domingo, 24 de maio de 2020

"Silas Marner", George Eliot

Olá, queridos leitores!

Hoje venho compartilhar com vocês a minha última leitura, Silas Marner, o Tecelão de Raveloe, de George Eliot. Como os meus estudos de doutorado estão inseridos na produção artística da Inglaterra do século XIX, eu procuro ler as principais obras literárias desse período para ampliar o meu repertório cultural e meu entendimento da Inglaterra Vitoriana, o que inclui, certamente, o legado da grande George Eliot.

George Eliot
Apesar do nome George Eliot sugerir uma figura masculina, George Eliot era uma mulher, nascida Mary Ann Evans em 22 de novembro de 1819 em Nuneaton, uma cidade no norte de Warwickshire, Inglaterra. George Eliot foi o seu pseudônimo escolhido para publicar as suas obras. Como já discutimos aqui no blog, a situação para mulheres escritoras no século XIX não era nada fácil e uma das estratégias encontradas por elas foi o uso de pseudônimos masculinos, como, por exemplo, as irmãs Brontë, ou a publicação anônima, como Jane Austen e Mary Shelley.

Outro motivo para desejar permanecer incógnita era que Eliot mantinha uma relação amorosa com o filósofo e crítico literário e teatral George Henry Lewes, que já era casado. Os dois mantiveram um relacionamento por mais de vinte anos e chegaram a morar juntos abertamente.

Silas Marner foi o terceiro romance publicado por Eliot. Ela decidiu voltar a escrever sobre a Inglaterra rural dos últimos anos do século XVIII e início do XIX enquanto ela ainda trabalhava no grandioso Romola, publicado em série na revista Cornhill Magazine entre Julho de 1862 e Agosto de 1863, e que se passa na Florença do século XV. Silas Marner, com centenas de páginas a menos, foi publicado em volume único em 1861.

O protagonista do romance é o tecelão de linho Silas Marner, que, no início da narrativa, se estabelece na pequena Raveloe. O leitor descobre que Silas havia sido acusado erroneamente de ter roubado os fundos da igreja em Lantern Yard, onde morava anteriormente e onde era respeitado pela comunidade. Silas havia sido vítima de uma conspiração do seu melhor amigo, que invejava o seu papel na comunidade e o seu relacionamento com a jovem Sarah. A igreja da qual faziam parte, uma pequena e conservadora congregação religiosa calvinista, acreditava que Deus ficaria do lado da parte inocente e, durante o processo de investigação do roubo, que tem como base uma espécie de sorteio, Silas é condenado como culpado. Sarah se desencanta com Silas e decide se casar com o seu melhor amigo. Desiludido com sua vida e com um Deus que lhe considerou falsamente culpado, Silas se muda para Raveloe, onde vive uma existência completamente isolada de todos, de domingo a domingo trabalhando sem parar no seu tear. A população de Raveloe o vê com suspeita e as crianças até mesmo tinham medo de passar em frente a sua casa.

Ilustração de Hugh Thomson
Eis, então, que com o passar dos anos, Silas acumula uma grande quantidade de ouro, já que ele trabalhou incessantemente por um longo período e tinha poucos gastos, vivendo uma vida simples e econômica. Seu único consolo era passar as noites em frente ao fogo da lareira, contando a sua pilha de moedas de ouro e prata. Porém, em uma noite de chuva, ao retornar para a sua humilde casa, Silas percebe que o seu dinheiro havia sido roubado, e o seu único de desejo de viver extinguido. Após a fase inicial de desespero, Silas passa a existir, apenas, dia após dia. Até que, por fim, uma visita inesperada muda a sua vida.

Em uma noite fria, uma pobre mulher, Molly, caminha pelas ruas geladas de Raveloe com sua filha de dois anos no colo, abandonada pelo seu marido Godfrey Cass, filho de um importante homem da comunidade e proprietário de terras em Raveloe. Godfrey está arrependido de sua conexão com essa mulher de baixo nível, viciada em ópio, e que o impede de se casar com a bela e inocente Nancy Lammeter. Molly pretende se vingar do seu marido, que neste momento se divertia em uma festa no salão do seu pai enquanto ela passa por dificuldades e desprezo. Ela quer contar a todos a verdade sobre o seu casamento com Godfrey, mas, antes que ela possa completar a sua vingança, ela perece de frio e overdose de ópio em uma viela. A pequena criança órfã de mãe vê a luz do fogo vindo do casebre de Silas Marner, e é para lá que ela se dirige e é esta pequena menina que mudará para sempre o propósito de vida, as prioridades e crenças religiosas do tecelão.


Ilustração de Hugh Thomson
Silas Marner é uma leitura rápida, que te leva ao início do século XIX na área rural da Inglaterra. Porém, além de oferecer uma representação desse período e região, a narrativa oferece ao leitor uma relação com o protagonista, que sofre diversas perdas até poder encontrar o melhor presente da sua vida. O leitor sofre e cria esperanças juntamente com este protagonista, que reaprende a viver em sociedade e finalmente compreende a necessidade de amar e ser amado.


O livro se inicia uma epígrafe do poeta romântico William Wordsworth (1770-1850). Trata-se de um trecho do poema "Michael, a Pastoral Poem", publicado na edição de 1800 de Lyrical Ballads, e que conta a história de um velho pastor chamado Michael, sua esposa e seu único filho, Luke. Aqui está o trecho que inicia a narrativa de Eliot:



"A child, more than all other gifts
That earth can offer to declining man,
Brings hope with it, and forward-looking thoughts"
(Wordsworth) 

Minha tradução livre:


"Uma criança, mais do que qualquer presente
Que a terra  pode oferecer ao homem envelhecido,
Traz esperança e pensamentos que o levam ao futuro" 


Espero que tenham gostado de saber mais sobre esse livro de George Eliot. Eu já li outros dois títulos dessa grande autora, Middlemarch (1871-1872) e O Moinho à Beira do Rio Floss (1860) - ambos maravilhosos! Tenho certeza de que em breve lerei mais obras de George Eliot, um dos principais nomes da literatura vitoriana.

Um ótimo domingo a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda