segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

"Encontro de Marés", Manuela Marques Tchoe

Olá, queridos leitores!

Hoje venho compartilhar com vocês a minha mais recente leitura. Trata-se de Encontro de Marés, da escritora brasileira Manuela Marques Tchoe. Manuela nasceu no Brasil, mas mora na Alemanha há muitos anos e escreve sobre relações entre culturas, tema que pervade, também, os seus contos na coletânea Ventos Nômades, publicada em 2018. Eu fiquei apaixonada pelo estilo de escrita de Manuela e fiquei muito feliz em ler o seu primeiro romance, publicado neste ano de 2019.

Eu simplesmente devorei Encontro de Marés, mas é preciso dizer que não é um livro fácil de ser lido, pois trata de temas difíceis de engolir, como a prostituição infantil, a violência nas favelas do Rio de Janeiro e Salvador, crimes contra mulheres e a corrupção da polícia. Porém, ignorá-los não significa que esses problemas não existam, e a escolha de Manuela de representá-los na literatura chama a atenção para a necessidade de combatê-los. Ler a narrativa de Rosa em primeira pessoa nos faz sentir no próprio coração as angústias e traumas de uma criança violentada e da mulher que ela se torna, e incita no leitor a vontade de tomar alguma atitude a respeito.

Contudo, Encontro de Marés não é apenas uma denúncia de problemas sociais brasileiros. O livro mostra através de um olhar brasileiro que vive longe de sua terra algumas delícias daqui, como a culinária, as belezas naturais, a cultura dos orixás, a fé em Iemanjá, a solidariedade e o aconchego do contato humano.

Iemanjá
A narrativa tem três fios condutores principais: Mariana, uma brasileira adotada por alemães quando criança que retorna ao Brasil a trabalho e acaba sentindo um desejo de saber mais sobre suas origens e resgatar o seu passado; Teresa, uma dona de casa de Ouro Preto, casada com Augusto e com dois filhos, que não suporta a ideia de ver a sua filha Janaína se mudar para a capital para seguir a sua própria vida; e a narrativa de Rosa em primeira pessoa, que se inicia em 1980. Rosa é uma menina de 12 anos que vive com a sua avó Dalva e que é obrigada a deixar o conforto da sua casa e o amor de sua avó quando é raptada por seu pai, Benedito, o cafetão-mor da Bahia, que vende sua própria filha para a prostituição.

São as histórias dessas três personagens que dão dinamismo ao romance, intercalado por capítulos que nos contam um pouco de cada uma e nos levam ao passado e ao presente em uma trama que se encaixa perfeitamente. Somente no final o leitor descobre como as vidas dessas três mulheres estão intrinsecamente ligadas e como o destino permitiu que elas finalmente se reencontrassem.

Além da trama envolvente e do estilo de escrita caprichado, que varia em oralidade e regionalismo de acordo com a personagem que se expressa, cada capítulo é intitulado a partir de uma canção brasileira, como "Insensatez", de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, e "A Deusa dos Orixás", de Clara Nunes. Eu adorei essa escolha de Manuela que, além de dar uma brasilidade a mais para o texto, confere um ritmo e musicalidade à experiência de leitura. Que tal colocar "Garota de Ipanema" para tocar enquanto lê a chegada de Mariana ao Rio de Janeiro?

Manuela Tchoe

Manuela foi muito bem-sucedida neste primeiro romance e tenho certeza que estamos diante de um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea.

Espero que tenham gostado dessa dica de leitura.

Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda





sábado, 14 de dezembro de 2019

"A Besta Humana", Émile Zola



Olá, pessoal!

Hoje venho compartilhar com vocês a minha experiência lendo mais um clássico da literatura francesa: A Besta Humana (1890), de Émile Zola (1840-1902).

Em apenas duas palavras: Que livro! É, definitivamente, um romance perturbador, que explora a fundo a bestialidade da natureza humana. Se Madame Bovary (1856) causou furor quando da sua publicação (leia a resenha aqui), eu imagino como foi a reação dos leitores da época com o lançamento de A Besta Humana, trinta e quatro anos depois.

Émile Zola
Zola foi o grande precursor do Naturalismo na França, um ramo do movimento Realista da literatura de meados do século XIX. Sua obra O Romance Experimental (1880) é considerado o manifesto literário do movimento, que tem como premissa a observação e representação da realidade, o interesse pelo cientificismo e positivismo, e a crença que o homem é determinado pelo ambiente em que vive. A narrativa é impessoal, normalmente em terceira pessoa, e seus protagonistas geralmente fazem parte da classe trabalhadora e menos favorecida, retratando as condições sociais precárias em que vivem - como a exploração do trabalho em centros urbanos, a pobreza, a prostituição, o adultério, o desenvolvimento de doenças psicológicas, etc.
Em contrapartida ao Romantismo, que idealizava a relação do homem com a natureza e via o amor como algo sublime, no Naturalismo o homem passa a se relacionar com as criações da ciência e da modernidade, e as relações humanas são antes carnais do que amorosas.
Essas características também encontraram representatividade na literatura brasileira de fim do século XIX, principalmente através do seu maior expoente Aluísio Azevedo (1857-1913), autor de O Cortiço (1890). Para ler a resenha dessa obra brasileira aqui no blog, clique aqui.
Napoleão III da França

