos prêmios e até hoje é lembrado como um dos maiores filmes de suspense do século XX. Nele, a história se passa nos Estados Unidos, em Bodega Bay, e tem como protagonista a linda Tippi Hedren, que faz o papel da elegante Melanie Daniels.

Daphe du Maurier, autora do conto, nasceu em 13 de maior de 1907, em Londres, e morreu em 19 de abril de 1989, em Cornwell, local onde se passa a história original de Os Pássaros.


Tippi Hedren em Os Pássaros

Maurier também escreveu outros dois romances que foram adaptados às telonas por Alfred Hitchcock: Rebecca, escrito em 1939 e transformado em filme em 1940, e Jamaica Inn, escrito em 1936 e adaptado para o cinema em 1939.

Eu já assisti Rebecca de Hitchcock e estou louca para ler o livro! É um suspense encantador!


A autora Daphne du Maurier

Espero que leiam o maravilhoso conto de Maurier e relembrem a história assistindo ao filme de Hitchcock. Uma ótima sugestão para o fim de semana!

Um abraço e ótimas leituras!

Fernanda

quinta-feira, 11 de junho de 2015

"A Vida Secreta das Abelhas", Sue Monk Kidd

Olá, queridos leitores!

Hoje trago para vocês um livro que me emocionou. Normalmente, prefiro histórias fantásticas e de aventura ou suspense a livros mais realistas e dramáticos. No entanto, esta obra de Sue Monk Kidd realmente me cativou e me fez seguir a protagonista parágrafo após parágrafo, apreensiva do que pudesse acontecer nas próximas páginas.

A Vida Secreta das Abelhas, publicado pela primeira vez em 2002, tem como cenário o sul dos Estados Unidos no início da década de 60, período e região de grande preconceito racial. Nossa protagonista é uma garota de 14 anos, chamada Lily Melissa Owens, que mora com o pai abusivo, T. Ray, e vive conturbada pela lembrança, ainda que confusa, do dia da morte de sua mãe.

Rosaleen é uma mulher afro-americana, que trabalha como empregada na casa dos Owens, e é a figura mais próxima de uma mãe na vida de Lily. Um dia, Rosaleen é detida por ter agredido três homens brancos racistas. Em busca de liberdade para sua grande amiga e para si mesma, Lily decide libertá-la secretamente, e as duas rumam sozinhas para o sul.


Dakota Fanning como Lily Owens
Lily e Rosaleen (Jennifer Hudson)

As duas acabam chegando a Tiburon, na Carolina do Sul, onde encontram uma fazenda de apicultura, administrada pelas irmãs Boatwright, três irmãs negras que adoram a Virgem Maria Negra. Nesta pequena vila, Lily vai descobrir muito sobre sua mãe, sobre a vida, sobre o poder feminino e sobre sua própria essência.

Este romance foi adaptado para as telas do cinema em 2008 pela diretora Gina Prince-Bythewood, com Dakota Fanning no papel de Lily Owens; Jennifer Hudson como Rosaleen, e Queen Latifah, Alicia Keys e Sophie Okonedo interpretando as irmãs Boatwright. Eu ainda não tive a oportunidade de assistir a este filme, mas já li muitas críticas positivas a respeito. Estou muito curiosa para conferir esta adaptação da maravilhosa história de Monk Kidd, ainda mais com a participação destas grandes atrizes.



Sue Monk Kidd
 Sue Monk Kidd é uma autora norte-americana, nascida em 12 de agosto de 1948 e A Vida Secreta das Abelhas é a sua obra mais conhecida e aclamada. Além de romances, seus primeiros escritos se tratam de guias espirituais, com bases no Cristianismo e na Teologia Feminista. Mais tarde, Monk Kidd se dedicou à ficção, tendo escrito A Sereia e o Monge, em 2005, e A Invenção das Asas (2014).

Um ótimo final de semana a todos e ótimas leituras!

