quarta-feira, 20 de setembro de 2017

"Assassinatos na Academia Brasileira de Letras", Jô Soares

Olá, pessoal!

Hoje venho compartilhar com vocês a minha mais recente leitura, Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, de Jô Soares.

Eu me apaixonei pelo trabalho de Jô Soares como escritor quando eu li pela primeira vez O Xangô de Baker Street, o quarto livro escrito pelo autor e publicado em 1995. O Xangô se passa no Rio de Janeiro do século XIX e ninguém menos que Sherlock Holmes vem para as terras tropicais do Rio para desvendar assassinatos envolvendo um violino Stradivarius. Eu sou apaixonada por histórias que se passam no Rio do século XIX e me envolvi muito com a trama de Jô.

Quem tiver interesse em conhecer mais esse livro, a resenha feita aqui no blog pode ser acessada aqui:

http://www.oprazerdaliteratura.com.br/2015/02/o-xango-de-baker-street-jo-soares.html


Mas o tema de hoje é outro livro de Jô, publicado dez anos mais tarde, em 2005, e ambientado no Rio de Janeiro da década de 1920.
O ano é 1924, o luxuoso Copacabana Palace acaba de ser inaugurado e a sociedade carioca está em alvoroço porque um imortal da Academia Brasileira de Letras foi assassinado na noite de sua posse. E o pior é que o assassino não para por aí, e os demais 39 acadêmicos correm risco de vida.

A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 20 de julho de 1897 nos moldes da Academia Francesa de Letras por escritores como Machado de Assis, Olavo Bilac, Graça Aranha, Visconde de Taunay, Ruy Barbosa, entre outros. Seu objetivo é cultivar e preservar a língua portuguesa e a cultura brasileira. Em 1923 (um ano antes da data em que se passa a história de Jô Soares), o governo francês doou à Academia Brasileira de Letras uma réplica do Petit Trianon de Versalhes, construído para a Exposição do Centenário da Independência do Brasil. A Academia está instalada lá até os dias de hoje.

Caso queira conferir os membros passados e atuais da ABL, é só clicar aqui.


Sede da Academia Brasileira de Letras, Petit Trianon, no Rio de Janeiro

Quem fica encarregado de solucionar os crimes é o comissário Machado Machado, assim chamado devido ao amor de seu pai por Machado de Assis. O comissário é, também, um apaixonado das letras, e se interessou pelos "Crimes do Penacho", como ficaram conhecidos na mídia, pelo envolvimento de escritores e intelectuais. Ele herdou o amor à Machado de Assis, fundador da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, e cita trechos de sua obra de cor, surpreendo os outros aos seu redor.


Copacabana Palace quando da sua inauguração em 1923

Catherine Deshayes
A história dos assassinatos é atrativa, mas o que mais me chamou atenção nesse livro foi o plano de fundo. Adorei conhecer mais do Rio da década de 20. Jô Soares menciona diversos estabelecimentos que existiram de verdade, como o Teatro São José (e a influência do teatro francês e das féeries), fundado em 1813, Café Lamas, fundado em 1874, os bondes de Santa Teresa, entre outros.

Jô também cita uma seita de envenenadores que data dataria Idade Média, Veneficorum Secta. Não há registros de que essa seita tenha mesmo existido, mas algumas pessoas que Jô cita que teriam participado dessa seita existiram na realidade, como Catherine Deshayes, dita La Voisin, considerada uma feiticeira francesa do século XVI. 

Apenas duas coisas me incomodaram nesse livro de Jô Soares. A primeira foi o fato de todas as mulheres da trama sentirem uma atração incontrolável pelo comissário Machado Machado. Acho isso difícil de acreditar. E o fato de que lá por 3/4 do livro, eu já imaginava quem seria o assassino. Esperei por uma reviravolta ao final do livro, mas ela não aconteceu.

De qualquer forma, foi uma leitura rápida e muito prazerosa, além de ter enriquecido meu conhecimento sobre o Rio da década de 1920 e sobre a própria Academia Brasileira de Letras. Recomendadíssimo!


Rio de Janeiro na década de 1920



Jô Soares
Além de O Xangô de Baker Street e Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, Jô Soares (1938-) já publicou outros 5 livros. Já tenho As Esganadas (2011) em casa, mas estou mais animada para ler O Homem que Matou Getúlio Vargas (1998) e conhecer melhor o Brasil da década de 1950.

Uma ótima semana a todos e, claro, ótimas leituras!

Fernanda


sexta-feira, 15 de setembro de 2017

"A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra", Robin Sloan

Bom dia, queridos leitores!

Hoje eu estou de volta para comentar com vocês a minha última leitura, "A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra", do norte-americano Robert Sloan.
Confesso que primeiramente me senti atraída a ler esse livro pela capa! Eu simplesmente amo livros com livros na capa! O trecho do livro publicado na contracapa também me aguçou a curiosidade:

"Perdido nas sombras das estantes, quase caio da escada. Estou exatamente no meio do caminho. O chão da livraria está bem longe de mim, a superfície de um planeta que deixei para trás. O topo das estantes está bem próximo,e é escuro por lá."

É justamente com essas palavras que o livro inicia. Ele é contado em primeira pessoa por Clay Jannon (adoro livros contados em primeira pessoa!), um webdesigner que, devido à recessão nos Estados Unidos, perdeu seu emprego e se viu obrigado a trabalhar em uma livraria 24 horas. E pior, no turno da madrugada, das 22:00 às 6:00!

O dono dessa livraria peculiar é Mr. Penumbra, um velho de olhos azuis muito intensos. Ao contratar Clay, ele o faz apenas um pedido:

"- Fale um pouco sobre um livro que ame."

E Clay deu a resposta certa:

"- Eu amo As Crônicas da Balada do Dragão".

Assim, Clay começa a trabalhar nessa estranha livraria que atende ainda mais estranhos clientes. Eles são poucos, mas assíduos. E eles não se interessam pelos poucos lançamentos expostos na vitrine da loja, mas nos misteriosos volumes em capa de couro do Arquivo Pré-Histórico.

Uma cliente fora do normal em um dos turnos da madrugada de Clay foi Kat, uma jovem que trabalha no Google e entusiasta de novas tecnologias. Influenciado pelos interesses dela, Clay cria um protótipo em 3D da livraria do Mr. Penumbra, digitaliza o arquivo de entrada e saída e livros e acaba descobrindo um padrão singular. O que ele descobre é que os clientes esquisitos da livraria e o próprio Penumbra fazem parte de uma sociedade secreta, que busca desvendar um código escrito há mais de 500 anos. Será que a tecnologia do século XXI e os recursos do Google podem ajudar a desvendar esse mistério?
Ilustração por Laura Terry

O mistério dessa Irmandade envolve Aldus Manutius (1499-1515), um tipógrafo italiano, e Francesco Griffo (1450-1518), que também trabalhava com tipografia na Veneza do século XVI. Porém, no romance de Sloan, Francesco Griffo é transformado em Griffo Gerritszoon, o criador da fictícia fonte Gerritszoon. Eu acho muito interessante quando autores misturam fato e ficção. O importante é que o leitor, depois de terminada a leitura, não coloque o livro de volta na estante imediatamente, mas que busque mais informações sobre o que leu, diferentes opiniões na Internet, vídeo resenhas sobre o livro no YouTube... enfim, há tantos recursos hoje em dia e essa prática só enriquece a leitura!

Aldus Manutius

Eu gostei da leitura. O discurso principal do livro, na minha opinião, é o lugar e a importância da leitura e dos livros físicos na nossa era digital. E de quebra, há um código misterioso e uma sociedade secreta de bibliófilos. E também ficamos sabendo um pouco sobre o que acontece dentro do campus do Google em São Francisco.

Ilustração de Laurel Holden
Confesso que não era bem isso que eu estava esperando quando vi a capa do livro pela primeira vez e li a sinopse. A premissa do livro é bem interessante, mas a maneira como o autor escreveu poderia ser diferente. Os capítulos são divididos em trechos pequenos e nem sempre há um salto de tempo entre um e outro. Ou seja, eles funcionam como se fossem cenas em um filme. Porém, há casos em que essa divisão não era necessária. Às vezes sentia que estava lendo o roteiro de um filme ao invés de um romance escrito.

Também há várias referências à cultura atual, mas algumas me pareceram forçadas e com o intuito de fazer o leitor rir, como menções a magos adolescentes, ninjas inimigos, modo hamster de preparar para fugir, uma empresa digital especializada em criação e textura de seios 3D, uma história sobre um dragão cantor perdido no mar que pede ajuda a golfinhos e baleias e é resgatado por um anão sábio, entre outras. Algumas funcionam, mas outras não.

Mas, de modo geral, a leitura é prazerosa e dinâmica. Um bom livro sem muita pretensão para um final de semana chuvoso. Perfeito para quem gosta de livros e tecnologias mirabolantes!

Robin Sloan, autor do livro, nasceu em Detroit, nos Estados Unidos. Ele já trabalhou como programador (por isso a referência a esse universo em seus livros!) e atualmente escreve livros e produz azeite de oliva em Sunol, na Califórnia. "A Livraria 24 Horas do Mr. Penumbra" foi seu primeiro livro, publicado em 2012, e se tornou um best-seller mundial. Em 2013 ele publicou uma novela sobre Ajax Penumbra, o Mr. Penumbra, e sua juventude, intitulado "Ajax Penumbra 1969". Fiquei curiosa para ler esse! O Mr. Penumbra é, na minha opinião, o personagem mais instigante do romance! E neste ano de 2017, Sloan vai publicar o seu segundo romance, "Sourdough" (sem tradução ainda) sobre Louis Clary, uma jovem programadora que se muda para a Califórnia.

Robin Sloan

Espero que vocês tenham gostado dessa dica de leitura!

Um ótimo final de semana e ótimas leituras!

Fernanda


domingo, 10 de setembro de 2017

"O Último Reino", Bernard Cornwell

Boa noite, queridos leitores! Eu estou de volta!

Depois de um período de muito trabalho e leituras no mestrado de pesquisa em Estudos Literários na Universidade de Leiden, na Holanda, voltei ao Brasil! Como agora tenho mais tempo livre, poderei voltar a me dedicar ao blog! Outra novidade para os que ainda não souberam, tenho atualizado com frequência o meu canal no YouTube "O Prazer da Literatura". Convido a todos a conferir e se inscrever nesse canal, que administro com o maior carinho:


https://www.youtube.com/watch?v=HLyCJbUEeWQ

E agora... vamos à leitura de "O Último Reino", de Bernard Cornwell. Esse é o primeiro livro da saga "Crônicas Saxãs", que já estava na minha lista de leitura há muito tempo. Eu sou apaixonada por romances históricos e por livros que me levam a conhecer o passado de certos lugares, como a Inglaterra - país pelo qual fiquei encantada desde meu primeiro contato com a série "Harry Potter". Nas "Crônicas Saxãs", Cornwell nos leva de volta à Inglaterra Anglo-Saxã, no século IX, durante as invasões dinamarquesas e ataques Vikings.





A história é contada em primeira pessoa por Uhtred, filho de Uhtred, de Bebbamburg. Quando ele ainda era uma criança, a fortaleza de Bebbamburg, governada por seu pai e localizada na região da Nortúmbria, foi atacada por dinamarqueses ferozes, liderados por Ragnar. Seu pai é morto durante a batalha e Uhtred é tomado pelos dinamarqueses. Mesmo sendo uma criança, Uhtred avança contra Ragnar, que se diverte com a audácia do menino e decide levá-lo junto com os dinamarqueses, que estão tomando toda a Inglaterra,

Naquela época, a Inglaterra era dividida em sete reinos: Nortúmbria, Mércia, Ânglia Oriental, Essex, Kent, Sussex e Wessex. No período em que as "Crônicas Saxãs" se passam, século IX, seis reinos já haviam sucumbido ao poder dos dinamarqueses, com exceção de Wessex, o último reino - daí o título do primeiro volume da série.







Uhtred é levado pelos dinamarqueses e, então, tem uma juventude pagã. As crenças cristãs que ele havia aprendido em Bebbamburg entram em conflito com os novos ensinamentos pagãos que ele aprende com os dinamarqueses, principalmente com Ragnar - que o adota como se fosse um verdadeiro filho - e seu pai, o cego sábio Ravn. Porém, apesar de Uhtred se considerar um dinamarquês, seu coração ainda é inglês e pertence a Bebbamburg, que ele quer recuperar da posse ilegítima do seu tio.

Com a morte de Ragnar, não há nada mais que o prenda aos dinamarqueses, então ele, acompanhado de Brida - outra prisioneira inglesa que se adaptou aos costumes nortenhos - parte para Wessex para encontrar-se com o Rei Alfredo, auxiliá-lo contra as invasões de Ubba, um feroz dinamarquês, e retomar o que é seu por direito.


Rei Alfredo de Wessex

Eu achei a leitura desse primeiro volume muito prazerosa. Apesar de conter fatos históricos, a leitura é bem dinâmica, e como George Martin afirma na contracapa do livro, apresenta "as melhores cenas de batalha de qualquer escritor que eu já tenha lido, passado ou presente". As cenas de batalha são mesmo fantásticas, prendendo a atenção do leitor até o último parágrafo. Estou curiosíssima para ler a continuação da saga com "O Cavaleiro da Morte", o segundo volume.






Essa saga de Cornwell está sendo adaptada para a televisão em uma série da BBC. A primeira temporada estreou em 2015 e a segunda em 2017, com co-produção da Netflix. Quem interpreta Uhtred é o lindíssimo Alexander Dreymon. David Dawson interpreta o Rei Alfredo, Peter Gantzler é Ragnar, Rune Temte é Ubba, e Emily Cox interpreta Brida.




Assisti aos primeiros episódios da primeira temporada e devo dizer que fiquei um pouco desapontada. A produção deixou a desejar - não é nada aos padrões de "Vikings" ou "Game of Thrones". E, na minha opinião, há um uso excessivo de câmera subjetiva - quando a câmera acompanha o olhar de um personagem - e de câmera em movimento, o que me deixa um pouco tonta!
A ordem dos eventos no livro foram modificados. Muitos dos acontecimentos que ocorreram com Uhtred como criança foram transmitidos ao jovem Uhtred - já que, convenhamos, o jovem Uhtred é muito mais atrativo do que a criança! Isso não é necessariamente um ponto negativo.
O que me desapontou profundamente foi o papel de Ragnar na série. No livro, Ragnar (que, aliás, não é o mesmo Ragnar de "Vikings"!) é muito engraçado, tem paixão por batalhas e tem uma grande afeição pelo jovem Uhtred. Essa relação entre Uhtred e Ragnar, que é tão legal no livro, foi totalmente perdida na série, a meu ver.
De qualquer forma, vou continuar a assistir a série e espero que ela seja renovada para a terceira temporada!

Alexander Dreymon como Uhtred
Bernard Cornwell

Bernard Cornwell, o autor da saga, nasceu em Londres em 1944 e é um dos maiores escritores de romance histórico da atualidade. Além de escrever sobre a Inglaterra Anglo-Saxã, Cornwell também escreveu uma série de livros sobre o lendário Rei Artur, sobre a busca do Graal, sobre a batalha de Waterloo, entre outros temas.

Espero que tenham gostado dessa dica de livro. Tenho certeza de que irão gostar, principalmente os apaixonados por história antiga, como eu!

Um ótimo domingo a todos e ótimas leituras!

Fernanda