quarta-feira, 18 de agosto de 2021

"Perdido em Marte", Andy Weir

 Olá, queridos leitores!


Nas últimas semanas assisti à série-documentário Marte, produzida pela National Geographic e estreada em 2016. Eu sempre fui fascinada por assuntos relacionados ao espaço, especulações sobre vida extraterreste e colonização espacial. Todos esses temas são tratados nesta série, que é muito interessante porque alterna documentário com ficção científica. Há duas linhas temporais - 2016, o presente, no qual especialistas falam sobre a tecnologia disponível, sobre as mudanças climáticas na Terra e discutem possibilidades de uma exploração tripulada em Marte; e o futuro 2033, o ano em que a primeira missão tripulada chega a Marte com o intuito de iniciar uma colônia. Eu achei esse assunto tão interessante que voltei minha atenção a um livro que estava na minha estante parado desde 2015: Perdido em Marte, de Andy Weir, publicado pela primeira vez em 2009.


Tripulação na série Mars


Perdido em Marte parte da integrante premissa de um astronauta deixado para trás em Marte. O livro é contado em sua maior parte em primeira pessoa através do diário de bordo de Mark Watney, que conta os seus dias em "sóis". Cada "sol" corresponde ao dia solar marciano que tem duração média de 24 horas, 39 minutos e 35,244 segundos. Portanto, há uma diferença entre o dia solar na Terra e o dia solar em Marte. 


Mark fazia parte da Ares 3, uma missão da Nasa que pretendia permanecer em solo marciano para pesquisas por um mês. Porém, devido a uma intensa tempestade de areia, a tripulação tem que sair às pressas do planeta por temer que a tempestade danificasse o VAM (Veículo de Ascensão de Marte), o que os deixaria presos no planeta vermelho. Durante a confusão da tempestade de areia, Mark é atingido por uma peça de metal e se perde no meio à pouca visibilidade. O seu traje é levemente danificado e seu rádio para de funcionar, o que leva os outros membros da equipe a acreditarem que ele esteja morto. Com pesar, a Capitã Lewis toma a decisão de deixar o corpo de Mark para trás para salvar o restante da tripulação. 


O que eles - e ninguém - não esperavam é que Mark ainda estava vivo e sovreviveu à tempestade de areia. Ele acorda em Sol 6 e escreve em seu diário de bordo: 


"Estou ferrado. Essa é a minha opinião abalizada. Ferrado. Seis dias após o início daqueles que deveriam ser os dois meses mais importantes da minha vida, tudo se tornou um pesadelo. [...] Então, esta é a situação: estou perdido em Marte. Não tenho como me comunicar com a Hermes nem com a Terra. Todos acham que estou morto. Estou em um Hab projetado para durar 31 dias. Se o oxigenador quebrar, vou sufocar. Se o reaproveitador de água quebrar, vou morrer de sede. Se o Hab se romper, vou explodir. Se nada disso acontecer, vou ficar sem alimento e acabar morrendo de fomo. Então, é isso mesmo. Estou ferrado."





Apesar de sua situação devastadora, Mark não perde o senso de humor e atualiza quase que diariamente o seu diário de sobrevivência em Marte. Ele tem que usar do seu conhecimento como astronauta, engenheiro e botânico - e usar muita improvisação e correr riscos - para encontrar uma maneira de permanecer vivo até que possa ser resgatado.


O autor Andy Weir
Enquanto isso, a Nasa fica sabendo que Mark está vivo e o mundo inteiro se comove para ajudar - a quase 1 ano-luz de distância - o astronauta Mark a voltar para casa, vivo. 


O livro começa lento, mas depois acelera de uma maneira que é impossível largar o livro. As entradas do diário de Mark são intercaladas com pequenas narrações em terceira pessoa das equipes da Nase que estão trabalhando noite e dia para encontrar soluções para os problemas de Mark, e da tripulação que deixou o astronauta em Marte, que está a bordo da nave Hermes de volta ao planeta Terra. A tensão de ler esse livro é como a de assistir a um filme, e soube que Perdido em Marte foi, de fato, adaptado para o cinema em 2015, dirigido por Ridley Scott e com Matt Damon no papel principal. Estou louca para assistir a esse filme!




Espero que tenham gostado dessa dica de livro, série e filme.

Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras e ótimas explorações marcianas!


Fernanda

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

"Passagem para Pontefract", Jean Plaidy

 Olá, queridos leitores!


No post de hoje eu compartilho com vocês uma das minhas mais recentes leituras. Trata-se do décimo volume da saga Plantageneta, escrita pela britânica Jean Plaidy (um dos pseudônimos de Eleanor Burford Hibbert), que acompanha os reis e rainhas da Inglaterra desde Henrique II no século XII, até o final da dinastia com o desfecho da Guerra das Rosas (1455-1487), que deu início à dinastia Tudor com Henrique VII no século XV.

Tem vídeo no canal sobre essa saga. Assista aqui: SAGA PLANTAGENETA de Jean Plaidy - Luta pelo poder na Idade Média - YouTube

Eu já venho acompanhando esta série de livros desde 2015 e leio, em média, um ou dois livros desta saga por ano. Plaidy mistura fato e ficção, criando personalidades e diálogos para personagens históricos. O trabalho da escritora foi feito com base em muita pesquisa histórica, então aprendi muito sobre a história da Inglaterra através destes livros. 

Eu tinha grandes expectativas para o décimo volume, Passagem para Pontefract, publicado originalmente em 1981. Isso porque, além de gostar muito do trabalho da autora, este livro acompanha o reinado de Ricardo II (1367-1400), o rei que estudo nas minhas pesquisas de doutorado. Estou escrevendo sobre três produções da peça Ricardo II de Shakespeare na Londres do século XIX. Portanto, tinha bastante curiosidade em ler como Plaidy descreveria os acontecimentos que Shakespeare dramatiza na sua peça.

No entanto, me decepcionei, porque Ricardo não é o personagem principal deste livro, de fato. O livro inicia com o rei Eduardo III ainda vivo. Eduardo foi o protagonista do último volume, O Juramento do Rei - para ler a resenha deste livro, clique aqui. Portanto, Plaidy volta no tempo e reconta eventos que já tinham sido descritos no último volume: o caso amoroso adúltero do rei com Alice Perrers, o casamento do Príncipe Negro com Joana de Kent, a morte do seu filho mais velho - o herdeiro Henrique, a morte do Príncipe Negro e a morte do próprio Eduardo III, que deixa o trono para o seu neto de dez anos, Ricardo. Tudo isso toma um bom terço do livro todo. 


Eduardo III

Ricardo II


O segundo terço do livro tem como personagem principal João de Gaunt, um dos filhos sobreviventes de Eduardo III. Portanto, irmão do Príncipe Negro e tio de Ricardo II. João é um homem muito ambicioso e ressente estar tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe da coroa. Ele queria muito se tornar rei e despreza o fato de que o trono deve ser ocupado por uma criança. No início do livro, eu até simpatizei com João, que era muito apaixonado por sua primeira esposa, Blanche. Porém, depois da morte prematura dela em decorrência da peste, João se apaixona facilmente por outras mulheres e quer a todo custo se tornar rei, da Inglaterra ou de qualquer outro lugar. Ele não era bem-quisto pelo povo, que, até então, simpatizara com o jovem Ricardo.

John de Gaunt

Durante todo o livro Ricardo é ofuscado por outros personagens, que tentam manipulá-lo, como seu tio Gaunt no segundo terço do livro, e seu tio Thomas de Woodstock, no terceiro terço da obra. A relação de Ricardo com o seu favorito Robert de Vere foi muito pouco explorada, na minha opinião. E o evento que inicia a peça de Shakespeare - a disputa entre Henrique de Bolingbroke e Thomas Mowbray - só aparece na página 406 (de 444 páginas). A parte mais interessante do reinado de Ricardo - o descontentamento popular por causa de sua relação com seus favoritos e o conflito com Bolingbroke, que usurparia a coroa para se tornar Henrique IV - é contada muito rapidamente e sem muitos detalhes, como se a autora já tivesse ultrapassado o número máximo de palavras e tivesse que encerrar às pressas.


Outra coisa que me chamou atenção foi a maneira como a morte de Ricardo II foi reconstruída. Não há consenso entre historiadores com relação à causa da sua morte. Shakespeare a coloca como assassinato, dramatizando Sir Exton - a mando indireto de Bolingbroke - atacando o rei deposto na sua cela de prisão. Plaidy escolhe outro caminho: o seu Ricardo II morre de fome deliberada. O rei se recusa a comer e prefere morrer a passar o resto dos seus dias na prisão, temendo uma morte cruel.


Peça de Shakespeare


O livro termina da seguinte forma:


"O vento uivava, como se em homenagem a uma alma atormentada.

'Não pode demorar agora', pensou Thomas Swynford. 'Hoje... amanhã... mandarei a notícia ao rei.'

Na ponta dos pés, aproximou-se do catre. Ali estava ele, o outrora bonito rei, o orgulhoso Plantageneta.

O último desejo de Ricardo de Bordeaux tinha sido satisfeito.

Ele estava morto, e o trono estava garantido para Henrique de Bolingbroke." (p. 444)


Jean Plaidy
É aí que se inicia o décimo-primeiro volume da saga, que acompanha Henrique IV. Infelizmente, a editora BestBolso só traduziu e editou a saga até o décimo volume. Os quatro últimos livros não foram lançados, não sei o porquê. Vou ler o próximo, The Star of Lancaster, no idioma original em inglês.

Espero que tenham gostado dessa resenha. Logo, logo sairá o vídeo no canal. Acompanhem aqui: "O Prazer da Literatura".

Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!


Fernanda