Bom dia, queridos leitores!
Primeiramente devo pedir desculpas a vocês por não ter atualizado constantemente o blog nesta última semana. Como o final do semestre está aproximando, muitas atividades acumularam no mestrado. Porém, vou tentar trazer para vocês, o tanto quanto possível, dicas e comentários literários, dando maior ênfase à qualidade do que à quantidade.
 |
Charles Chesnutt aos 40 anos |
Alguém já ouviu falar em Charles Waddell Chesnutt? Eu ainda não! Vi o nome deste autor em uma de minhas adoradas antologias de contos e fiquei curiosa. Adoro conhecer novos escritores! Portanto, decidi ler o conto
A Goophered Grapevine de Chesnutt. Não encontrei nenhuma tradução do conto em português, mas o título seria, mais ou menos,
A Plantação de Uva Amaldiçoada.
Goophered não é uma palavra comum em inglês. Na verdade, ela é uma palavra de origem africana e, por isso, traz grande significado ao título.
Eu não sabia nada sobre o autor, não tinha ideia de quando o conto havia sido publicado e, somente através do título, tampouco tinha expectativas com relação ao gênero: seria um conto de terror? um conto de mistério? sobrenatural? de romance? sobre a guerra? reflexivo sobre a existência humana? Eu não tinha ideia! Esse tipo de leitura é bastante interessante, pois vamos construindo significados a partir do próprio texto; através das palavras escolhidas pelo autor, vamos identificando o tom da narrativa, vamos descobrindo mais sobre os personagens, ambiente, contexto histórico, etc.
Pois bem, em linhas gerais, a história é a seguinte: devido à saúde frágil de sua esposa, o narrador, por sugestão do médico da família, decide mudar-se com ela para uma região mais ensolarada e de clima mais quente. A região escolhida foi o sul dos Estados Unidos, mais especificamente no estado da Carolina do Norte. Lá, ele visita propriedades em busca de uma fazenda para comprar onde pudesse cultivar uma plantação de uvas. Ao visitar uma plantação abandonada, o narrador e sua esposa encontram um velho negro sentado em um tronco, chupando uvas. O negro quis retirar-se, mas o narrador pediu que não se incomodasse, pois havia espaço para os três. O velho continuou a comer em silêncio.

Após alguns minutos, o narrador decide iniciar uma conversa para deixar o negro mais à vontade e lhe pergunta se ele conhecia o antigo dono da plantação. O negro lhe levanta o olhar e pergunta se é ele o branco que quer comprar a propriedade. O narrador responde que sim. O negro, então, de uma maneira misteriosa, lhe confidencia que, se fosse ele, ele não iria comprar a plantação, pois ela era amaldiçoada! Curioso, o narrador quer saber todos os detalhes sobre esta maldição, enquanto sua esposa Annie se retrai amedrontada. Será que eles devem levar a história do velho negro a sério e manter distância da propriedade amaldiçoada?

Vocês terão que ler o resto do conto para descobrir! Eu achei esta uma leitura muito interessante, mas também bastante difícil, pois toda a fala do negro é transcrita da maneira como os descendentes africanos falavam no sul dos Estados Unidos. Mesmo o dialeto negro sendo de difícil compreensão, vale a pena continuar a leitura e viajar pelas superstições e crenças da cultura africana através da fala do velho negro da plantação.

Depois de lido o conto, decidi buscar mais informações sobre o seu autor e sua data de publicação, o que agregou ainda mais sentido ao texto em si.Charles W. Chesnutt nasceu em 20 de junho de 1858 nos Estados Unidos, e morreu em 15 de novembro de 1932, aos 74 anos. Chesnutt foi um escritor de origem mista (africana e europeia) e, em sua produção literária, trabalhou muito questões sociais e raciais no contexto pós-Guerra Civil no Sul dos Estados Unidos. Com o fim da Guerra, os escravos negros ganharam sua liberdade, mas continuavam a viver em condições precárias e, muitas vezes, obrigados a trabalhar muito para conseguir sobreviver. Eles eram livres na teoria, mas na prática continuavam escravos. Chesnutt, além da literatura, participou ativamente do cenário político norte-americano e tornou-se membro da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor, onde lutou contra leis discriminatórias e batalhou pelo direito dos negros à educação.

É dessa maneira que transformamos nossas leituras mais significativas e interessantes! Não devemos apenas ler um livro e, depois da última página, fechá-lo e guardá-lo na estante para nunca mais olhar para ele novamente. A leitura de um texto nos abre oportunidades para pesquisas e investigações dos temas discutidos no livro, do contexto histórico, político e social que envolvia o autor quando da sua escrita e, também, da própria história de vida do autor.
Espero que a partir de hoje suas leituras durem mais do que o número de páginas em si. Podem acreditar, a experiência vai ser inesquecível e muito mais vantajosa!
Uma ótima terça-feira a todos e ótimas leituras!
Fernanda