domingo, 26 de junho de 2016

"O Jardim Secreto", Frances Hodgson Burnett

Olá, pessoal!

Hoje venho compartilhar com vocês uma leitura muito especial. Esta é uma das histórias que encantou minha infância, tornando-a, com certeza, mais mágica. Alguém se lembra de Mary Lennox? Quando crianças, eu e minha irmã brincávamos que éramos irmãs Lennox e perambulávamos pela casa, imaginando-a uma mansão de muitos quartos, a procura de um cômodo secreto. Infelizmente, não encontramos nenhum jardim secreto, mas o encantamento por trás desta história nos acompanhou até os dias de hoje.

Meu primeiro contato com a história de Frances Hodgson Burnett foi através do filme de 1993, dirigido por Agnieszka Holland e com Kate Maberly no papel de Mary. Aliás, este filme - juntamente com O Encanto das Fadas, era item certeiro dos nossos finais de semana em casa. Quando soube que o filme havia sido baseado em um romance, tive muita vontade de lê-lo! Li a versão em português alguns anos atrás, e recentemente li a versão em inglês, devido ao desafio literário do mês de maio, que consistia em ler um livro infanto-juvenil.

Reler O Jardim Secreto foi uma experiência maravilhosa! Sabem aqueles medos que temos quando queremos reler um livro que nos foi muito especial na infância? Aquele receio de que o livro não será tão especial como foi um dia? Pois isto não aconteceu com O Jardim Secreto! Mesmo sabendo a trama de cor, me encantei com as descobertas de Mary e com a magia tomando conta das crianças e, mais tarde, dos adultos, transformando a vida de todos!



Para quem ainda não conhece a história, O Jardim Secreto narra as aventuras de Mary Lennox, uma menina de dez anos magra e rabugenta, que nasceu na Índia. Depois de um surto de cólera, seus pais morrem e, órfã, Mary é levada para a Inglaterra para morar com seu tio em uma mansão em Yorkshire. Seu tio, cuja bela esposa morreu muito jovem, é sério e melancólico, e não deseja ser perturbado por Mary. Mary tem o cuidado da jovem Martha, que a encoraja a sair de casa e explorar os jardins da mansão. É aí que Mary descobre um jardim secreto, trancado há dez anos. Juntamente com Dickon, irmão de Martha, e Colin, seu primo doente, Mary faz de tudo para trazer o jardim abandonado de volta à vida. O que ela não esperava é que outras pessoas seriam trazidas de volta à vida juntamente com o jardim.

Para as crianças, o jardim secreto é envolto em magia. A magia, a meu ver, em O Jardim Secreto, vai muito além de feitiços ou encantamentos, tanto que cada personagem dá a esta crença o nome que quiser. As crianças a chamam de magia, Dickon chama de Deus, e a Sra. Sowerby de fé. De qualquer forma, a magia é a crença em algo superior e bondoso, que toma conta de seu corpo e pensamentos, da natureza e outros seres, banindo o mal e trazendo felicidade e contentamento. Não é lindo?



O Jardim Secreto é uma história de superação, renascimento e homenagem à vida. Ele nos ensina a buscar essa "magia" no nosso dia-a-dia. Precisamos cuidar de nossas vidas como cuidamos de um jardim: com carinho, dedicação e removendo as ervas daninhas. Percebemos quão prejudiciais pensamentos negativos podem ser, e, ao mesmo tempo, aprendemos o poder de pensamentos positivos.


Escolhi um trecho do livro que me pareceu muito especial para ilustrar esta fantástica história:


"One of the strange things about living in the world is that it is only now and then one is quite sure one is going to live forever and ever and ever. One knows it sometimes when one gets up at the tender solemn dawn-time and goes out and stands alone and throws one's head far back and looks up and up and watches the pale sky slowly changing and flushing and marvelos unknown things happening until the East almost makes one cry out and one's heart stands still at the strange unchanging majesty of the rising of the sun - which has been happening every morning for thousands and thousands and thousands of years. One knows it then for a moment or so." (p. 256)


Frances Hodgson Burnett


O Jardim Secreto foi publicado pela primeira vez nos Estados Unidos em formato serial em 1910 e publicado como livro em 1911 em Nova York e Londres. Frances Hodgson Burnett nasceu em 24 de novembro de 1849 na Inglaterra. Em 1865, depois da morte de seu pai, sua família imigrou para os Estados Unidos, onde Frances morou por muitos anos. Frances casou-se com Swan Burnett em 1872 e com o marido morou em Paris por dois anos, onde tiveram dois filhos, antes de retornar aos EUA, onde se fixaram em Washington D.C. Em 1898, os dois se divorciaram. Frances casou-se novamente em 1900, mas se divorciou outra vez dois anos mais tarde. Frances morreu em 1924 aos 74 anos de idade.