A Besta Humana faz parte do projeto literário de Zola que ele intitula Rougon-Macquart: História Natural e Social de uma Família sob o Segundo Império, série de vinte livros publicados entre 1871 e 1893 sobre a sociedade da época, na qual A Besta Humana é o livro de número 17. O próprio Zola disse que "os Rougon-Macquart personificarão a época, o próprio Império". Ele se referia ao período em que a trama se desenvolve, quando Napoleão III governou como Imperador da França de 1852 a 1870, e que chegou ao fim com a Guerra Franco-Prussiana, quando Napoleão foi capturado e deposto.
Rougon-Macquart é, de certa forma, similar ao projeto de Honoré de Balzac (1799-1850), A Comédia Humana - conjunto da obra de Balzac a partir de 1829, que inclui cerca de 95 títulos concluídos e 48 inacabados -, que buscou retratar a sociedade burguesa francesa à época da Restauração. Zola afirmou que a grande diferença entre os dois projetos é que o dele é menos social e mais científico, descrevendo uma família e as relações entre seus membros e determinados ambientes.

Árvore genealógica dos Rougon-Macquart

Jacques, um dos protagonistas de A Besta Humana, é filho de Gervaise Macquart e Auguste Lantier, cuja triste história é contada no sétimo volume da saga, L'Assommoir, ou A Taberna em português, publicado em 1876. É muito interessante como há essa recorrência de personagens e como eles estão relacionados entre si. Porém, cada volume da saga funciona como livro individual. Eu, por exemplo, comecei a minha leitura justamente por A Besta Humana, mas já tenho interesse em ler outros da série. Nem todos, contudo, já foram traduzidos para a língua portuguesa.

Jacques é um maquinista que conduz uma locomotiva, que ele chama de Lison, na linha Paris-Le Havre. O universo das locomotivas a vapor, das estações ferroviárias, dos trabalhadores da Companhia do Oeste e seus passageiros é onde a trama toda se passa. Assim como em O Cortiço, as vidas dos diferentes personagens de A Besta Humana se cruzam, transformando esse universo em um microcosmos de características próprias. Há ligações de negócios, de família, casos amorosos extraconjugais e fofoca entre vizinhos.

A locomotiva Lison

A locomotiva, uma besta metálica, é antropomorfizada no romance, onde é descrita com características humanas. O corpo da locomotiva é comparado ao corpo humano no seguinte trecho:

"À pobre Lison restavam apenas alguns minutos. Ela esfriava, as brasas da fornalha viravam cinza, o sopro que havia escapado tão violentamente das suas laterais abertas terminava como um suspiro de criança que chora. [...] Por um momento pôde-se ver, em suas entranhas arrombadas, funcionarem os órgãos, os pistões batendo como dois corações gêmeos, o vapor circular nas gavetas como o sangue nas veias." (p. 300)












Porém, assim como a besta de metal é humanizada, o ser humano é bestializado. O leitor é cruamente apresentado aos desejos mais sórdidos dos personagens: o maquinista Jacques não consegue sentir desejo carnal por uma mulher sem atiçar em si um desejo quase incontrolável de matar; o Sr. Roubaud, outro empregado da Companhia ferroviária, se torna extremamente agressivo com sua esposa em uma crise de ciúmes que o leva a cometer um crime irreparável; Séverine Roubaud, sua esposa, uma jovem e doce mulher, se deixa levar ao adultério pela paixão por Jacques e chega a arquitetar a morte de seu marido para enfim encontrar a liberdade; o presidente Grandmorin, grande personagem da política normanda, respeitado em sua carreira, mas cujo passado suja sua reputação; Flore, jovem prima de Jacques, levada pelo desejo por seu primo, ocasiona a morte de inúmeros inocentes. Enfim, a lista é longa! Nenhum personagem está isento de culpa. O romance mostra como o exterior muitas vezes esconde a bestialidade interna.

Simone Simon e Jean Gabin como Séverine e Jacques no filme de Jean Renoir de 1938

Outro tema presente no romance é a simultaneidade de eventos decisivos e banais, do extraordinário com o ordinário, do permanente com o fugaz, como os trens que continuam a seguir o seu percurso diário mesmo que um assassinato esteja sendo cometido próximo aos seus trilhos, e a solidão em meio à multidão, como ilustram os trechos abaixo sobre a vida de Tia Phasie, tia de Jacques, que morava em uma casinha bem em frente ao trilho do trem:

