domingo, 30 de agosto de 2015

"Helena", Machado de Assis

Bom dia, queridos leitores!

Que saudades de escrever para vocês! Ando tão ocupada com o mestrado que ando sem tempo para escrever sobre as minhas últimas leituras. Mas não posso reclamar! Passar os dias lendo, estudando e escrevendo sobre literatura é o que todo leitor aficionado sempre quis, não é?

Mas hoje trago para vocês minhas impressões sobre um livro que terminei de ler há pouco tempo. Fazia tempo que não lia nada da literatura brasileira e, como gosto de diversificar as minhas leituras, busquei em minha estante e encontrei um livrinho que aguardava a minha leitura há muito tempo. Trata-se de Helena, de Machado de Assis.

Helena foi um de seus primeiros livros, publicado em 1876, quando Machado ainda tinha um pé no romantismo exacerbado do século XIX. Devo confessa que Helena não é um de meus livros preferidos de Machado. Ele segue uma história de amor proibido um tanto quanto clichê e não há muito (quase nada) sobre o contexto sociopolítico da época, elemento que deixa seus romances posteriores mais interessantes, como Esaú e Jacó (1904), que é meu preferido.

Na trama de Helena, conhecemos a família do conselheiro Vale - seu filho e sua irmã -, que, após a morte do patriarca, descobrem que ele tivera uma filha fora do casamento, Helena, que deveria ser acolhida e educada pela família. A tia de Estácio, irmã do conselheiro, acha tal atitude um absurdo, mas não tem como contestar as vontades de um defunto e, portanto, recebe contrariada a enteada em sua casa. Estácio, filho do conselheiro, não vê a situação com olhos tão negativos. Pelo contrário, ele vê na presença de Helena uma maneira de reunir a família através de elo que lhes faltava.


Helena é uma doce criatura e, aos poucos, vai adquirindo a confiança e estima da tia Dona Úrsula, até o momento em que Helena parece esconder um segredo terrível sobre seu passado. Além disso, Estácio não consegue suprimir seus sentimentos amorosos para com a própria irmã. Como controlar esse amor proibido?


É interessante notar neste - e em outros romances de Machado - a constante presença e importância da figura feminina na trama. A história se desenvolve ao redor de Helena, além da presença de outras personagens femininas marcantes, como Ângela, a mãe de Helena, que tivera um caso de amor com o conselheiro Vale.

Machado de Assis (1839-1908)


A leitura deste romance é rápida, pouco mais de duzentas páginas, mas falta nele o grande espírito do escritor de Dom Casmurro (1899). No entanto, é interessante para notar o grande desenvolvimento do escritor, que viria a se tornar um dos maiores nomes da literatura brasileira.





 Helena já foi adaptada para a televisão três vezes, sendo a mais conhecida e produzida pela Rede Globo em 1975, ainda em preto e branco. Nesta adaptação de Gilberto Braga, Lúcia Alves interpretou Helena e Osmar Prado ficou com o papel de Estácio.


Fonte: http://www.mundonovelas.com.br/2014/03/helena-vamos-recordar.html

Mesmo não sendo a obra-prima de Machado de Assis, Helena merece ser lido e apreciado como um dos primeiros romances do grande mestre da literatura brasileira.

Um abraço a todos,

Fernanda

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"Beauvoir Apaixonada", Irène Frain

Olá, queridos leitores!

Ultimamente tenho estado um pouco ausente do blog porque estava terminando de escrever um projeto (quando tiver mais informações sobre ele, trago as novidades aqui!), mas agora estou de volta e com muitas dicas de grandes livros da nossa literatura.

Uma personalidade que sempre me instigou, principalmente depois de eu ter lido seu livro O Segundo Sexo (1949), um manifesto de libertação das mulheres, foi Simone de Beauvoir. Muito se fala de seus ensaios, suas teorias, seu papel na filosofia ao lado do papa do existencialismo, Jean-Paul Sartre, porém muito pouco (ou quase nada) sabia sobre a Simone mulher. Portanto, quando me deparei com o livro Beauvoir Apaixonada, escrito pela francesa Irène Frain em 2012, e publicado no Brasil pela Editora Verus, não hesitei em comprá-lo.

Este livro nos conta a história da mulher por trás da intelectual, da mulher que, mesmo lutando pela liberdade e direitos das mulheres, também morre de amores. Beauvoir era uma mulher muito a frente de seu tempo. No início da década de 1930, ela e Sartre selaram um pacto: um seria para sempre o porto seguro do outro, mas não seriam exclusivos amorosamente. Era o acordo de um relacionamento aberto em uma época em que tal ideia era considerada ultrajante. Ambos tiveram muitos amantes, sofreram muito com os "amores contingentes" do outro, mas permaneceram lado a lado até o fim de suas vidas.

