quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

"Amada", Toni Morrison

 Olá, queridos leitores!


Hoje venho compartilhar com vocês a minha leitura de Amada (1987), livro vencedor do Prêmio Pulitzer de Literatura de 1988, escrito por Toni Morrison (1931-2019). Essa foi a leitura do meu Clube do Livro de Fevereiro, e que jornada essa leitura foi! 

Já havia um bom tempo que queria ler os livros de Toni Morrison, grande nome da literatura afro-americana e vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 1993. Seus livros normalmente têm protagonistas negras que sofrem com as restrições sociais nos séculos XIX e XX.


Em Amada, a história se passa nos Estados Unidos pós-Guerra Civil. A protagonista é Sethe, uma mulher negra que fugiu da escravidão em uma plantação no sul para os estados livres do Norte. A história é contada através de diversas perspectivas e camadas de tempo: no passado, década de 1850, Sethe fugiu da escravidão ainda grávida, deixou seu marido Halle para trás e embarcou seus outros filhos (uma menina e dois meninos) antes por outro caminho. Depois de uma penosa jornada e de ter dado à luz Denver no meio do percurso, Sethe reencontra seus filhos e sua sogra, Baby Suggs, em um casa em Cincinatti. A casa de número 124 se torna um ponto de encontro de ex-escravos refugiados e Baby Suggs a líder da comunidade. A harmonia é quebrada quando os donos da plantação Sweet Home em Kentucky, de onde Sethe e seus filhos fugiram, retorna para capturá-los e levá-los de volta ao trabalho forçado. Desde 1850, com o estabelecimento da Lei do Escravo Fugitivo, qualquer escravo foragido que escapasse para os estados livres do Norte poderia ser legalmente perseguido e devolvido a seus donos.  Ao perceber que ela e seus filhos iriam voltar para a condição de escravos em Kentucky, Sethe faz algo abominável: mata a sua filha de apenas dois anos e teria matado todos os seus outros filhos também se não tivesse sido contida. A seu ver, a morte era preferível à escravidão. Ela queria libertar seus filhos na morte. 

Toni Morrison 


Sethe e Paul D. Ilustração de Joe Morse

Em contrapartida a essa narrativa do passado, há o presente em 1873, dezoito anos depois do ocorrido. Sethe e Denver moram sozinhas na casa de número 124, isoladas do mundo exterior. A comunidade as exclui, os dois filhos a abandonaram e Baby Suggs morrera anos antes. A casa é assombrada pelo espírito da filha morta: espelhos se estihaçam, pegadas de bebê aparecem na cobertura do bolo, biscoitos se espalham pelo chão em uma linha reta, a casa treme, etc. Quando a sua filha morreu, Sethe não tinha dinheiro o suficiente para inscrever o seu nome completo em uma lápide. Com o que tinha, conseguiu apenas pagar pela palavra "Amada". Eis que um dia Paul D, outro sobrevivente da fazenda Sweet Home, chega ao número 124. Ele expulsa o espírito que assombrava a casa, mas no dia seguinte eles encontram uma jovem mulher com as roupas molhadas sentada em frente à casa em Cincinatti. Ninguém sabe de onde a mulher surgiu, ela apenas diz que chama "Amada". 



Outra ilustração de Joe Morse
Não vou contar o resto para vocês, pois o trabalho do leitor nesse livro é o de juntar os pedaços de informações e colocar as peças do quebra-cabeça no lugar correto. Aos poucos, o leitor sabe mais sobre o passado de Sethe e Paul D, sobre os desejos e medos de Denver, e sobre essa presença física e ao mesmo tempo sobrenatural de "Amada".


Uma curiosidade é que Toni Morrison se inspirou para escrever esse livro em uma história real. Margaret Garner foi uma escrava em Kentucky que foi recapturada durante sua tentativa de fuga para Cincinatti em 1856. Da mesma forma que Sethe no texto ficcional de Morrison, Garner matou sua família para que ela não voltasse à escravidão.




Uma pesquisa de escritores e críticos literários feita pelo New York Times em 2006 considerou o livro Amada como o melhor livro americano dos últimos 25 anos. Há uma adaptação cinematográfica da obra lançada em 1998, dirigida por Jonathan Demme, o mesmo diretor de O Silêncio dos Inocentes (1991), e estrelado por Oprah Winfrey no papel de Sethe. Eu ainda não assisti a essa adaptação, mas espero um dia poder assisti-la.