"No entanto, aquela ideia de multidão que os trens, indo e vindo, diariamente carregavam bem ali, à frente dela, no grande silêncio da solidão, deixou-a pensativa, olhando para a estrada de ferro, na noite que caía. [...]
Às vezes achava reconhecer alguns rostos, o de um senhor de barba alourada, provavelmente inglês, que toda semana fazia a viagem a Paris, e o de uma senhora morena, passando regularmente às quartas e sábados. Mas o trovão os levava embora, ela não tinha certeza de tê-los visto, todos os rostos se apagavam e se confundiam, iguais, dissipando-se uns nos outros. A torrente seguia, sem deixar nada de si. E o que a entristecia era que, por baixo daquele fluxo contínuo, sob o desfile de tanto conforto e tanto dinheiro, ninguém naquela multidão tão sôfrega sabia da sua presença ali, em perigo de vida. E isso a tal ponto que, se o marido a eliminasse uma noite, os trens continuariam a passar próximo ao seu cadáver, sem a menor noção do crime ocorrido no interior daquela casa solitária". (p. 60-61)



Esse livro não é para quem tem estômago fraco. Há menções explícitas à violência que me causaram bastante desconforto. Porém, não é uma violência gratuita, mas que induz o questionamento: a quais níveis de bestialidade o ser humano se deixa levar? E por quê?


Essa não foi uma leitura fácil, mas que certamente agregou - e muito - à minha experiência como leitora. Foi um dos meus livros favoritos de 2019.


Espero que tenham gostado dessa resenha sobre A Besta Humana e sobre o naturalismo de Zola.

Um ótimo final de semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

"Viagem ao Centro da Terra", Júlio Verne

Olá, queridos leitores!

Hoje venho compartilhar a minha mais recente leitura e que foi uma agradável surpresa: Viagem ao Centro da Terra, do francês Júlio Verne (1828-1905). Este livro estava na minha lista de leituras de clássicos para ler em 2019 e finalmente o tirei da estante! Fiquei muito feliz com a leitura e acredito que seja um dos meus favoritos do ano!


O livro começa de maneira muito atrativa, na minha opinião, principalmente pelo fato de um dos protagonistas ser um professor pesquisador e mineralogista, Prof. Otto Lidenbrock. Eu, professora, simplesmente amo histórias com professores, especialmente professores excêntricos como Lidenbrock! 


Prof. Otto Lidenbrock
"Era professor no Johannaeum e dava aulas de mineralogia, durante as quais se encolerizava regularmente uma ou duas vezes. Isso não quer dizer que ele se preocupasse em ter alunos assíduos às suas lições ou se importasse com o grau de atenção que lhe concediam em classe, nem mesmo com o êxito que pudessem obter em sua matéria. Tais pormenores não o preocupavam nem um pouco. Ele dava aulas 'subjetivamente', conforme expressão da filosofia alemã, para si e não para os outros. Era um sábio egoísta, um poço de ciência que não admitia que lhe tirassem nada. Numa palavra: um avarento" (p. 16)


O narrador é Axel, sobrinho do professor, que conta a história em primeira pessoa. Órfão, ele vive com o tio e o ajuda em seus experimentos e estudos. Os dois vivem em uma casa na Königstrasse em Hamburgo juntamente com Grauben, a afilhada do professor e de quem Axel está secretamente noivo, e a cozinheira Marta. 

A história se inicia no dia 24 de maio de 1863, um domingo, como afirma o primeiro parágrafo do livro. O que é muito interessante, dado que o livro foi publicado em novembro de 1864. Portanto, a expedição retratada no livro seria um evento recente para os leitores da época.

Neste dia, o professor chega em casa atipicamente cedo, deixando a cozinheira alarmada pelo fato de o jantar ainda não estar pronto. Porém, o professor está sem apetite: ele acaba de descobrir um pergaminho manuscrito rúnico islandês dentro de um livro raro e não vai sossegar, comer ou dormir até decifrar o seu conteúdo. Com a ajuda de Axel, eles identificam que o pergaminho foi escrito por Arne Saknussemm, um alquimista célebre islandês que viveu no século XVI - que, na verdade, é um personagem criado por Verne. Ao desvendarem os símbolos rúnicos, Axel e seu tio partem para a mais fantástica expedição de suas vidas: um viagem ao centro da Terra!




Animado com a sua descoberta, Prof. Lidenbrock acredita que pode seguir os passos do sábio Saknussemm e caminhar até o centro da Terra através de uma abertura no vulcão Sneffels. Sim, caminhar! Descendo por superfícies rochosos e íngremes, guiados pelo islandês Hans Bjelke.

É claro que se trata de uma jornada fantástica, mas é interessante imaginar o pensamento de Júlio Verne em 1863, quando a ciência ainda estava dando os seus primeiros passos. Não vou contar a vocês se eles atingem o seu objetivo, o que encontraram por lá ou pelo caminho, tampouco se ou como saíram! Vale a pena a leitura. É uma narrativa tão envolvente e com capítulos curtos que terminei o livro em menos de uma semana. Não via a hora de voltar para a casa para poder continuar a expedição nos subterrâneos da Terra.




Viagem ao Centro da Terra é um dos famosos livros de Verne, que contam viagem extraordinárias e que foram percursores da literatura de ficção científica. Seu primeiro livro publicado foi Cinco Semanas em um Balão (1863), que conta a travessia do continente africano de leste a oeste em um balão, seguido por O Capitão Hateras (1864), que fala de aventuras polares. Entre seus livros de expedições extraordinárias, destaca-se também Vinte Mil Léguas Submarinas (1869), em que Verne imagina um submarino elétrico.

Eu fiquei fascinada por Viagem ao Centro da Terra e já quero ler todos os livros de Júlio Verne!

Com relação às adaptações cinematográficas da obra, há um filme norte-americano de 1959 dirigido por Henry Levin, como James Mason como Prof. Otto Lidenbrock (1909-1984) e Pat Boone (1934-) como Axel. 



Mais recentemente, uma produção de Hollywood de 2008 dirigida por Eric Brevig traz Brendan Fraser e Josh Hutcherson no elenco. Esta é uma adaptação livre sobre um grupo de pessoas que acredita que as obras de Júlio Verne são, de fato, reais. 




Júlio Verne

Ainda não assisti a nenhuma das adaptações, mas pretendo em breve. E vocês, já assistiram aos filmes ou leram o clássico de Verne?


Espero que tenham gostado dessa resenha. Viagem ao Centro da Terra foi uma ótima surpresa literária para mim!


Uma ótimas semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda

sábado, 9 de novembro de 2019

"Madame Bovary", Gustave Flaubert




Olá, queridos leitores.


Hoje venho compartilhar com vocês a minha mais recente leitura. Trata-se de um livro essencial da literatura mundial e que já estava na minha lista de leitura há anos: Madame Bovary, de Gustave Flaubert (1821-1880).
Madame Bovary é considerado por muitos críticos o percursor do movimento realista na literatura, que se distancia da tradição romântica do século XVIII e início do XIX, afastando-se de idealizações amorosas, do subjetivismo e do foco no indivíduo para uma abordagem da vida como ela é, sem idealizações ou artificialidade, retratando as diferentes realidades de classes sociais distintas.


Madame Bovary nos apresenta a vida de Charles e Emma Bovary em uma região rural da Normandia. O romance é dividido em três partes e inicia com foco em Charles, um jovem estudante que se torna médico, mas sem muitas ambições na vida ou gostos refinados. Ele encontra Emma em uma de suas visitas médicas e os dois logo se casam. Emma se torna, então, a Madame Bovary. Ela, no entanto, logo percebe que se casou muito cedo e que a vida depois do casamento, assim como o seu noivo, não era nada do que ela imaginava ou esperava. Ela havia sido educada em um convento e se distraído lendo romances, que a levaram a sonhar com bailes em castelos longínquos, amores proibidos, príncipes encantados e paixões arrebatadoras.

Emma e Charles Bovary


A primeira parte do romance tem um ritmo mais lento e entediante, assim como a vida da própria Emma. Sua vida muda quando Charles é convidado para um baile no castelo de La Vaubyessard. Lá ela encontra viscondes, damas da alta sociedade, lindos trajes, bebidas e comidas exóticas, escuta conversas indiscretas, e aí percebe que aquele mundo sobre o qual ela lera em romances realmente existia. Mas, infelizmente, era um mundo do qual ela não fazia parte. Há um trecho muito interessante no livro sobre o impacto desse momento na vida de Emma:


"A sua viagem a La Vaubyessard abrira um abismo e sua vida, como essas fendas imensas que uma tempestade, em uma só noite, às vezes cava nas montanhas. Mas ela resignou-se; encerrou devotamente na cama o seu belo vestido e até mesmo os seus sapatos de cetim, com solas amarelecidas pela cera deslizante do assoalho. O seu coração era como eles: ao roçar da riqueza, ele colocara-se sobre algo que não se apagaria" (p. 82)




E, de fato, não se apagou. A partir daí, a vida de Emma é uma série de vazios que ela tenta, em vão, preencher. Na parte 2, Charles e Emma se mudam para Yonville para buscar novos ares que acalmassem os nervos de Emma. Ela estava grávida de sua primeira filha e Charles foi bem-recebido na pequena vila como o novo médico da região, o que agregava status ao nome Bovary. Nessa pacata existência, Emma encontra Léon Dupuis, em quem ela reconhece uma alma parecida com a sua, que se encanta por livros e pelo teatro. Um novo sentimento floresce nela, seguido de ardentes desejos que ela, até então, consegue controlar. 