Fernanda

terça-feira, 9 de junho de 2015

Mitologia Celta - "O príncipe do Abismo"

Boa tarde, queridos leitores!

Hoje continuamos nossa jornada pelo universo fantástico da Mitologia Celta. Para quem perdeu os três posts anteriores, eles estão disponíveis aqui.




Eu já comentei com vocês que esta é uma das séries de publicações que eu mais gosto, pois acabo aprendendo muito com ela também. Aliás, este blog tem sido um grande aprendizado para mim. Como profissional da área de Letras e Literatura, estar sempre em contato com diferentes autores, períodos literários e buscando novas histórias tem aumentado bastante o meu repertório literário, o que só confirma a minha paixão por essa área de estudo!



Pwyll, rei de Dyvet

Hoje apresento para vocês outro personagem da mitologia celta. Trata-se de Pwyll, príncipe de Dyfed, localizado no sul do atual País de Gales. Pwyll era um grande guerreiro e, um dia, ficou até tarde na floresta para caçar. Ainda não tinha encontrado nenhum animal quando repentinamente ouviu latidos de cães. Correu até o local do barulho e encontrou cães de pêlo branco e orelhas cor de sangue. Eles haviam abatido um belo veado. Pwyll espantou os cães para se apossar de sua caça, quando foi surpreendido por um cavaleiro negro. Era Arawn, o rei do Abismo, local para onde os mortos vão depois de sua vida na terra.


Arawn, rei do Abismo
Arawn, o rei dos mortos, repreendeu Pwyll, um cavaleiro renomado, por roubar a caça de seus cães. Para se redimir, Arawn propôs a Pwyll o seguinte: os dois trocariam de lugar e aparência por um ano, para que Pwyll, sendo um humano, pudesse golpear e matar o demônio Hafgan, que estava perturbando as terras do Abismo. Em troca, Arawn cuidaria das terras de Dyfed.


Assim, os dois cavaleiros selaram um contrato e, depois de um ano, Pwyll saiu vitorioso. Combatera o demônio Hafgan e, por isso, ao voltar para suas terras, foi chamado de "o príncipe do Abismo".



Mapa dos reinos no País de Gales Medieval


Espero que tenham gostado de conhecer mais um personagem da mitologia celta. Ainda encontraremos Pwyll em outras aventuras mitológicas.

Boa terça-feira a todos e ótimas leituras!

Fernanda

segunda-feira, 8 de junho de 2015

"O Valor do Riso", Virginia Woolf

Boa tarde, leitores!

Todos certamente conhecem a escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941), autora modernista e ativista de causas feministas. Porém, o que muita gente desconhece é que Woolf também foi uma prolífica crítica, que escreveu inúmeros ensaios sobre diversos temas, como as mulheres na literatura, sobre as consequências das Guerras Mundiais na sociedade inglesa de início do século XX e sobre temas do nosso dia-a-dia, típicos da existência humana, como o valor do riso.

Virginia Woolf

O Valor do Riso é um curto ensaio publicado pela primeira vez em 16 de agosto de 1905 no jornal britânico Guardian. Nele, Woolf nos fala sobre a seriedade dos dias de hoje, uma sociedade que dá mais valor ao drama e às lágrimas do que ao riso. Pelo contrário, as pessoas temem o riso, como o riso inocente da criança que ri das roupas inexistentes do imperador no conto de Hans Christian Andersen. Não sabemos mais como agir diante do riso.

Woolf diz que o riso é inerente à raça humana, a homens e mulheres. Somos capazes de rir porque somos conscientes das nossas falhas como seres humanos. Para rir, é preciso que nos conheçamos por inteiro. O riso não está abaixo das palavras, mas além delas.

Assim, Woolf critica esta obsessão com a seriedade e a solenidade da sociedade moderna. Temos é que dar valor ao riso!

