sexta-feira, 24 de março de 2017

Lugares Literários - Boekhandel Dominicanen

Boa noite, pessoal!

Trem na Holanda
Hoje trago para vocês mais um post da coluna "Lugares Literários"!
Devo confessar que esta é a minha coluna preferida no blog. Ultimamente tenho visitado tantos lugares incríveis e tirado muuuuitas fotos, mas ainda não tinha tido tempo para organizar tudo em publicações aqui no blog. Mas agora chegou a hora!

Decidi começar a série de lugares literários na Europa por uma livraria inesquecível que visitei em Maastricht, no sul da Holanda. Para quem não sabe, estou fazendo um curso de mestrado de pesquisa em Estudos Literários na Universidade de Leiden, na cidade de Leiden na Holanda. Leiden fica a 30 minutos de trem de Amsterdam e, por isso, relativamente longe de Maastricht (ainda mais para parâmetros holandeses, que acham qualquer distância acima de 50km longe!). Para ir até lá, tive que pegar mais de um trem e a viagem total durou cerca de três horas, mas valeu muito a pena, pois a cidade - e a livraria - são lindíssimas!

Mapa da Holanda

Maastricht

Maastricht, como várias cidades na Holanda, é uma cidade medieval. Ela é uma das cidades mais antigas da Holanda. Povos celtas viveram lá em 500 a.C. Mais tarde, a cidade foi ocupada pelos romanos por volta do século I d.C, quando a antiga ponte - a que aparece na foto aqui ao lado - foi construída. Durante a Idade Média, Maastricht fez parte do Império Carolíngio, e em 1204 recebeu o título de cidade. Imaginem só, tudo isso muito antes de o Brasil ter sido "descoberto"!

E nesta linda cidade encontra-se a considerada uma das 10 melhores e mais belas livrarias do mundo - de acordo com a lista publicada no site do The Guardian, ela está em primeiro lugar! Trata-se da Boekhandel Dominicanen! O mais espetacular de tudo é que a livraria está situada dentro de uma catedral de mais de 800 anos! Esta igreja estava abandonada até que os arquitetos holandeses Merkx e Girod tiveram a brilhante ideia de transformá-la em uma livraria, possivelmente uma das mais bonitas do mundo. E conseguiram! Até ganharam prêmios de arquitetura por este projeto. E, convenhamos, merecidamente, não?

Boekhandel Dominicanen

Ao entrar nesta livraria, você tem a sensação de estar entrando em um templo sagrado, um lugar de meditação e reflexão. Ao olhar em volta, você percebe os milhares de livros ao seu redor, e se sente como se estivesse em um templo de devoção aos livros. Para um amante da literatura, não há sensação melhor! O teto alto, as enormes janelas, os arcos góticos... tudo contribui para uma experiência literária única! Você se desconecta totalmente do mundo lá fora!

Livraria vista de fora


Quem tiver a oportunidade de ir até a Holanda, não deixe de dar um pulinho em Maastricht, conhecer a cidade medieval e visitar esta belíssima livraria. Será uma experiência que você não esquecerá tão cedo!

Fiz um vídeo no meu mais novo canal dedicado ao blog (ainda escreverei um post sobre o canal por aqui!) sobre esta incrível livraria. Lá, você vai poder ver um vídeo que eu fiz dentro deste templo de livros! Para acessá-lo, clique aqui:



Espero que tenham gostado de mais uma de nossas viagens literárias.

Tenham um ótimo final de semana e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda

domingo, 19 de março de 2017

"E apenas para enganar", Tasha Alexander

Bom dia, queridos leitores!