Sartre e Simone

No entanto, Irène Frain não nos conta a história de amor de Simone e Sartre, mas sim uma das grandes, senão a maior, paixão da vida da escritora francesa: o escritor americano Nelson Algren. Os dois se conheceram durante uma viagem longa de Beauvoir aos Estados Unidos para palestras e conferências (que haviam sido cuidadosamente arranjadas por Sartre para que ele pudesse ficar em Paris com sua amante do momento, a americana Dolores). De início não se acertaram, mas logo viriam a perceber que um não conseguia viver longe do outro. Seus encontros eram esporádicos, ardentes e tempestuosos. Contudo, pior do que se desentenderem juntos era ficarem separados. Mas Nelson não queria deixar sua Chicago, enquanto Simone não abriria mão da Paris dos existencialistas e, claro, de seu "amor essencial", Sartre...

Nelson e Simone

Nelson e Simone

No início, a escrita de Frain é bastante fragmentada. A história é cortada em divisões muito curtas dentro dos capítulos. Porém, depois de ter me acostumado ao ritmo da escritora, não consegui desgrudar da história da paixão de Simone e Nelson. A autora usou como base para o seu romance as cartas trocadas pelos dois, diários escritos por eles e as obras publicadas dos dois escritores. Irène reconstituiu o que foram, provavelmente, os melhores anos na vida dos dois.

Simone de Beauvoir

Simone nasceu em 9 de janeiro de 1908 e se tornou uma das mais famosas filósofas de todos os tempos. Seu pai lhe dissera, quando pequena, que tinha "um cérebro de homem". Ela publicou muitos trabalhos, entre artigos acadêmicos, ensaios filosóficos e romances. Ela morreu aos 78 anos em Paris em 14 de abril de 1986, enterrada ao lado da sepultura de Sartre e usando o anel que Nelson lhe dera. Até depois da morte, Simone manteve-se fiel aos dois.


Nelson Algren

Nelson nasceu nos Estados Unidos em 28 de março de 1909. Mudou-se para Chicago aos três anos de idade, onde se instalou e de onde tirou sua inspiração para compor seus romances sobre o submundo americano. Ele morreu em 9 de maio de 1981, um dia antes da data que marcaria 44 anos do primeiro encontro de amor com Simone.


Quem tem interesse em conhecer melhor a vida da lendária Simone de Beauvoir e de seu caso de amor intenso com o escritor Nelson Algren, não pode deixar de ler esse livro.

Espero que tenham gostado da dica de hoje.

Um enorme abraço e ótimas leituras!

Fernanda

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

"A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água", Jorge Amado

Boa noite, queridos leitores!

Já faz um tempo que não escrevo para vocês sobre literatura brasileira, então decidi escrever mais uma vez sobre um de meus autores nacionais preferidos: Jorge Amado. Da sua vasta obra, tenho dois preferidos: Dona Flor e seus Dois Maridos (1966), que foi o primeiro romance do autor que eu li e sobre o qual escrevi aqui; e, claro, o delicioso Gabriela, Cravo e Canela (1958). Estes dois livros são retratos da cultura do nosso país e dos costumes e prazeres da Bahia.




Quem está com vontade de se ver subindo o Elevador Lacerda, passeando pelas ladeiras de Salvador e sentindo o aroma daquele acarajé gostoso, não pode deixar de ler Jorge Amado. Através de suas palavras, somos transportados a outro local e outra época. E não há nada melhor do que viajar através da leitura, não?

Salvador nos anos 60

O livro que trago para vocês hoje é A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água, publicado pela primeira vez em junho de 1959 na revista Senhor, revista que também contava com publicações de outros grandes nomes da literatura brasileira, como Clarice Lispector e Guimarães Rosa.

Neste livro somos apresentados a Joaquim Soares da Cunha, um respeitável homem trabalhador de cinquenta anos, pai de família, que resolve mudar seu estilo de vida completamente. Ele abandona sua família e passa a viver de boteco em boteco, onde surge seu apelido: Quincas Berro d'Água

Nada mais comum para um homem que teve duas vidas distintas do que ter duas mortes também, não é? Quando Quincas morre, é aí que surge a confusão: sua família quer enterrá-lo como o homem sério que fora a maior parte de sua vida, como Joaquim Soares da Cunha; mas seus amigos beberrões, ao verem sorrindo no seu leito de morte, imaginam que ele ainda esteja vivo e o levam para uma última noite de festa que acaba com a segunda morte de Quincas.

E aí, como foi que Quincas morreu? Como o próprio Jorge Amado nos escreve, "até hoje permanece certa confusão em torno da morte de Quincas Berro d'Água". Cabe a você, leitor, ler a história para tirar suas próprias conclusões!

Mesmo não sendo um dos trabalhos mais conhecidos de Amado, A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água é um grande clássico de nossa literatura. Em 2010, o diretor Sérgio Machado adaptou a obra de Jorge Amado para o cinema sob o título de Quincas Berro d'Água. O ator Paulo José foi o escolhido para interpretar o lendário Quincas.

Pôster do filme de 2010

Jorge Amado nasceu em Itabuna, na Bahia, em 10 de agosto de 1912, e morreu em Salvador em 6 de agosto de 2001, aos 88 anos. Amado foi membro da Academia Brasileira de Letras e teve suas obras traduzidas para mais de 49 idiomas. Até os dias de hoje, ele é um dos escritores brasileiros mais lidos no mundo e não pode faltar em sua estante!

Jorge Amado

Espero que tenham gostado da sugestão de hoje!

Um forte abraço a todos e, claro, ótimas leituras!

Fernanda

domingo, 2 de agosto de 2015

"As Rosas Inglesas", Madonna

Olá, queridos leitores!

Eu sou apaixonada por literatura infanto-juvenil e, ao passar os olhos pelas minhas prateleiras de livros, me deparei com um lindo exemplar que já tenho há bastante tempo: As Rosas Inglesas, escrito pela Madonna. Sim, a Madonna cantora pop! Se você não sabia que ela é, além de cantora, compositora, atriz, empresária e dançarina sexy, escritora de histórias infantis, você vai se surpreender com a sua escrita sutil e divertida.

As Rosas Inglesas (2003) é apenas o primeiro de vários livros escritos pela cantora dedicados ao público infantil. Ao todo são 12 livros, mas nem todos foram traduzidos e publicados no Brasil. Nos Estados Unidos, o livro ficou dezoito semanas no pódio da lista de livros infantis mais vendidos do The New York Times.

As Rosas Inglesas foi publicado no Brasil pela editora Rocco em capa dura e mantém as ilustrações lindíssimas de Jeffrey Fulvimari. Na minha opinião, as ilustrações são o grande atrativo do livro. Elas são bem coloridas, modernas e com um contorno preto que destaca as curvas sinuosas do ilustrador. Dá para ficar horas só prestando atenção nos mínimos detalhes de cada imagem. É realmente um trabalho lindíssimo!


A escrita de Madonna é, também, bastante divertida como as ilustrações, mas não chega a ser totalmente original. A história trata de quatro amigas, conhecidas como as Rosas Inglesas, que vivem sempre juntas: na escola, em festas do pijama, piqueniques, etc. Porém, há uma outra garota no bairro, a linda e inteligente Binah, de quem elas morrem de ciúmes. Binah, no entanto, é uma garota muito solitária, e quando as Rosas descobrem mais sobre a vida desta garota com a ajuda de uma fada-madrinha gorducha, elas acabam percebendo como a haviam tratado de forma injusta.

As Rosas Inglesas e Binah

Madonna no lançamento do seu livro
As Rosas Inglesas tem um quê de Cinderela com um leve toque de lição de moral. De qualquer forma, a leitura é bem prazerosa e curta (o livro tem apenas 46 páginas e a maior parte é composta de ilustrações). A maneira como a autora Madonna interage com o leitor é bastante sagaz, pois torna o leitor também um personagem do livro.

Box da série
Este foi o único livro infantil da Madonna publicado pela editora Rocco, porém em 2011 a editora Nossa Cultura publicou seis volumes com aventuras das Rosas Inglesas: Amigas para Sempre, Adeus, Grace?, A Garota Nova, Uma Rosa de Outro Nome, Tristezas de uma Irmã e Ser a Binah. No ano passado, a mesma editora também publicou um box com esses seis volumes que é muito lindo! Já está em minha wishlist.


Os seis livros da série


Madonna versão ilustrada

 Madonna hoje está com 56 anos e à todo vapor em sua carreira artística. Porém, na área de literatura, não há muita novidade. Seu último livro foi publicado em 2008 e desde então não há notícias de novos lançamentos. Mas, quando falamos de Madonna, nunca sabemos o que pode sair daquela caixinha de surpresas!

Espero que tenham gostado de conhecer o lado literário dessa diva do pop.

Um abraço a todos e ótimas leituras!

Fernanda