Ezra Miller como Léon Dupuis
Seu autocontrole se desfaz, contudo, com os avanços de outro homem, Rodolphe, proprietário de terras e charme, que enfim rompe a barreira moralista de Emma e a inicia em uma vida de adultério e excessos. Há outro trecho muito interessante sobre essa nova fase de Emma:


"Mas, ao ver-se no espelho, ficou surpreendida com a própria face. Jamais tivera olhos tão grandes, tão negros, nem tão profundos. Algo sutil a expandir-se em seu ser a transfigurara.
Ela repetia-se: - 'Eu tenho um amante! Um amante!' -, deleitando-se com esta ideia como se uma nova puberdade lhe tivesse retornado. Então finalmente ela ia possuir essas alegrias do amor, a febre da felicidade da qual ela já desesperara. Entrava em algo maravilhoso onde tudo seria paixão, êxtase, delírio" (p. 201)


A segunda parte do livro tem um ritmo mais frenético, assim como a vida e o coração de Emma, em contraste com a letargia da primeira parte e da falta de vivacidade de Charles. Porém, aos poucos, Emma cai em um abismo sem volta, pecando em excesso de luxúria e luxo, contraindo-se de dívidas e segredos que atormentavam a sua vida.


Esse desespero é levado ao máximo na terceira e última parte do livro, na qual ela vive desapontamento atrás de desapontamento e se vê cada vez mais em uma existência insignificante, rumando a um beco sem saída:


"Não importa! Ela não era feliz, nunca o havia sido. Então de onde vinha essa insuficiência da vida, esse apodrecimento instantâneo das coisas em que se apoiava?" (p. 330)


Seu amante não lhe dava mais prazer, tampouco seu lar ou até mesmo sua filha. Desesperada ao ver a fortuna de Charles ser confiscada por sua culpa, ela acaba se voltando à única saída que lhe parecia possível, chegando ao desfecho trágico conhecido da obra.


Jennifer Jones como Emma Bovary
Emma é uma personagem extremamente intrigante: o leitor a odeia, a acha engraçada, mesquinha, boba, sente pena, sente compaixão... apenas um grande mestre da literatura conseguiria causar tamanhos sentimentos diversos.


Flaubert dizia que não havia nada de genialidade ou inspiração no ofício da literatura, apenas trabalho, trabalho e mais trabalho. Ele se considerava um artesão da escrita. Seus manuscritos eram escritos, reescritos, revisados... o que demonstra o seu cuidado na escolha de palavras e estrutura do seu texto.


Madame Bovary foi publicado em capítulos na Revue de Paris a partir de 1856. Porém, sua publicação foi interrompida devido a um processo judicial que julgava a trama ser imprópria. De fato, Madame Bovary escandalizou leitores quando da sua publicação por retratar tão abertamente um tema tão tabu na época como o adultério. Porém, Flaubert e os editores da obra conseguiram que ela fosse publicada em formato de livro em 1857. O escândalo ao redor da publicação do livro certamente criou mais curiosidade no público em geral, vindo a se tornar um grande sucesso e um dos clássicos da literatura mundial. 

Gustave Flaubert

Espero que tenham gostado desse post. Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda

terça-feira, 8 de outubro de 2019

"O Chamado do Cuco", Robert Galbraith

Bom dia, queridos leitores!

Hoje venho compartilhar com vocês minhas impressões sobre um livro que já estava na minha lista de leituras há um bom tempo e estava, inclusive, na minha lista de livros para ler em 2019. Trata-se de O Chamado do Cuco, primeira incursão da autora britânica J. K. Rowling no universo da literatura policial sob o pseudônimo de Robert Galbraith.

Esse livro gerou bastante burburinho quando foi lançado em 2013. A identidade da autora era para ser mantida em segredo, mas acabou vazando, levando os fãs de Harry Potter a correrem para as livrarias para buscar seu exemplar de O Chamado do Cuco. Eu confesso que comprei esse livro em inglês na pré-venda e, imaginem só, li só agora, seis anos depois!

Como fã do trabalho da J. K. Rowling na série Harry Potter e amante de literatura policial, eu tinha grandes expectativas para esse livro. Porém, admito que a leitura se arrastou e nenhum personagem captou meu interesse, tampouco o crime que o detetive protagonista estava investigando. Na verdade, a assistente Robin é a personagem de quem mais gostei, mas ela, infelizmente, não foi muito bem explorada na trama.



J. K. Rowling
A história se passa na Londres contemporânea no universo de top models e rappers famosos em oposição às pessoas normais do seu entorno, como familiares, vizinhos, motoristas e colegas de clínica de reabilitação. O primeiro capítulo começa com a estranha morte de Lula Landry, uma linda modelo no auge de sua carreira. Ao que tudo indica, ela cometeu suicídio, jogando-se da varanda do seu apartamento em uma madrugada gelada de inverno. No entanto, o seu irmão adotivo John Bristow (Lula havia sido adotada pela família Bristow ainda criança depois que o irmão caçula de John morrera em um acidente na infância) não acredita que tenha sido suicídio e contrata o detetive particular Cormoran Strike para investigar o caso.



