domingo, 25 de abril de 2021

"Manfield Park", Jane Austen

 Olá, queridos leitores!


Hoje venho compartilhar com vocês a minha mais recente leitura: Mansfield Park (1814), de Jane Austen. Austen está entre as minhas autoras preferidas, e há tempo venho me familiarizando com a sua obra. Dos seus seis romances completos, li quatro: Razão e Sensibilidade (1811), Orgulho e Preconceito (1813), Emma (1815) e Northanger Abbey (escrito em 1803, mas publicado postumamente em1818). Desta vez, li Mansfield Park, o romance mais longo e - na minha opinião - mais sóbrio de Jane Austen.


Diferente das heroínas dos primeiros livros de Austen (Marianne Dashwood, Elizabeth Bennet e Catherine Morland), a protagonista de Mansfield Park, Fanny Price, é uma jovem quieta, tímida e passiva - ela tem pouca ou nenhuma agência sobre as suas ações e comportamento, alegrando-se ou sofrendo em silêncio. Fanny é a filha mais velha da família Price. Sua mãe casou-se abaixo da sua condição social e, devido ao número de filhos e despesas, sofre com seu marido para manter a casa. A Sra. Price tem duas irmãs, Sra. Norris e Lady Bertram, que vivem uma situação melhor devido as suas escolhas de casamento. Lady Bertram é casada com Sir Bertram, tem quatro filhos (Thomas, Edmund, Maria e Julia) e mora na majestosa Mansfield Park. Como uma maneira de auxiliar a sua irmã, Lady Bertram convida Fanny a morar em Mansfield Park, que se torna uma companheira e ajudante de sua tia. Fanny tinha apenas 10 anos quando se mudou, deixando a simplicidade do seu lar para trás e aprendendo a viver em um mundo de boas maneiras e luxo. Sua natureza humilde e honesta não a deixa esquecer suas origens, no entanto, sendo muito grata aos seus tios pela oportunidade que lhe ofereceram de uma educação superior. 

Fanny sewing (artist C E Brock, 1908)


Os anos se passam e Fanny já é uma jovem mulher. Seus primos praticamente a ignoram, deixando-a em seus cômodos - cuja lareira estava sempre sem lenha para não acostumá-la com o luxo incompatível com sua proveniência. Quem se certificava de que Fanny não recebia nenhum agrado dispensável era sua terrível tia Norris, uma viúva que se gabava de viver sempre em economia. A única pessoa em Mansfield Park que dava atenção a Fanny era seu primo Edmund, por quem Fanny secretamente desenvolveu sentimentos amorosos - mesmo que ele apenas a enxergasse como uma irmã.


Um dia, durante a ausência do Sir Bertram, que estava cuidando de seus negócios em Antígua, a família recebeu a visita de novos vizinhos: os jovens irmãos Mary e Henry Crawford, vindos de Londres. Eles trouxeram consigo a energia e criatividade da cidade, que contrastava com a pacatez de Mansfield. Tom, Maria e Julia logo se animaram com a presença dessas figuras e foram convencidos a montar uma peça de teatro. Esta parte do romance é muito interessante, pois ilustra bem a maneira como os Crawford desestabilizam a harmonia da casa, trazendo caos e agitação aos moradores. Participar de uma peça teatral e atuar - principalemente em uma peça de amor, como eles queriam - era considerado imoral pelos mais conservadores. Edmund e Fanny foram contra, sabendo que Sir Thomas desaprovaria a atividade. Contudo, Edmund, mais e mais cativado pela beleza e simpatia de Mary Crawford (o completo oposto de Fanny), se deixa levar e se une ao projeto. Fanny fica chocada como o galante Henry Crawford flerta abertamente com suas primas, mesmo sabendo que uma delas estava prometida ao Sr. Rushworth. Mansfield Park vira de pernas para o ar enquanto os jovens a transformam em um enorme palco, até que a volta repentina de Sir Bertram põe um fim ao espetáculo. 

Mary Crawford


Fanny Price e Henry Crawford
Porém, a harmonia de Mansfield Park se quebrou e a teatricalidade da atmosfera teatral improvisada tomou conta da vida e relações amorosas dos moradores e visitantes. Depois da oportunidade de atuar diferentes papéis e de refletir, mesmo que inconscientemente, sobre diferentes possibilidades, ninguém é mais o mesmo - com exceção de Fanny, que permanece resoluta em seus princípios morais. Sir Bertram percebe o valor de sua sobrinha e a faz se sentir mais e mais um membro da família e residente de Mansfield Park. 


O poder de Fanny é o poder da estabilidade - enquanto os outros personagens se perdem em conflitos de amor, casamentos infelizes e fugas irracionais, Fanny permanece correta e humilde. Sua paciência é testada quando o galanteador Henry Crawford quer fazê-la apaixonar-se por ele e Mary Crawford se aproxima mais e mais do seu amado Edmund. Apesar de não ser vivaz e espirituosa como Elizabeth Bennet ou Emma Woodhouse, Fanny Price consegue sua recompensa por se manter fiel a seus padrões morais e a sua família em Mansfield Park.


Eu devo confessar que a leitura desse livro foi um tanto quanto arrastada, bem diferente dos outros livros de Austen que eu li. Os parágrafos são longos e há poucos diálogos. O enredo fica mais empolgante durante as preparações para a peça teatral e no final do livro, quando há uma intensa troca de cartas entre Fanny e outros personagens. Porém, no restante do romance, o leitor chega a ficar incomodado com os princípios inabaláveis de Fanny e sua falta de energia ou criatividade, que prefere a quietude e imobilidade do campo à mutação e novidade da cidade, personificados por Mary e Henry.



Jane Austen
O editor de Manfield Park da Penguin English Library, Tonny Tanner, afirma que esse livro foi escrito em uma fase diferente da vida da autora. Depois de se mudar da casa onde nasceu após a morte do seu pai e de ter sofrido uma desilusão no amor após a morte repentina de um pretendente, Jane Austen se tornou mais sóbria, tem uma relação menos idealizada com o amor e, ao ver o seu país mudando drasticamente com a revolução industrial, reflete sobre a influência dos vícios do ambiente urbano na moral humana.

Espero que vocês tenham gostado dessa dica de leitura.


Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!


Fernanda