"Não há nada tão difícil como o riso, de fato, mas nenhuma característica é mais valiosa." (Woolf, Virginia)


Este ensaio foi escrito há mais de cem anos e não parece que ele foi escrito para nós, em 2015? Nossa sociedade ainda relaciona o riso a futilidades e a seriedade ao que é importante. Somos levados a suprimir o riso para sermos levados a sério, para mantermos um rosto confiável. E qual a consequência? Vivemos carrancudos, melancólicos, obscuros... Virginia já disse em 1905 e eu reitero: viva o riso!


Este e outros ensaios estão reunidos no volume O Valor do Riso, publicado pela Cosac Naify no ano passado. A maioria dos ensaios que compõem este livro são inéditos no Brasil e traduzidos para a língua portuguesa pela primeira vez. É uma obra-prima fruto das reflexões da autora que vale a pena ter em casa!

Uma ótima segunda-feira e todos e não deixe de se entregar ao riso!

Fernanda

sexta-feira, 5 de junho de 2015

"Prelúdio de Sangue", Jean Plaidy

Bom dia, queridos leitores!

Hoje eu trago um prato cheio para os amantes de romances históricos como eu! Há muito tempo queria ler os livros de Jean Plaidy, grande nome deste gênero de literatura, e que já escreveu mais de duzentos livros! Ela transforma a vida de grandes reis e rainhas da história da realeza inglesa em deliciosos romances, trazendo estes personagens históricos de volta à vida e nos transportando para o período de guerras e intrigas da Inglaterra Medieval.

O livro que trago para vocês hoje, Prelúdio de Sangue, publicado em 1976, é o primeiro da saga de 14 livros escritos por Plaidy sobre a dinastia Plantageneta, que reinou na Inglaterra de 1154 a 1399 através do governo de de oito memoráveis reis. O primeiro rei desta dinastia foi Henrique II, filho de Godofredo V de Anjou e Matilda, que havia sido Imperatriz Consorte da Alemanha durante o seu primeiro casamento. Henrique II reinou de 1154 até a sua morte e Prelúdio de Sangue nos conta a sua ascensão ao trono, que deu origem à dinastia Plantageneta.

Henrique II, da Casa Plantageneta

O livro inicia-se com a bela e dominadora Eleanor da Aquitânia que, após a morte do seu pai, casou-se com Luís VI, rei da França. Ambiciosa, Eleanor chega ao trono da França, mas se desaponta com a vida de casada com Luís, que havia sido criado para ser um homem da igreja. Eleanor foi famosa por ter diversos trovadores em sua corte na Aquitânia que cantavam o amor e suas aventuras. No fundo uma mulher romântica, Eleanor ansiava por mais paixão em sua vida.

Após ter duas filhas com o rei da França e depois de muita persistência, Eleanor consegue o consentimento do Papa para anular o casamento dos dois devido a laços consanguíneos (essa era a única maneira de anular um casamento na época. Se houvesse divórcio, nenhum dos dois poderia se casar novamente). Assim, Eleanor se vê livre para ir em busca de suas aventuras amorosas e acaba se casando com Henrique II, doze anos mais jovem, viril e o oposto de Luís. E, mais importante, o principal herdeiro do trono da Inglaterra.

Eleanor da Aquitânia

Assim, Eleanor da Aquitânia se torna a primeira e única mulher a ocupar ambos os tronos da França e da Inglaterra. Uma mulher muito poderosa, sem dúvida!

Prelúdio de Sangue é uma deliciosa jornada pelas terras da França e Inglaterra medievais e seus impiedosos conflitos pelo poder. O Crepúsculo da Águia é o segundo volume da série e continua a narrar os desafios do governo de Henrique II e suas desavenças com a Igreja, além da constante busca de Eleanor por mais poder e do seu ódio pelas infidelidades do rei.

Jean Plaidy é um dos pseudônimos de Eleanor Hibbert, escritora inglesa que viveu de 1906 a 1993. Jean Plaidy é o pseudônimo que usava para escrever romances sobre a monarquia inglesa. Também usou o nome Victoria Holt para escrever romances góticos, Philippa Carr para escrever a saga de uma família que atravessa gerações, e cinco outros nomes para escrever romances de mistério e detetivescos. Seus livros venderam mais de 100 milhões de cópias em mais de 20 idiomas.

Jean Plaidy


Desejo a todos ótimas leituras e nos vemos pela Inglaterra Medieval!

Fernanda

quarta-feira, 3 de junho de 2015

"O Corvo", Edgar Allan Poe

Olá, queridos leitores!

Johnny Depp
Esta semana fiquei sabendo de uma novidade que me deixou muito animada: o ator Johnny Depp irá interpretar o papel do escritor Edgar Allan Poe no cinema em uma produção de ninguém menos que Tim Burton! Fiquei contente triplamente, pois admiro muito o trabalho dos três artistas em questão e não vejo a hora de ver Edgar Allan Poe de volta à vida nas telas do cinema na pele de Johnny Depp e através da lente fantástica das criações características de Tim Burton. Burton já dirigiu e produziu diversos filmes inesquecíveis, como Planeta dos Macacos (2001), A Noiva Cadáver (2005), A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) e Alice no País das Maravilhas (2010).

Enquanto o filme não chega às telonas, decidi fazer uma jornada pelos textos do Poe. Dentre eles, escolhi uma de suas obras mais famosas e celebradas e, também, uma de minhas preferidas. Trata-se do poema O Corvo, publicado pela primeira vez em 29 de janeiro de 1845.


Edgar Allan Poe



O poema narrativo, através de sua musicalidade e ritmo sombrio, nos conta a visita em uma noite fria de Dezembro de um corvo ao eu-lírico, ou narrador, do poema, que sofre a perda de sua amada Lenore. O narrador observa o empertigado pássaro e lhe pergunta seu nome, mas ele apenas responde "Nunca mais". Surpreso pelo fato do pássaro falar, o homem lhe faz mais perguntas, às quais o corvo responde sempre "Nunca mais". Ele pergunta, então, se algum dia irá reencontrar a bela Lenore, e ele, mais uma vez, responde "Nunca mais".

Este texto de Poe é sutil, mas, ao mesmo tempo, de arrepiar. A atmosfera sombria e sobrenatural permeia o poema inteiro e o jogo de palavras feito por Poe deixa a leitura ainda mais rica e saborosa.

O poema foi originalmente escrito em inglês, mas há diversas traduções para a língua portuguesa, sendo as mais famosas as escritas por Machado de Assis e por Fernando Pessoa. No entanto, a tarefa de traduzir um poema não é fácil e muita da musicalidade e rima encontradas no original são perdidas nas traduções. Seria uma experiência interessante ler as diversas versões e compará-las com o original.





O feriado está chegando e noites frias e sombrias pedem a leitura de Poe, não? Esta opção já está na minha programação! E na sua?

Um ótimo feriado a todos e ótimas leituras!

Fernanda



terça-feira, 2 de junho de 2015

"A Plantação de Uva Amaldiçoada", Charles Waddell Chesnutt

Bom dia, queridos leitores!

Primeiramente devo pedir desculpas a vocês por não ter atualizado constantemente o blog nesta última semana. Como o final do semestre está aproximando, muitas atividades acumularam no mestrado. Porém, vou tentar trazer para vocês, o tanto quanto possível, dicas e comentários literários, dando maior ênfase à qualidade do que à quantidade.

Charles Chesnutt aos 40 anos
Alguém já ouviu falar em Charles Waddell Chesnutt? Eu ainda não! Vi o nome deste autor em uma de minhas adoradas antologias de contos e fiquei curiosa. Adoro conhecer novos escritores! Portanto, decidi ler o conto A Goophered Grapevine de Chesnutt. Não encontrei nenhuma tradução do conto em português, mas o título seria, mais ou menos, A Plantação de Uva Amaldiçoada.
Goophered não é uma palavra comum em inglês. Na verdade, ela é uma palavra de origem africana e, por isso, traz grande significado ao título.