Robin e Cormoran na série da BBC
Cormoran é um sujeito grande, um tanto rude, que perdeu uma de suas pernas durante a guerra no Afeganistão e que acaba de terminar o relacionamento com a sua linda namorada. Ele sai do seu apartamento e, como não tem meios para hospedar-se em um hotel ou para arcar com o aluguel de outro apartamento, decide dormir no seu próprio escritório até se restabelecer. Ele contrata uma assistente temporária, Robin, que descobre ser apaixonada por investigações policiais e se transforma em uma grande ajuda para Cormoran.

Eu gostaria que ela tivesse tido um papel maior em O Chamado do Cuco. Quem sabe o seu personagem terá mais espaço nos livros subsequentes da série. O segundo volume se chama O Bicho-da-Seda, lançado no Brasil em 2014; o terceiro é Vocação para o Mal, lançado no Brasil em 2016; e o quarto se chama Branco Letal, lançado no Brasil em maio de 2019.

Eu achei os métodos investigativos de Cormoran Strike um tanto confusos e o autor não compartilha os questionamentos que se passam dentro da cabeça do detetive. Tudo se esclarece no final do livro, quando Cormoran explica a sua linha de raciocínio para chegar no nome do assassino, que, contudo, não parece muito convincente.




De qualquer maneira, acredito que lerei o segundo volume da série, mas não em breve. Os dois primeiros livros foram adaptados para uma minissérie da BBC intitulada Strike, que foi ao ar em 2017. Tom Burke interpreta Cormoran Strike e Holly Grainger a sua assistente Robin. Ao que tudo indica, a minissérie contará com mais uma temporada baseada nos livros 3 e 4 da série.

Espero que tenham gostado das minhas impressões sobre O Chamado do Cuco.
Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda

domingo, 18 de agosto de 2019

"Elizabeth I - O Anoitecer de um Reinado", Margaret George

Bom dia, queridos leitores!



Hoje venho compartilhar com vocês a minha última leitura, Elizabeth I - O Anoitecer de um Reinado, um calhamaço de 792 páginas escrito pela autora norte-americana Margaret George (1943-), que é especialista na escrita de biografia histórias e ficção histórica. Seu trabalho inclui muita pesquisa e ela já escreveu sobre diversas personagens femininas marcantes, como Cleópatra, Maria Madalena, Helena de Tróia e, nesse livro, a rainha Elizabeth I.

O Anoitecer de um Reinado foi publicado pela primeira vez em 2011 e a tradução que eu tenho, feita por Lara Freitas e publicada pela Editora geração, foi publicada em 2012. O projeto gráfico é bem legal e a capa ficou muito bonita, porém a tradução deixou muito a desejar, além de diversos erros de digitação e repetição de palavras. Enfim, acredito que a leitura teria sido mais proveitosa se feita no idioma original!

Esse livro nos transporta para a Inglaterra do final do século XVI durante as últimas décadas do reinado e vida de Elizabeth I (1533-1603). Mais especificamente, ele inicia em 1588, período em que a Inglaterra protestante anglicana - o pai de Elizabeth, Henrique VIII havia criado a Igreja da Inglaterra e se desvinculado da Igreja católica e do poder papal em Roma - estava em guerra com a Espanha católica. Em 1569, o Papa Pio V promulgou uma bula de excomunhão da Rainha Elizabeth. Qualquer nação que apoiasse a Inglaterra estaria contra a Igreja. Em 1588, a Espanha, incitada pelo Papa Sisto V e comandada por Filipe II da Espanha, enviou a chamada Invencível Armada contra a Inglaterra. A Armada trazia cópias da bula de excomunhão de Elizabeth para serem distribuídas por onde passassem. É neste momento que se inicia o romance de Margaret George - o primeiro grande desafio do reinado de Elizabeth.

Lettice e, ao fundo, Robert Dudley e Elizabeth I

A partir daí, o romance é divido em dois pontos de vista: o da própria rainha, escrito em primeira pessoa, que reflete sobre suas ações, pensamento e sua devoção ao bem-estar da Inglaterra; e o de Lettice Devereux, sobrinha-neta de Ana Bolena e, portanto, parente de Elizabeth. Ela foi condessa de Essex devido ao seu primeiro casamento com Walter Devereux, 1o. conde de Essex, e mãe de Robert Essex, 2o. conde de Essex - quem teve um grande papel na história do reinado de Elizabeth e neste livro. O segundo casamento de Lettice foi com Robert Dudley, conde de Leicester, que lhe rendeu o título de condessa de Leicester. Dudley, ao que tudo indica, foi o grande amor da vida de Elizabeth I. Pelo fato de Lettice ter se casado com ele, as duas mulheres tornaram-se inimigas. Por fim, em seu último casamento, depois de tornar-se viúva duas vezes, Lettice se casou com o militar Christopher Blount.


