quinta-feira, 28 de maio de 2015

"Auto da Barca do Inferno", Gil Vicente

Bom dia, pessoal!

Hoje venho escrever para vocês sobre um dos primeiros grandes nomes da Literatura Portuguesa, poderíamos até dizer que ele foi o William Shakespeare das terras portuguesas, se bem que o escritor inglês nasceu noventa e nove anos depois. Trata-se do poeta e dramaturgo português Gil Vicente, nascido em 1465 e falecido, aproximadamente, em 1536, não há relatos precisos.

Gil Vicente
Assim como Shakespeare, Gil Vicente, além de escrever os textos das peças teatrais, também participou como ator em muitas produções nos palcos portugueses.

Nas obras de Vicente, pode-se perceber uma representação das mudanças sociais, filosóficas e políticas características do período de transição entre a Idade Média e o Renascimento. Certos valores iam ficando para trás para dar lugar a novas formas de pensar, que questionavam o status quo que regia os tempos anteriores.

Gil Vicente é considerado o pai do teatro português, mas sabe-se que ocorreram representações cênicas na corte portuguesa antes de Vicente. No entanto, muito pouco foi recuperado destes textos pré-vicentinos e nenhum atingiu a popularidade e maestria de Gil Vicente, considerado um dramaturgo sem precedentes na Europa do seu tempo.

Dentre a sua obra, a que mais se destaca é a trilogia de sátiras composta pelas peças Auto da Barca do Inferno (1516), Auto da Barca do Purgatório (1518) e Auto da Barca da Glória (1519), que são encenadas até os dias de hoje, mesmo quinhentos anos mais tarde. Destas peças, li apenas Auto da Barca do Inferno e é sobre ela que escrevo hoje para vocês.





É engraçado pensar como algo escrito há tanto tempo pode ainda fazer sentido para nós no século XXI, não é? O Auto da Barca do Inferno é um destes exemplos, esta é uma peça divertidíssima e uma sátira da sociedade de Lisboa do século XVI (se bem que a nossa sociedade atual não está muito longe dessa representação!).

Nesta peça há duas barcas, uma guiada pelo Anjo, que segue para o Paraíso, e a outra guiada pelo Diabo, que segue para o Inferno. Um a um, as pessoas que chegaram ao fim da sua vida na Terra, chegam a este local de julgamento, onde serão levados para uma direção ou outra, dependendo dos seus atos cometidos em vida.

São quinze pessoas que seguem para o julgamento: o fidalgo D. Anrique, um agiota, um sapateiro, um parvo, um Frade cortesão com sua acompanhante, uma prostituta Brísida, um judeu usurário, um Corregedor e um Procurador da Justiça, um enforcado e quatro cavaleiros que morreram em uma cruzada religiosa. O engraçado é que quase todos se dirigem diretamente à Barca da Glória, onde são barrados pelo Anjo e reprimidos pelos seus pecados.


Cada um dos personagens representa uma classe social ou crença, bastante presentes na sociedade portuguesa do século XVI, e, através deles, Gil Vicente elabora uma crítica sagaz da sua conduta no cenário político da época. 

Mesmo escrita há quinhentos anos, o Auto da Barca do Inferno ainda tem muito a nos dizer no século XXI. É por isso que ele é considerado um clássico, pois suas inúmeras vozes ainda não terminaram de dizer o que tinham para dizer.

Encenação contemporânea do Auto da Barca do Inferno

Quer saber quem foi para o Inferno e quem foi para o Paraíso?

Boa viagem à sociedade lisboeta do século XVI e ótima leitura!


Fernanda

Um comentário:

  1. Eu gosto de clássicos, ainda mais os que mesmo escritos a tanto tempo se mostram atuais! Ainda não li nenhum desses, mas já adicionei a lista, me parece muito boa a temática, adorei seu texto!

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