Eu não sabia nada sobre o autor, não tinha ideia de quando o conto havia sido publicado e, somente através do título, tampouco tinha expectativas com relação ao gênero: seria um conto de terror? um conto de mistério? sobrenatural? de romance? sobre a guerra? reflexivo sobre a existência humana? Eu não tinha ideia! Esse tipo de leitura é bastante interessante, pois vamos construindo significados a partir do próprio texto; através das palavras escolhidas pelo autor, vamos identificando o tom da narrativa, vamos descobrindo mais sobre os personagens, ambiente, contexto histórico, etc.

Pois bem, em linhas gerais, a história é a seguinte: devido à saúde frágil de sua esposa, o narrador, por sugestão do médico da família, decide mudar-se com ela para uma região mais ensolarada e de clima mais quente. A região escolhida foi o sul dos Estados Unidos, mais especificamente no estado da Carolina do Norte. Lá, ele visita propriedades em busca de uma fazenda para comprar onde pudesse cultivar uma plantação de uvas. Ao visitar uma plantação abandonada, o narrador e sua esposa encontram um velho negro sentado em um tronco, chupando uvas. O negro quis retirar-se, mas o narrador pediu que não se incomodasse, pois havia espaço para os três. O velho continuou a comer em silêncio.



Após alguns minutos, o narrador decide iniciar uma conversa para deixar o negro mais à vontade e lhe pergunta se ele conhecia o antigo dono da plantação. O negro lhe levanta o olhar e pergunta se é ele o branco que quer comprar a propriedade. O narrador responde que sim. O negro, então, de uma maneira misteriosa, lhe confidencia que, se fosse ele, ele não iria comprar a plantação, pois ela era amaldiçoada! Curioso, o narrador quer saber todos os detalhes sobre esta maldição, enquanto sua esposa Annie se retrai amedrontada. Será que eles devem levar a história do velho negro a sério e manter distância da propriedade amaldiçoada?


Vocês terão que ler o resto do conto para descobrir! Eu achei esta uma leitura muito interessante, mas também bastante difícil, pois toda a fala do negro é transcrita da maneira como os descendentes africanos falavam no sul dos Estados Unidos. Mesmo o dialeto negro sendo de difícil compreensão, vale a pena continuar a leitura e viajar pelas superstições e crenças da cultura africana através da fala do velho negro da plantação.

Depois de lido o conto, decidi buscar mais informações sobre o seu autor e sua data de publicação, o que agregou ainda mais sentido ao texto em si.Charles W. Chesnutt nasceu em 20 de junho de 1858 nos Estados Unidos, e morreu em 15 de novembro de 1932, aos 74 anos. Chesnutt foi um escritor de origem mista (africana e europeia) e, em sua produção literária, trabalhou muito questões sociais e raciais no contexto pós-Guerra Civil no Sul dos Estados Unidos. Com o fim da Guerra, os escravos negros ganharam sua liberdade, mas continuavam a viver em condições precárias e, muitas vezes, obrigados a trabalhar muito para conseguir sobreviver. Eles eram livres na teoria, mas na prática continuavam escravos. Chesnutt, além da literatura, participou ativamente do cenário político norte-americano e tornou-se membro da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor, onde lutou contra leis discriminatórias e batalhou pelo direito dos negros à educação.

É dessa maneira que transformamos nossas leituras mais significativas e interessantes! Não devemos apenas ler um livro e, depois da última página, fechá-lo e guardá-lo na estante para nunca mais olhar para ele novamente. A leitura de um texto nos abre oportunidades para pesquisas e investigações dos temas discutidos no livro, do contexto histórico, político e social que envolvia o autor quando da sua escrita e, também, da própria história de vida do autor.

Espero que a partir de hoje suas leituras durem mais do que o número de páginas em si. Podem acreditar, a experiência vai ser inesquecível e muito mais vantajosa!

Uma ótima terça-feira a todos e ótimas leituras!

Fernanda