No final dos anos 1890, Frances morou por quase dez anos em Great Maytham Hall, uma mansão em Kent, Inglaterra, antes de voltar aos Estados Unidos em 1902. Este local inspirou a criação de O Jardim Secreto, principalmente o jardim fechado que fazia parte da propriedade em Kent. Great Maytham Hall é simplesmente fabuloso! Eu iria amar passar uma temporada nesta linda casa e explorar os magníficos jardins. Não é a toa que Frances criou uma história tão encantadora após ter passado tanto tempo morando neste lugar incrível! Atualmente, é possível visitar o local. Mais informações podem ser encontradas neste site.

Great Maytham Hall

A primeira adaptação cinematográfica de O Jardim Secreto foi feita em 1919, porém este filme, infelizmente, se perdeu. Em 1975 a BBC fez uma série em sete partes. Duas versões muito conhecidas são as de 1993, que comentei anteriormente, e a versão em desenho animado de 1994. Também me lembro de ter assistido a este desenho diversas vezes quando criança! Mais recentemente, uma notícia quentíssima me deixou muito animada: o produtor e diretor de alguns filmes da saga Harry Potter, David Yates, vai dirigir uma nova versão de O Jardim Secreto. Por enquanto, ainda não há muitos detalhes disponíveis sobre a produção. Nos resta esperar ansiosamente!

Filme de 1993


Espero que tenham gostado desta publicação sobre um dos meus livros preferidos, considerado por muitos um dos melhores livros infanto-juvenis do século XX. Quem ainda não conhece Mary Lennox, Dickon, Colin e o jardim secreto, tenho certeza que vai se encantar também com esta história mágica!

Um ótimo domingo a todos e, claro, ótimas leituras!

Fernanda

sexta-feira, 17 de junho de 2016

"O Cortiço", Aluísio Azevedo

Olá, pessoal!

Eu venho aqui (com um terrível atraso!) compartilhar a minha experiência lendo O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Esta leitura fez parte do desafio literário de abril, que era ler um livro nacional. Este livro já estava na minha lista de leituras há muuuito tempo! Desde o período de faculdade, quando um grupo apresentou um trabalho sobre este livro e me instigou! Pois fim, eis que o desafio literário de abril me fez cumprir a minha promessa pessoal de ler este livro.

O Cortiço foi escrito por Aluísio Azevedo e publicado pela primeira vez em 1890. Influenciado pelos franceses Émile Zola e Gustave Flaubert, Azevedo trouxe para o Brasil uma vertente do realismo chamada de naturalismo. Inspirados pelos novos conhecimentos científicos de fins do século XIX, os romances naturalistas partiam do pressuposto de que o homem é definido pelo meio em que vive. Ademais, os romances naturalistas esbanjavam linguagem coloquial falada - bastante inovador para a época -, e tratavam de temas como sexo, sordidez humana, violência, loucura, etc.

O Cortiço é um retrato da área menos favorecida no Rio de Janeiro de fins de século XIX. Os personagens que habitam o cortiço do João Romão, português que vivia com uma mulata brasileira, personificam diversos desses temas, como a mulata sensual Rita Baiana, o agressivo Firmo, a prostituta Léonie, a recatada Pombinha que mais tarde se entrega à prostituição, as lavadeiras, o português trabalhador Jerônimo que se deixa seduzir por Rita e acaba em perdição, sua mulher Piedade que se entrega ao alcoolismo após ser abandonada... enfim, uma grande miríade de personagens!

Personagens de O Cortiço

Ao mesmo tempo que estes personagens moram no cortiço, há um contraponto destes com os moradores do sobrado de Miranda, erguido junto à parede do cortiço. Miranda é um português que veio fazer fortuna no Brasil com sua esposa infiel Dona Estela e sua filha Zulmira. Ele recebe o título de barão e faz inveja ao seu vizinho, João Romão, que, apesar de rico, não participa da alta sociedade e nem recebe títulos nobres como Miranda. Cresce, então, uma disputa entre os dois portugueses.

Conforme os personagens vão se inter-relacionando, a trama vai ficando mais interessante e sórdida. Jerônimo se apaixona por Rita, deixando Firmo enciumado e abandonando sua mulher Piedade. Firmo, como vingança, agride Jerônimo. Pombinha se casa com o seu pretendente, mas percebe que prefere a vida de prostituta rica da sua protetora Léonie. João Romão pretende se casar com a filha do Miranda, Zulmira, para se apossar da fortuna de Miranda, mas, para isso, deve se livrar de Bertoleza, a mulata ex-escrava com quem viveu muitos anos.




Aos poucos, percebemos que os personagens perdem sua individualidade e se tornam um todo. Juntos, eles formam o cortiço, que poderíamos dizer ser o personagem principal desta trama, que dá título ao livro.


Confesso que ao iniciar a leitura, me senti um pouco desapontada, pois esperava mais de O Cortiço. No entanto, o leitor precisa de um tempo para se acostumar aos tantos nomes dos moradores e suas características, seus desejos e medos, para que, enfim, se possa tirar maior proveito da leitura. Assim que me vi envolvida com as tramas e sub-tramas deste intricado universo, me prendi de tal modo aos personagens que gostaria de saber como continuaram as vidas de cada um após a última página.