Espero que tenham gostado da minha dica de leitura de hoje, um livro presente em várias listas de livros para ler antes de morrer!

Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

"As Aventuras de Tom Sawyer", Mark Twain

 Olá, pessoal!


Mark Twain (1835-1910)
Hoje venho compartilhar com vocês a minha leitura de As Aventuras de Tom Sawyer (1876), de Mark Twain (1835-1910). Uma leitura divertida, bem escrita e um dos clássicos da literatura mundial.

Twain é considerado um dos principais nomes da literatura norte-americana. Seu livro Aventuras de Huckleberry Finn, por exemplo, uma continuação da narrativa em Tom Sawyer publicada em 1884, é considerado por Ernest Hemingway como o maior romance de todos os tempos e o ponto de origem de toda a literatura norte-americana moderna. Ambos Tom Saywer e Huckleberry Finn figuram em listas dos melhores livros de todos os tempos e se tornaram memoráveis personagens. Para saber mais sobre Aventuras de Huckleberry Finn, clique aqui.





Meu primeiro contato com Twain foi na universidade, quando li Aventuras de Huckleberry Finn, a história de Huck, um garoto pobre do Missouri, cujo pai é um bêbado e o deixa perambular pelas ruas da pequena cidade de St. Petersburg (cidade ficcional criada por Twain com base na sua cidade-natal Hannibal, no Missouri) a procurar encrencas, nadar, fumar e aproveitar de sua liberdade. Um dos amigos de Huck é o esperto e travesso Tom Sawyer, o protagonista do romance de 1876. Ao contrário de Huck, Tom tem uma casa e uma família que o ama. Ele mora com sua tia Polly, seu irmão Sid e sua prima Mary. Ele vai à escola, à igreja, é obrigado a se comportar e a estudar a Bíblia. Tom, no entanto, aproveita cada oportunidade que lhe aparece para fugir de compromissos, brincar à beira do rio Mississippi e criar cenários imaginários baseados nos livros que lê, como as aventuras de Robin Hood e de grandes piratas do século passado. Ele inveja a liberdade que Huck tem e, apesar de ser aconselhado a manter distância dele, Tom o considera seu melhor amigo.

Tom Sawyer

As Aventuras de Tom Sawyer é escrito na terceira pessoa, mas através da perspectiva de Tom. Ou seja, é uma narrativa contada através da perspectiva inocente e cativante de uma criança conforme Tom passa por certas experiências que o levam cada vez mais próximo da vida adulta, deixando o romantismo da infância para trás e aceitando o realismo da vida madura.

Uma das principais aventuras no livro é quando Tom decide se tornar um ladrão e convida Huck para buscar um tesouro perdido, como nas lendas de piratas. O que eles não esperavam é que iriam ser testemunhas de um crime e que suas ações teriam consequências reais na vida de pessoas reais. É um banho de água fria de realidade na fantasia dos dois garotos. Mas eles nunca perdem o bom humor e a chance de transformar toda e qualquer ocorrência em um grande espetáculo.

Huck Finn
O livro se tornou muito popular, o que levou Twain a iniciar um nova aventura na mesma cidade de St. Petersburg, mas dessa vez sob a perspectiva de Huck Finn, que conta a história em primeira pessoa. Embora Twain tenha iniciado a escrita de Aventuras de Huckleberry Finn logo depois de terminar Tom Sawyer, ele deixou o projeto de lado depois do capítulo 16. Foi apenas em 1884, oito anos depois da publicação do primeiro livro, que Huckleberry Finn chega às livrarias. A história de Finn vai muito além da de Sawyer. Huck se depara com um escravo que fugira de uma propriedade em St. Petersburg e precisa refletir sobre o papel dessa pessoa na sociedade, considerado apenas uma propriedade por causa da cor de sua pele.

Se você ainda não conhece as obras de Mark Twain, eu recomendo a leitura desses dois clássicos da literatura juvenil. É interessante iniciar com as aventuras de Tom Sawyer para depois embarcar em uma jornada mais reflexiva pelo sul escravocrata americano pré-Guerra Civil.

Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!


Fernanda