Tasha Alexander
Hoje venho compartilhar com vocês uma autora que tem me surpreendido e tornado minhas leituras leves e prazerosas. Trata-se da norte-americana Tasha Alexander (1969-). Quem acompanha o meu blog sabe que descobri esta autora durante a minha viagem para Veneza em dezembro do ano passado. Procurando por algo para ler que tivesse como cenário a bela cidade de Veneza, encontrei o livro de Tasha intitulado Death in the Floating City (2012), ou Morte na Cidade Flutuante se traduzido literalmente. Eu simplesmente me apaixonei pelo estilo de escrita de Tasha, que combina um romance leve com literatura policial e romance histórico. Na minha opinião, uma combinação perfeita!

Quem tiver interesse em reler a resenha de Morte na Cidade Flutuante, clique aqui.

Depois de ler este livro de Tasha, descobri que ela havia escrito outros com a mesma protagonista de Morte na Cidade Flutuante, Lady Emily. A Lady Emily é uma personagem que me cativou! Uma mulher independente mesmo durante o período vitoriano na Inglaterra, que restringia o papel da mulher. Fiquei curiosa para ler mais aventuras de Lady Emily e, por isso, cheguei a And Only to Deceive (2005), ou E apenas para enganar se traduzido literalmente - os romances de Tasha Alexander, infelizmente, ainda não foram trazidos para o Brasil. Este é o primeiro livro da saga de Lady Emily que, até o momento, conta com onze livros, um conto lançado online e outro romance com data prevista de publicação em setembro de 2017.

O que me chamou a atenção na série de livros da Lady Emily, também, é que cada livro leva a protagonista - e, consequentemente, também o leitor - para um país diferente. Em Morte na Cidade Flutuante, Lady Emily está em Veneza. Em E apenas para enganar, Lady Emily inicia em Londres, mas viaja por Paris, Egito e pela Grécia Antiga.

Neste primeiro volume da saga, conhecemos Lady Emily, uma mulher jovem recém-casada que mora em Londres no final do século XIX. Seu marido, Lord Ashton, partiu em uma expedição para o Egito e até então não retornou, tendo sido declarado morto. Os dois pouco se conheciam antes do casamento, portanto Emily não sentiu tanto a perda do marido, apesar de que admitir tal fato seria uma escândalo para a sociedade. Contudo, aos poucos, Emily passa a conhecer melhor o seu marido através da leitura do seu diário e, para sua infelicidade, acaba se apaixonando por seu marido depois de morto!

Lady Emily descobre que seu marido era apaixonado por ela! Além disso, ele nutria um grande interesse em colecionar antiguidades gregas. Lord Ashton era um intelectual, dedicado a aprender tudo sobre arte, cultura e literatura, principalmente relacionados à Grécia Antiga. Lady Emily, então, como um tributo a seu marido, passa a se interessar por arte e história gregas também. Ela passa a visitar o Museu Britânico frequentemente e se aventura a ler Homero e aprender grego antigo. Seu mundo, porém, vira de cabeça para baixo quando há rumores de que um inglês, doente e debilitado, foi encontrado andando sem rumo no Egito. Seria Lord Ashton? Estaria ele vivo? Como seria o reencontro dos dois? Lord Ashton aceitaria a nova Lady Emily, independente e ávida por conhecimento? E, além de tudo, estaria Lord Ashton envolvido em um escândalo de peças antigas falsificadas?

Esta foi mais uma leitura muito prazerosa! Me envolvi com os personagens e com a trama de modo que não via a hora de poder retomar o livro para adentrar este mundo novamente! Analisando E apenas para enganar e Morte na Cidade Flutuante em perspectiva, pude perceber um grande desenvolvimento de Tasha Alexander como escritora. Os dois livros são maravilhosos, mas Morte na Cidade Flutuante, publicado sete anos depois, apresenta uma escrita mais madura e uma trama mais complexa.

Série de livros de Lady Emily
Estou muito ansiosa para ler mais uma aventura de Lady Emily. Já encomendei o segundo livro da série, A Poisoned Season (2007), que traz de volta nossos personagens adorados e, de acordo com a sinopse, envolve supostos descendentes de Luís XVI e Maria Antonieta. A promessa é grande!

Espero que vocês também se deixem levar para escrita envolvente de Tasha Alexander.

