Há algum tempo estava passeando por uma livraria (passatempo preferido!) quando me deparei com o livro Contos Húngaros, traduzidos e organizados por Paulo Schiller. Ele estava ali na sessão de promoções, meio esquecido, sem nenhum comprador à vista. Segurei-o em minhas mãos e pensei: o que eu sei sobre literatura húngara? E a resposta foi bem simples: nada! Simplesmente nada!
Em outra publicação aqui no blog (caso tenha interesse em relê-la, pode acessá-la clicando aqui), já discuti a questão do cânone literário e como somos orientados, tanto pelo nosso sistema educacional como através da mídia, a ler os livros escritos por autores consagrados pela crítica, normalmente de países tidos como grandes potências políticas e culturais, como os Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália, etc. A produção cultural de países menores e fora do eixo Europa ocidental-Estados Unidos é completamente esquecida. Ao segurar este livro sobre o qual escrevo para vocês, fiquei envergonhada por nunca haver sequer pensado em pesquisar sobre o que é produzido em países como a Hungria.
Aliás, onde fica a Hungria? Este pequeno país está localizado na Europa Central, sem acesso ao mar, que faz divisa com a Áustria (com a qual formava o Império Áustro-Húngaro antes da sua independência), Eslováquia, Romênia, Ucrânica, Sérvia, Croácia e Eslovênia. Sua língua oficial é o húngaro, língua muito diversa da maior parte das línguas faladas neste continente, de origem indo-europeia. Seu tamanho territorial e número populacional podem ser comparados a Portugal.
A Hungria na Europa Central |
E o que foi produzido no cenário literário húngaro? Na introdução escrita por Nelson Ascher, o autor comenta da efervescência cultural húngara, principalmente antes da Primeira Guerra Mundial. No século XIX, século do Romantismo, tomados pelo desejo de revolução e independência política, vários escritores transformavam os anseios e esperança húngaras em belos poemas. Mais tarde, apareceram os prosadores, autores de romances e contos, além de ensaios críticos.
Nesta antologia de Paulo Schiller, foram publicados contos de quatro importantes escritores húngaros: Gyula Krúdy, Dezsö Kosztolányi, Géza Csáth e Frigyes Karinthy, nomes expressivos da literatura de final do século XIX e início do XX.
Dezsö Kosztolányi |
O jornal Nyugat |
O errante em Veneza retrata bem a condição de um ser humano perdido, que resolve, um dia, pegar um trem para qualquer destino e apenas caminhar, caminhar, caminhar sem rumo. O narrador do conto se depara com este homem perdido, parado sobre a Ponte dos Suspiros, olhando para as águas que correm abaixo. Ele já está assim há dez anos. Nesta jornada, ele havia passado horas só olhando o mar, depois se refugiou em um banco de igreja, onde permaneceu por mais horas e horas, sem qualquer objetivo ou rumo, até ser despachado por um padre ao cair da noite. De lá, passou dias sem sair da cama, até achar-se na Ponte dos Suspiros, onde nosso narrador o encontrou.
Ponte dos Suspiros, em Veneza, Itália |
Depois dessa leitura, fiquei curiosa a saber mais não só da literatura húngara, como também a produzida em tantos outros países ignorados pela maioria dos leitores de hoje e de ontem. Espero que essa publicação possa, também, abrir os seus olhos para novas literaturas e outras produções artísticas vindas dos mais diversos lugares do mundo.
Dezsö Kosztolányi |
Um ótimo sábado a todos e boas viagens literárias!
Fernanda
Gostei bastante do post, achei interessante e muito bem desenvolvido,fiquei curiosa pras saber mais sobre o tema.
ResponderExcluirBjos.
Muito interessante e me despertou a vontade de ler! Seu post está bem explicado, estruturado e me fez pensar o mesmo: o que eu já li de literatura húngara? Nada, absolutamente. É, gostei. :D
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluir"O que eu sei sobre literatura húngura? Nada"....me identifiquei, e começar com contos é uma boa maneira.
ResponderExcluirA Ponte dos Suspiros é uma ótima ambientação, mas fiquei com a impressão de que o conto O errante em Veneza é um tanto melancólico.
Mas toda dica nova e interessante de literatura é bem-vinda.
Beijos.