Portanto, o leitor acompanha os acontecimentos da Inglaterra no final do século XVI e início do XVII através dos olhos dessas duas mulheres, que dizem que eram até parecidas fisicamente. Acompanhamos a vitória da Inglaterra contra a Armada Espanhola em 1588 e em outras tentativas fracassadas da Espanha em conquistar a Inglaterra; acompanhamos Elizabeth em suas consultas ao astrólogo John Dee sobre o seu futuro e o futuro do reino; as tentativas de controlar as terras e os rebeldes na Irlanda; as estratégias de governo da rainha e sua decisão em manter-se virgem e solteira para permanecer em controle absoluto do trono; e o seu relacionamento com o 2o. conde de Essex, filho de Lettice, que tornou um de seus favoritos. Porém, levado pela ambição, Essex foi condenado à morte após uma tentativa de conspiração contra a Sua Majestade em 1601, evento que ficou conhecido como o Levante de Essex.


A "Invencível" Armada




Robert Devereux, 2o. conde de Essex
Do outro ponto de vista, acompanhamos a sedutora Lettice Devereux - nascida Lettice Knollys - e seus diversos amantes, inclusive o dramaturgo William Shakespeare. Para mim, este foi um fato novo. É sabido que Shakespeare deixou sua esposa Anne Hathaway em Stratford-upon-Avon e se envolveu com outras mulheres durante sua estadia em Londres, porém acredito que não há provas do seu envolvimento com Lettice. É claro que as pessoas não mantinham registro de seus casos amorosos fora do casamento, então tudo não passa de especulações.  Também acompanhamos a estreia da peça Ricardo II, de Shakespeare, que levou ao palco a história do rei deposto por seu primo, Henry Bolingbroke - o futuro Henrique IV, e como tal peça foi escolhida pelos seguidores de Essex em 1601como um lembrete à população de que príncipes reais também caem. E o sofrimento de Lettice ao perder seu filho, Robert, por conta da sentença da rainha.

Ao final do livro, as duas mulheres - da mesma família mas separadas por quase suas vidas inteiras devido a desavenças amorosas - finalmente se reencontram. Então fica clara a escolha da autora em contrapor os pontos de vista dessas duas mulheres que se entrelaçam no final.

Margaret George

Esta não foi uma leitura fácil, pelo contrário, ela se arrastou por mais de três meses. Margaret George foi muito prolixa nessa obra, acredito que uma versão mais enxuta desse livro seria mais bem-sucedida. Porém, me alegro de ter terminado essa leitura, pois aprendi muito sobre a história da Inglaterra nesse período e sobre as últimas décadas do reinado de Elizabeth I, e me pegava pensando em como teria sido ser essa mulher e como ela teve que fazer escolhas difíceis, colocando o bem do seu reino sobre os seus sentimentos. Definitivamente, um saldo positivo.

Espero que tenham gostado de saber mais sobre essa obra grandiosa de Margaret George.


Um ótimo domingo a todos e ótimas leituras!

Fernanda

quarta-feira, 3 de julho de 2019

"Um crime na Holanda", Georges Simenon

Boa noite, queridos leitores!


Hoje venho compartilhar com vocês as minhas impressões sobre minha última leitura, o romance policial Um Crime na Holanda, do escritor belga Georges Simenon (1903-1989). Esta é a sétima aventura do comissário Maigret, personagem mais célebre do autor belga, personagem que me lembrou muito o famoso inspetor Hercule Poirot da rainha do crime Agatha Christie (1890-1976).

Eu me deparei com esse livro em uma livraria em Florianópolis. Como estou em período de leitura de um livro longo com mais de 700 páginas, vi nessa narrativa policial de menos de 140 páginas uma maneira de inserir uma leitura diferente e recuperar meu fôlego literário para voltar ao meu calhamaço. Além disso, ao saber que a história se passa na Holanda, país muito querido por mim e onde morei por um ano, não tive dúvidas e comecei a ler Um Crime na Holanda ali mesmo!

Esse romance de Simenon publicado pela primeira vez em 1931 - onze anos depois da primeira aparição do detetive de Agatha Christie, diga-se de passagem - nos leva a Delfzijl, um vilarejo portuário no nordeste da Holanda, próximo da cidade de Groningen. Nessa pacata região, um professor francês é convidado para dar uma palestra sobre criminologia. Ele se hospeda na casa do casal Popinga, onde houve uma festa para receber o renomado acadêmico. No dia seguinte, porém, o corpo do Sr. Popinga é encontrado sem vida. A polícia de Groningen é chamada, assim como o francês comissário Maigret, pois o professor de mesma nacionalidade se torna o principal suspeito do homicídio.

Maigret interpretado por Michael Gambon 
na série televisa de 1992
Com seu calculismo e raciocínio lógico, Maigret questiona todos os envolvidos, aos poucos percebe o lado obscuro do vilarejo escondido sob a fachada pacata e perfeita, e surpreende a polícia holandesa ao descobrir o verdadeiro culpado por trás desse crime premeditado.

"A calma continuava a imperar na atmosfera. Uma calma serena, quase plena demais. Uma calma capaz de convencer um francês de que toda aquela vida era tão artificial quanto um cartão-postal" (p. 68-69)

Eu gostei muito de acompanhar o método de Maigret - apesar de ele apresentar certos argumentos machistas, mas devemos lembrar que ele é um homem do início do século XX -, principalmente da re-encenação da noite do crime, que leva ao ápice da narrativa: a solução do grande mistério.