Um ótimo domingo a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda



sábado, 18 de março de 2017

"Vidro Quebrado", Alain Mabanckou

Olá, queridos leitores!

Já faz um bom tempo que não passo por aqui, mas hoje tive uma folga e resolvi compartilhar com vocês a minha última leitura! Estou fazendo parte de um workshop sobre Literatura Africana na Universidade de Amsterdam, onde temos discutido assuntos interessantíssimos. Confesso que tenho muito pouco conhecimento sobre literatura africana e este curso tem sido uma ótima oportunidade para abranger meus horizontes literários.

Alain Mabanckou
O primeiro autor com quem trabalhamos foi Alain Mabanckou, nascido em 24 de fevereiro de 1966 na República do Congo. Mabanckou já escreveu onze livros, incluindo Azul, branco, vermelho (1998), E só Deus sabe como durmo (2001) e African Psycho (2003), além de livros de poesia, ensaios e antologias. Atualmente, Mabanckou trabalha como Professor Titular de literatura francófona na Universidade de Califórnia (UCLA).

O livro de Mabanckou que lemos foi Verre Cassé, cuja tradução literal seria Vidro Quebrado - porém o livro ainda não foi traduzido para o português brasileiro. Esta obra de Mabanckou me surpreendeu temática e formalmente. Em primeiro lugar, o que me chamou a atenção foi a escrita de Mabanckou, que segue em um fluxo contínuo, sem pontos, letras maiúsculas ou parágrafos, apenas vírgulas. Há uma certa semelhança com o estilo de José Saramago. O resultado é uma explosão de frases e impressões - que chega a deixar o leitor sem fôlego! -, ainda mais por ser escrito em primeira pessoa.

Quem nos conta a história é Verre Cassé, um homem nos seus sessenta anos, que recebeu um caderno do dono do bar que costuma ir, Credit Gone West, para escrever sobre as histórias e personagens que frequentam o bar. Hesitante no início, Verre Cassé decide aceitar o desafio e passa os seus últimos dias sentado à mesa do bar, observando tudo a sua volta e escrevendo.

As histórias que Verre Cassé conta são, ao mesmo tempo, divertidas e trágicas: as controvérsias com relação à inauguração do bar, o homem que foi acusado de abusar sexualmente sua própria filha e foi levado à prisão, o homem que foi trocado pelo seu próprio filho por sua nova esposa, a competição entre um homem e uma mulher para ver quem urinava por mais tempo e com mais força, entre outras histórias de diversos personagens que passaram por Credit Gone West.

Ao mesmo tempo que Mabanckou exalta a importância da memória - daí a importância de Verre Cassé escrever sobre os ordinários frequentadores do Credit Gone West e suas vidas ordinárias -, Mabanckou, através das suas centenas de intertextualidades e referências a outras obras literárias, critica os escritores africanos que acreditam que deveria existir uma literatura africana unificada, uma literatura que falasse apenas sobre os problemas que a África enfrenta. Mabanckou elabora o seu manifesto: "e aqueles que pensam que um homem Negro não deveria falar de bétulas, de pedras, do pó, do inverno, da neve, de uma rosa, ou simplesmente da beleza pela própria beleza" (traduzido livremente por mim). O autor negro, segundo Mabanckou, não deve se limitar a falar dos preconceitos que sofre, ou da sua condição sociopolítica. O autor negro deve ser livre para escrever sobre o que quiser!

Ler Vidro Quebrado foi uma experiência e tanto para mim. Fiquei curiosa para ler mais livros de Mabanckou (fiquei fascinada pelo seu estilo de escrita) e para ler mais livros escritos por autores africanos. Durante este workshop, ainda lerei Phaswane Mpe, Marie NDiaye, Ivan Vladislavic, entre outros. Portanto, logo retorno com mais posts sobre literatura africana para vocês.

Espero que tenham gostado de conhecer Alain Mabanckou!

Um ótimo final de semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda