Vocês conseguiriam imaginar uma sociedade no futuro em que de um dia para o outro as mulheres são obrigadas a deixar seus trabalhos, suas contas bancárias são automaticamente transferidas ao parente mais próximo do sexo masculino, todos os segundo casamentos e uniões não oficializadas são anulados e o único papel social da mulher passa a ser a procriação?
É neste contexto fictício que a escritora canadense Margaret Atwood nos conta a história de uma dessas mulheres que se tornou uma aia. As aias era mulheres solteiras e férteis que eram distribuídas entre as casas dos Coronéis e pessoas de alta influência para que lhes dessem um filho, que seria criado pela Esposa do Coronel. Depois que seu trabalho estivesse concluído ali, a aia era direcionada a outra casa de família para presenteá-los com a dádiva da procriação.
As aias vestiam-se inteiramente de vermelho com roupas muito conservadoras, seu corpo não deveria ser exposto, elas usavam luvas, um chapéu branco de abas largas na cabeça para esconder o rosto, eram proibidas de ler, escrever ou manter relações afetivas com ninguém.
O interessante de O conto da aia é que é uma aia, Offred (em inglês a preposição of significada de, portanto as mulheres perdiam o seu nome original e passavam a ser de alguém, neste caso de Fred, o Coronel), quem conta a história. Através de sua perspectiva e suas memórias, o leitor vai aos poucos descobrindo como esse regime totalitário e repressor do sexo feminino se instaurou, as características desta nova forma de governo e as punições para quem sair da linha. Ao mesmo tempo, lemos com o coração apertado a história dessa mulher, graduada na universidade e que trabalhou por muitos anos, que perdeu a sua identidade e busca sua própria essência dentro de si, se é que ela ainda está lá. É a busca da liberdade, da satisfação através de desejos que nos parecem míseros, como uma boa refeição, ou caminhar sozinha, ou calçar um par de sandálias e sentir o vento nos cabelos. Nós, leitores, passamos a olhar para a nossa própria realidade com outros olhos.
O conto da aia me instigou muito, eu devorei as mais de trezentas páginas. Mesmo caindo de sono e com as pálpebras pesando, eu precisava ler mais um pouco, precisava saber o que aconteceria a Ofglen e à sociedade como um todo. O que aconteceria com as mulheres deste local? Elas se rebelariam? Alcançariam sucesso ou seriam todas mortas ou severamente punidas?
Deixo essas questões a você, leitor, e espero que tenha se animado a ler este romance genial de Margaret Atwood, uma premiada autora canadense. Atwood nasceu em Ontário em 18 de novembro de 1939 e hoje com 76 anos ainda permanece ativa em sua prolífica carreira literária. Ela já escreveu romances, poesia, contos, livros de não-ficção e livros infantis. Além de O conto da aia, publicado em 1985, outras obras que se destacam são Olho de Gato (1988), A Odisseia de Penélope (2005) e O ano do dilúvio (2009).
Margaret Atwood |
Para minha felicidade, descobri que O conto da aia foi adaptado para o cinema em 1990, com Natasha Richardson no papel de Offred, Robert Duvall como o Coronel e Faye Dunaway como a Esposa. Ele já está em minha programação para o fim de semana!
Espero que tenham gostado da publicação e que o livro de Margaret Atwood os leve a refletir.
Um abraço a todos e ótimas leituras!
FernandaF