terça-feira, 2 de junho de 2015

"A Plantação de Uva Amaldiçoada", Charles Waddell Chesnutt

Bom dia, queridos leitores!

Primeiramente devo pedir desculpas a vocês por não ter atualizado constantemente o blog nesta última semana. Como o final do semestre está aproximando, muitas atividades acumularam no mestrado. Porém, vou tentar trazer para vocês, o tanto quanto possível, dicas e comentários literários, dando maior ênfase à qualidade do que à quantidade.

Charles Chesnutt aos 40 anos
Alguém já ouviu falar em Charles Waddell Chesnutt? Eu ainda não! Vi o nome deste autor em uma de minhas adoradas antologias de contos e fiquei curiosa. Adoro conhecer novos escritores! Portanto, decidi ler o conto A Goophered Grapevine de Chesnutt. Não encontrei nenhuma tradução do conto em português, mas o título seria, mais ou menos, A Plantação de Uva Amaldiçoada.
Goophered não é uma palavra comum em inglês. Na verdade, ela é uma palavra de origem africana e, por isso, traz grande significado ao título.

Eu não sabia nada sobre o autor, não tinha ideia de quando o conto havia sido publicado e, somente através do título, tampouco tinha expectativas com relação ao gênero: seria um conto de terror? um conto de mistério? sobrenatural? de romance? sobre a guerra? reflexivo sobre a existência humana? Eu não tinha ideia! Esse tipo de leitura é bastante interessante, pois vamos construindo significados a partir do próprio texto; através das palavras escolhidas pelo autor, vamos identificando o tom da narrativa, vamos descobrindo mais sobre os personagens, ambiente, contexto histórico, etc.

Pois bem, em linhas gerais, a história é a seguinte: devido à saúde frágil de sua esposa, o narrador, por sugestão do médico da família, decide mudar-se com ela para uma região mais ensolarada e de clima mais quente. A região escolhida foi o sul dos Estados Unidos, mais especificamente no estado da Carolina do Norte. Lá, ele visita propriedades em busca de uma fazenda para comprar onde pudesse cultivar uma plantação de uvas. Ao visitar uma plantação abandonada, o narrador e sua esposa encontram um velho negro sentado em um tronco, chupando uvas. O negro quis retirar-se, mas o narrador pediu que não se incomodasse, pois havia espaço para os três. O velho continuou a comer em silêncio.



Após alguns minutos, o narrador decide iniciar uma conversa para deixar o negro mais à vontade e lhe pergunta se ele conhecia o antigo dono da plantação. O negro lhe levanta o olhar e pergunta se é ele o branco que quer comprar a propriedade. O narrador responde que sim. O negro, então, de uma maneira misteriosa, lhe confidencia que, se fosse ele, ele não iria comprar a plantação, pois ela era amaldiçoada! Curioso, o narrador quer saber todos os detalhes sobre esta maldição, enquanto sua esposa Annie se retrai amedrontada. Será que eles devem levar a história do velho negro a sério e manter distância da propriedade amaldiçoada?


Vocês terão que ler o resto do conto para descobrir! Eu achei esta uma leitura muito interessante, mas também bastante difícil, pois toda a fala do negro é transcrita da maneira como os descendentes africanos falavam no sul dos Estados Unidos. Mesmo o dialeto negro sendo de difícil compreensão, vale a pena continuar a leitura e viajar pelas superstições e crenças da cultura africana através da fala do velho negro da plantação.

Depois de lido o conto, decidi buscar mais informações sobre o seu autor e sua data de publicação, o que agregou ainda mais sentido ao texto em si.Charles W. Chesnutt nasceu em 20 de junho de 1858 nos Estados Unidos, e morreu em 15 de novembro de 1932, aos 74 anos. Chesnutt foi um escritor de origem mista (africana e europeia) e, em sua produção literária, trabalhou muito questões sociais e raciais no contexto pós-Guerra Civil no Sul dos Estados Unidos. Com o fim da Guerra, os escravos negros ganharam sua liberdade, mas continuavam a viver em condições precárias e, muitas vezes, obrigados a trabalhar muito para conseguir sobreviver. Eles eram livres na teoria, mas na prática continuavam escravos. Chesnutt, além da literatura, participou ativamente do cenário político norte-americano e tornou-se membro da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor, onde lutou contra leis discriminatórias e batalhou pelo direito dos negros à educação.

É dessa maneira que transformamos nossas leituras mais significativas e interessantes! Não devemos apenas ler um livro e, depois da última página, fechá-lo e guardá-lo na estante para nunca mais olhar para ele novamente. A leitura de um texto nos abre oportunidades para pesquisas e investigações dos temas discutidos no livro, do contexto histórico, político e social que envolvia o autor quando da sua escrita e, também, da própria história de vida do autor.

Espero que a partir de hoje suas leituras durem mais do que o número de páginas em si. Podem acreditar, a experiência vai ser inesquecível e muito mais vantajosa!

Uma ótima terça-feira a todos e ótimas leituras!

Fernanda

11 comentários:

  1. Oi Fernanda! Final de semestre é sempre uma loucura né? Eu gosto também de pegar livros assim, sem saber do que se trata, só escolher pelo título e capa e me aventurar! Gostei muito da sua resenha, realmente, nossa leitura fica muito mais rica quando a gente lê e se informa sobre o contexto de quando ela foi escrita, e muitas vezes, acha significas implícitos, críticas, apenas quando sabemos sobre o contexto no qual o autor viveu.

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  2. Oiiii
    Fiquei bastante curiosa com esse conto, pena que o conto não é traduzido, e eu não sei ler em inglês :(
    Gostei do fato do livro possibilitar uma pesquisa que vai além das páginas, isso é muito bacana e interessante.
    Adorei a resenha!

    Beijos
    http://www.sacudindoaspalavras.com.br/

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  3. Oi Fernanda, tudo bem?

    Final de semestre é sempre assim, eu mesma estava super corrida com trabalhos e também não publiquei no blogs por uns dias.

    Sobre o autor e obra não conhecia, mas achei bem interessante. O único problema é que meu inglês é básico do básico, e ler esse conto seria bem difícil.
    Sempre é bom e válido quando lemos um livro e depois pesquisamos mais sobre os assuntos que estavam nele. Adorei sua resenha.

    Beijos
    Leitora sempre

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  4. Olá Fernanda, esse conto parece ser bem legal, uma pena não ter ele traduzido Ç.Ç As vezes quando leio algo de um autor que não conheço também vou atrás de descobrir que ele era e se tem mais obras publicadas *-*

    Visite "Meu Mundo, Meu Estilo"

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  5. Olá... Fernanda... não curto a leitura dessa temática... porém acho válido citá-la... concordo com você sobre a leitura... que não devemos apenas finalizá-la... quando gosto muito de um enredo que leio termino pesquisando sobre ele, a autora, tudo que o envolve... é bom saber o que há por trás... gostei de todos os pontos que você levantou sobre o livro e a historia que se reflete nele... parabéns... pela excelente resenha... Xero!

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  6. Nossa, eu não me arriscaria a ler em inglês com esse dialeto negro não... tenho certeza absoluta que não ia conseguir entender... rs... mas achei a história interessante, apesar de não ser muito chegada em contos, e fiquei curiosa para saber o final.

    Beijo!

    Ju
    Entre Palcos e Livros

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  7. Pena que esse conto é em inglês, e como ele não é contemporâneo, acredito que deve ser bem difícil entender.
    Mas fiquei curiosa pra saber sobre essa maldição e o mais bacana é que ele tem um plano de fundo e conteúdo que instiga novas pesquisas.

    Beijos.
    Leituras da Paty

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  8. Ola Fe sempre é bom conhecer novos autores, gostei da premissa do conto, e sua maldição. Quem sabe consiga ler um pouco vou tentar e descobrir sobre esse mistério. beijos

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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  9. Oi, Fernanda!
    Inglês não rola pra mim, ainda mais porque a linguagem deve ser antiga, e mesmo assim não me interessei tanto por este conto. Mas acho legal vc sempre extrapolar a leitura inicial e procurar saber sobre o autor e o contexto em que viveu.
    Força que daqui a pouco o semestre acaba.
    Beijinhos!
    Giulia - www.prazermechamolivro.com

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  10. Bacana que a leitura não tenha se encerrado ao fim do conto, que tenha despertado em você curiosidade suficiente para ir buscar informações sobre o autor e sobre o próprio conto. Adorei a trama do conto.

    LETRAS COM CAFEÍNA

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  11. Eu prefiro fazer leituras assim, quando não sabemos nada da história. Assim não criamos expectativas erradas e a chance de acabar decepcionado são bem menores. Também não conhecia o autor, mas só poderia pensar em ler se existisse uma tradução em português.
    E vamos na fé, que daqui a pouco chega outro semestre.

    Beijiinhos ;*
    Andressa - Blog Mais que Livros

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