Bom dia, pessoal!
Hoje venho escrever para vocês sobre um dos primeiros
grandes nomes da Literatura Portuguesa, poderíamos até dizer que ele foi o
William Shakespeare das terras portuguesas, se bem que o escritor inglês nasceu
noventa e nove anos depois. Trata-se do poeta e dramaturgo português Gil
Vicente, nascido em 1465 e falecido, aproximadamente, em 1536, não há relatos
precisos.
Gil Vicente |
Assim como Shakespeare, Gil Vicente, além de escrever os
textos das peças teatrais, também participou como ator em muitas produções nos
palcos portugueses.
Nas obras de Vicente, pode-se perceber uma representação das
mudanças sociais, filosóficas e políticas características do período de
transição entre a Idade Média e o Renascimento. Certos valores iam ficando para
trás para dar lugar a novas formas de pensar, que questionavam o status quo que regia os tempos
anteriores.
Gil Vicente é considerado o pai do teatro português, mas
sabe-se que ocorreram representações cênicas na corte portuguesa antes de
Vicente. No entanto, muito pouco foi recuperado destes textos pré-vicentinos e
nenhum atingiu a popularidade e maestria de Gil Vicente, considerado um
dramaturgo sem precedentes na Europa do seu tempo.
Dentre a sua obra, a que mais se destaca é a trilogia de
sátiras composta pelas peças Auto da
Barca do Inferno (1516), Auto da
Barca do Purgatório (1518) e Auto da
Barca da Glória (1519), que são encenadas até os dias de hoje, mesmo
quinhentos anos mais tarde. Destas peças, li apenas Auto da Barca do Inferno e
é sobre ela que escrevo hoje para vocês.
É engraçado pensar como algo escrito há tanto tempo pode
ainda fazer sentido para nós no século XXI, não é? O Auto da Barca do Inferno é um destes exemplos, esta é uma peça
divertidíssima e uma sátira da sociedade de Lisboa do século XVI (se bem que a
nossa sociedade atual não está muito longe dessa representação!).
Nesta peça há duas barcas, uma guiada pelo Anjo, que segue
para o Paraíso, e a outra guiada pelo Diabo, que segue para o Inferno. Um a um,
as pessoas que chegaram ao fim da sua vida na Terra, chegam a este local de
julgamento, onde serão levados para uma direção ou outra, dependendo dos seus
atos cometidos em vida.
São quinze pessoas que seguem para o julgamento: o fidalgo
D. Anrique, um agiota, um sapateiro, um parvo, um Frade cortesão com sua
acompanhante, uma prostituta Brísida, um judeu usurário, um Corregedor e um Procurador
da Justiça, um enforcado e quatro cavaleiros que morreram em uma cruzada
religiosa. O engraçado é que quase todos se dirigem diretamente à Barca da
Glória, onde são barrados pelo Anjo e reprimidos pelos seus pecados.
Cada um dos personagens representa uma classe social ou
crença, bastante presentes na sociedade portuguesa do século XVI, e, através
deles, Gil Vicente elabora uma crítica sagaz da sua conduta no cenário político
da época.
Mesmo escrita há quinhentos anos, o Auto da Barca do Inferno ainda tem muito a nos dizer no século XXI.
É por isso que ele é considerado um clássico, pois suas inúmeras vozes ainda
não terminaram de dizer o que tinham para dizer.
Encenação contemporânea do Auto da Barca do Inferno |
Quer saber quem foi para o Inferno e quem foi para o Paraíso?
Boa viagem à sociedade lisboeta do século XVI e ótima
leitura!
Fernanda
Eu gosto de clássicos, ainda mais os que mesmo escritos a tanto tempo se mostram atuais! Ainda não li nenhum desses, mas já adicionei a lista, me parece muito boa a temática, adorei seu texto!
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