Um ponto muito positivo da escrita de Azevedo, mas que pode gerar certo estranhamento e desconforto proposital ao leitor, é a maneira como ele descreve lugares e pessoas sem rebuscamento ou idealizações, mas de forma nua e crua. As comparações e metáforas utilizadas por Azevedo são simplesmente sensacionais. Escolhi aqui um trecho como forma de ilustração. Neste momento do romance, Piedade - sem dinheiro e sem a ajuda do marido que a desertou - se mudou com a filha para o cortiço vizinho, chamado "Cabeça-de-Gato":

"E a mísera, sem chorar, foi refugiar-se, junto com a filha, no 'Cabeça-de-Gato' que, à proporção que o São Romão se engrandecia, mais e mais ia-se rebaixando acanalhado, fazendo-se cada vez mais torpe, mais abjeto, mais cortiço, vivendo satisfeito do lixo e da salsugem que o outro rejeitava, como se todo o seu ideal fosse conservar inalterável, para sempre, o verdadeiro tipo da estalagem fluminense, a legítima, a legendária; aquela em que há um samba e um rolo por noite; aquela em que se matam homens sem a polícia descobrir os assassinos; viveiro de larvas sensuais em que irmãos dormem misturados com as irmãs na mesma lama; paraíso de vermes; brejo de lodo quente e fumegante, de onde brota a vida brutalmente, como de uma podridão" (p. 217)




É preciso dizer mais?

Aluísio Azevedo
Aluísio Azevedo nasceu em São Luís, Maranhão, em 14 de abril de 1857, e morreu na Argentina em 21 de janeiro de 1913, aos 55 anos. Além de escritor, Azevedo trabalhou como jornalista, desenhista, pintor, caricaturista e diplomata. Em 1876, ele mudou-se para o Rio, onde estudou na Academia Imperial de Belas-Artes. Seu primeiro livro publicado foi Uma Lágrima de Mulher, em 1879. Em 1881 publicou O Mulato, livro que escandalizou a sociedade com o seu retrato nu e cru da escravidão no Brasil, deixando transparecer o seu ideal abolicionista; mas sua principal obra foi O Cortiço, que também causou furor na sociedade de fins do século XIX.

O Cortiço já foi adaptado para o teatro diversas vezes e em 1978 para o cinema com Betty Faria, Armando Bógus, Mário Gomes e Beatriz Segall. Ainda não tive a oportunidade de assistir a este filme, mas tenho muito curiosidade em ver como o diretor adaptou esta intricada trama de Azevedo, se bem que o romance é repleto de sub-tramas, o que daria uma boa telenovela!


Filme de 1978


Um ótimo final de semana a todos e ótimas leituras!

Fernanda


Calendário Literário - Junho

Bom dia, queridos leitores!


Peço desculpas por este hiato de um mês nas publicações do blog, minha vida tem estado uma loucura! Minha defesa de mestrado está marcada para o mês de agosto e, por isso, tenho estado mergulhada neste projeto. Porém, como toda leitora de carteirinha que se preze, eu não abandonei as minhas leituras prazerosas, apenas não tenho tido tempo para compartilhá-las com vocês por aqui. Aos poucos, vou deixando tudo em ordem! :)


Já estamos em meados de junho, mas o desafio literário deste mês já começou! Lembrando que estou seguindo o Calendário Literário 2016 criado por Vitor Martins. Quem tiver interesse, pode acessá-lo clicando aqui.


O desafio do mês de junho, como não poderia deixar de ser, é ler um romance! Confesso que este não é o meu gênero literário favorito. Até mesmo passando por minhas estantes de livros, é difícil encontrar algum! Como os leitores que acompanham o meu blog devem ter percebido, eu sou fã de fantasia, histórias sobrenaturais, romances históricos e aventuras medievais!

Porém, o objetivo do Calendário Literário é justamente este: nos apresentar a leituras que normalmente não faríamos, deixando a nossa zona de conforto e, muitas vezes, descobrindo agradáveis surpresas no percurso.

Por isso, fiz a minha escolha! A minha leitura para o desafio literário do mês de junho será O Beijo de Chocolate, da escritora norte-americana Laura Florand. As primeiras linhas da sinopse na contracapa do livro já me fisgaram:

"Na pequena Île Saint-Louis, no coração da romântica Paris, esconde-se uma casa de chá especial e mágica: La Maison de Sorcières. As tias Aja e Geneviève confiaram em sua jovem sobrinha Magalie para ajudá-las na empreitada de encantar os clientes com doces e bebidas que são literalmente feitiços - em especial, o inexplicável chocolate quente de Magalie"

Paris? Casa de chá? Magia? Chocolate quente? Estou dentro!

Estou bastante animada com esta leitura, que normalmente não seria a minha escolhida, já que tenho tantos outros livros na fila de leitura há muito mais tempo. Mas são essas aventuras inesperadas que tornam a leitura ainda mais prazerosa!



Logo que tiver um tempinho, venho aqui para compartilhar com vocês minhas experiências lendo este e outros livros, como O Cortiço, de Aluísio Azevedo, que fez parte do desafio de abril, e O Jardim Secreto, que fez parte do desafio de maio.

Uma ótima sexta-feira a todos e ótimas leituras!

Fernanda