Leituras da Paty
Oi Fernanda!
ResponderExcluirNossa, eu nunca tinha parado para pensar se quer na existência de uma literatura húngara, é uma coisa meio bizarra de se acreditar, mas é verdade. Fiquei curiosa com o seu post, e curiosa para saber mais sobre esses contos. Adorei!
Beijos
Carol
www.sobrevicioselivros.com
Oi Fê!
ResponderExcluirEu confesso que não conhecia esse livro e assim como você não conhecia nada sobre! Fico muito feliz que você tenha se apegado ao livro e conseguiu além de ler nos trazer um pouco mais sobre a cultura :D
Beijinhos,
www.entrechocolatesemusicas.com
Parece ser bem interessante, mas não é o meu tipo de leitura. Gosto de saber um pouquinho sobre todos os estilos e de vez em quando arriscar uma nova classe literária. Nesse o que não fui cheia de amores é a Geografia, não sou fã dessa matéria, hahaha, mas talvez arrisque essa leitura.
ResponderExcluirBjos, Carol.
http://anamatosferreira.blogspot.com.br/
Oi Fernanda, tudo bem? Confesso que a maioria dos livros que eu leio são de escritores dos EUA ou Inglaterra, ou literatura nacional que ultimamente tenho lido bastante... fora esse eixo leio pouquíssima coisa, então sempre acaba sendo uma experiência interessante. Nunca li nada Húngaro, e embora, esse livro específico não faça muito meu estilo, tenho curiosidade de conhecer algum livro dessa literatura.
ResponderExcluirBeijinhos,
Rafaella Lima // Vamos Falar de Livros?
Ele está assim há dez anos? Caminhando sem rumo? Eu adoro caminhar sem rumo, principalmente em lugares desconhecidos, fiz isso na Itália (mas não em Veneza, infelizmente), mas nunca dediquei mais que algumas horas de cada vez a isso. Não conheço nada de literatura húngara, já tentei ler obras de regiões diferentes, tipo o Japão - essa tentativa, especificamente, falhou MESMO... rs... é uma realidade tão diversa da nossa que não consegui entendê-la. Mas pretendo fazer mais tentativas de ler coisas completamente diferentes, e fiquei curiosa para saber como a história termina, então anotei a dica.
ResponderExcluirBeijo!
Ju
Entre Palcos e Livros
Fernanda, fiquei feliz de saber que tem gente que se interessa por coisas que muitas das vezes as pessoas não sabem nada. No seu caso, literatura húngara. E é tão bom aprender uma cultura nova não é mesmo? Percebo como isso faz com que a gente cresça como pessoa. E isso é encantador
ResponderExcluirBeijos
Olá.
ResponderExcluirMuito interessante seu post! Também não sei nada sobre a literatura húngara. Mas ao contrário de você eu teria passado reto e nem dado bola para a pobre obra hahaha
Fiquei curiosa, vou procurar saber mais ;)
Beijos ;*
Proseando com uma Bibliophile • Facebook • Instagram • Twitter
Oi, Fernanda! Ótimo post, como sempre =) É o primeiro que vejo sobre literatura húngara e, realmente, dá muita vontade de ler. Também não li nada da Hungria ainda e, como você apontou, precisamos fugir da nossa zona de conforto e conhecer outras realidades, textos de outros países e autores. Já anotei a dica! Beijos!
ResponderExcluirOi, Fernanda!
ResponderExcluirConcordo com vc que a gente tem a tendência de só consumir o que chega fácil, e imagino que aconteça o mesmo com os nossos produtos lá fora. Enfim, Hungria é um país que eu uso pro H na adedanha pra fugir da óbvia Holanda. rs! Se meu conhecimento geográfico já é péssimo, imagina o cultural! Eu não gosto muito de contos, mas me arriscaria num romance se fosse bem recomendado.
Beijinhos!
Giulia - www.prazermechamolivro.com
Oi, Fernanda!
ResponderExcluirAh... curti essa leitura. Quer dizer, curti tudo que você escreveu, né. Pois eu também não sei nada sobre a literatura húngura, nunca li. E menos ainda sobre a cultura deles. Parece ser bem bacana. Vou anotar pra ler depois, espero gostar assim como você.
Beijinhos!
Jaque - Meus Livros, Meu Mundo