Georges Simenon

Eu gosto muito de narrativas policiais e fazia tempo que eu não me dava esse prazer de ler uma, ainda mais quando bem escrita como as de Simenon. Estou curiosa para ler as outras aventuras de Maigret e devo ler em seguida a sua primeira história, Pietr, o letão, também de 1931. A coleção Comissário Maigret foi publicada em português pela Companhia das Letras.

Então é isso, pessoal! Espero que tenham gostado dessa sugestão de livro, especialmente se você é fã de uma boa história policial.

Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda


sábado, 20 de abril de 2019

"O Juramento do Rei", Jean Plaidy

Olá, queridos leitores!

Hoje venho compartilhar com vocês minha mais recente leitura: o novo volume da saga Plantageneta, O Juramento do Rei, de Jean Plaidy, pseudônimo da escritora inglesa Eleanor Hibbert (1906-1993).

Eu já estou lendo essa série sobre uma das principais dinastias de governantes da Inglaterra há alguns anos. A série inteira tem quatorze volumes e acompanha a história desde Henrique II (1133-1189) até Henrique VI (1421-1471), e é muito bem escrita por Jean Plaidy, que entrelaça fato e ficção, dando vida e personalidade a figuras históricas. O passo do livro é muito rápido, muita coisa acontece em poucas páginas, mas, assim que você se acostuma com o ritmo, a leitura flui muito bem e aprendemos muito sobre a história da monarquia inglesa.

Eduardo III
Neste nono volume, acompanhamos o jovem Eduardo III (1312-1377), coroado rei aos 14 anos em 1327 após a deposição forçada e misteriosa morte de seu pai, Eduardo II. Eduardo II (1284-1327) foi o protagonista do oitavo volume da saga, As Loucuras do Rei. Se você tiver mais interesse sobre esse monarca ou período, acesse a resenha do livro clicando aqui.

Na verdade, quem planejou a morte e arquitetou a deposição de Eduardo II foi sua própria esposa, a Rainha Isabel, cansada de ser ignorada por seu marido e trocada por amantes homens, e seu amante, Roger Mortimer. Com a morte do rei e com o jovem Eduardo III no trono, o casal achou que poderia reinar através do menino. Porém, Eduardo logo provou ser muito mais do que um ingênuo rapaz e liderou um golpe contra Mortimer, que levou a sua execução, e tornou sua mãe Isabela prisioneira de luxo em um dos castelos.

Filipa de Hainault
Eduardo cresce e se torna um monarca muito diferente de seu pai. Ele se destaca em batalhas e estratégias militares e conquista diversos territórios franceses. Em uma visita ao Condado de Hainault, ele conhece uma das filhas do condo, Filipa de Hainault, por quem se apaixona. O amor é mútuo, mas os dois precisam esperar e só mais tarde se casam. Os dois se amam muito, o que é difícil entre casamentos reais arranjados, e têm juntos 12 filhos. Eduardo permanece fiel a Filipa até os anos finais de sua esposa, quando ela já estava muito enferma e acima do peso.

Em meados do reinado de Eduardo, o conde Robert d'Artois foge da França e se asila na corte inglesa. Ele instiga o rei Eduardo a tomar o que é seu por direito - a coroa da França, à qual Eduardo teria direito por conta de sua mãe, Isabela, que era filha do rei Felipe IV da França. O filho homem de Isabela teria direito ao trono quando o rei francês Carlos IV morreu sem deixar descendentes. Instigado por d'Artois, que levou ao rei inglês uma garça assada como símbolo da passividade de Eduardo, humilhando-o em frente a sua corte, o rei faz um voto - que dá título ao livro - de que irá tomar em armas contra a França para conquistar a sua coroa, dando início a um longo período de hostilidade entre França e Inglaterra, a chamada Guerra dos Cem Anos.

O filho mais velho de Eduardo, o Príncipe Eduardo, conhecido como o Príncipe Negro devido à armadura preta que utilizava em batalha, prometia ser um grande herdeiro ao trono - leal, destemido e grande guerreiro. Porém, após seu casamento com Joan de Kent e o nascimento de dois filhos, Eduardo adoece repentinamente e morre, deixando o rei desesperado.

Edward, o Príncipe Negro

A essa altura, a rainha Filipa já havia morrido e Eduardo III vivia abertamente com a amante Alice Perrers, causando desgosto entre o povo, que antes o idolatrava. Eduardo já está velho e também adoece, deixando esse mundo logo após seu adorado filho.

Alice Perrers no leito de morte de Eduardo III

Como o primeiro filho do Príncipe Negro também morreu, é o jovem Ricardo que se torna o sucessor do trono e protagonista do próximo livro da saga, Passagem para Pontefract, que eu já estou louca para ler!

Então é isso, pessoal! Espero que tenham gostado dessa dica de romance histórico.

Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda