terça-feira, 29 de junho de 2021

"O Sol é para Todos", Harper Lee

 Olá, pessoal!


Hoje venho compartilhar com vocês a minha mais recente leitura. Trata-se de O Sol é para Todos, ou, no original em inglês, To Kill a Mockingbird, da norte-americana Harper Lee (1926-2016). O livro se passa no sul dos Estados Unidos nos anos 1930, mas foi escrito e publicado em 1960. Ele recebeu o Prêmio Puitzer de Literatura em 1961 e hoje é considerado um dos grandes clássicos da literatura norte-americana, apesar de ter recebido comentários tanto positivos quanto negativos.


Eu tive um experiência muito emotiva com este livro. Acredito que um dos principais motivos é porque ele é contado através de uma criança, Jean-Louise Finch, também chamada pelo apelido Scout, que no início da narrativa tem 6 anos de idade. Ela vive na cidade fictícia Maycomb, em Alabama, com seu irmão mais velho, Jeremy - ou Jem - e seu pai Atticus Finch, um advogado. A mãe das crianças morrera quando Scout era ainda muito nova, tanto que ela mal se lembra do rosto ou da voz de sua mãe. Jem, no entanto, sente mais falta da figura materna. Atticus é um bom pai, mais velho do que a maioria dos pais dos amigos das crianças, e bastante franco com seus filhos. Eles conhecem a profissão do pai e fazem diversos questionamentos sobre os processos da lei.

Jem, Scout e Dill no filme de 1962

Quando a narrativa se inicia, em 1933, os Estados Unidos estavam passando por uma grande depressão econômica, que se iniciou com a queda da bolsa de Nova York em 1929 e durou até o final da Segunda Guerra Mundial. Como consequência, houve grandes taxas de desemprego, queda na produção industrial e um declínio de preço de ações. Esses efeitos negativos chegaram ao ápice em 1933, quando o presidente Franklin Roosevelt aprovou o chamado New Deal, uma série de medidas e políticas para recuperar e reformar a economia dos EUA, como investimento maciço em obras públicas, que geraram novos empregos; destruição dos estoques agrícolas para que os preços não caíssem, evitando a superprodução; a diminuição da jornada de trabalho e o estabelecimento do salário mínimo

Maycomb é uma cidade pequena, onde todos se conhecem e conhecem a reputação de sua família. É muito interessante ler a descrição dos lugares e personagens através da perspectiva de uma menina de 6 anos, que não entende certas convenções sociais, especialmente comportamentos dissimulados e hipócritas. Um dos moradores da rua que mais causa fascinação - e medo - nas crianças é o recluso Arthur 'Boo' Radley, um homem que havia entrado em confusões e brigas quando mais jovem, e depois disso nunca mais saiu de sua residência. Scout e Jem, juntos de seu amigo Dill, que passa os verões em Maycomb, deixam a sua imaginação correr solta e criam planos para fazer 'Boo' aparecer. 

Um grande evento na cidade de Maycomb e principal evento na narrativa é o julgamento de Tom Robinson, um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca. O pai das crianças, Atticus, é colocado como advogado de defesa de Robinson, o que causa certos moradores (e até mesmo crianças) a criticarem a família Finch. Apesar da década de 1930 já ter testemunhado o final da Guerra Civil Americana e passado pelo período de abolição da escravatura e Reconstrução, certas parcelas da socidade ainda mantinham uma visão de mundo extremamente racista, como representado em O Sol é para Todos. Pelo fato de ser negro, Robinson é automaticamente considerado culpado, pois sua palavra, apesar de que honesta, não era acatada quando divergente da voz de uma mulher branca. 

Atticus e Tom no filme de 1962

Atticus acredita na inocência de Tom Robinson e usa de todos os seus poderes para livrá-lo da pena de morte. Scout, Jem e Dill aparecem no tribunal para assistir ao julgamento de Tom, que despertou o interesse da cidade toda. As crianças ouviram os depoimentos, a fala de Atticus em defesa de Robinson, a declaração da mulher Mayella Ewell e de seu pai. Elas estavam confiantes de que Tom Robinson sairia inocentado, porque não havia provas definitivas para condená-lo. Pelo contrário, estava evidente que Tom era inocente. Porém, quando a votação vai para o júri popular, Tom é condenado por unanimidade. As crianças, assistindo de longe, se sentem nauseadas, desacreditando o comportamento das pessoas de Maycomb, que pareciam a elas serem pessoas boas. Enquanto alguns moradores da cidade se achavam pessoas benevolentes, comentavam com pesar sobre a vida de crianças pobres em outros países e sobre as atrocidades de Hitler na Alemanha, eles não pareciam se aperceber da injustiça terrível que cometiam em seu próprio país.


Apesar de ter sido criticado por ser um livro que usa termos racias ofensivos, eu acredito que a história de Harper Lee condena o racismo e a intolerância. Além do mais, Lee enfatiza que o pensamento de uma criança é puro e inocente, mas corrompido pelos preconceitos da sociedade. Neste caso, Scout e Jem passam por um período de melancolia depois do julgamento de Tom Robinson e desanimados com o ser humano. É nesse momento que eles, dolorosamente, deixam a infância para trás para se tornarem adultos.


A autora Harper Lee nasceu em uma cidade do Alabama em 1926, assim como os personagens de O Sol é para Todos. Alguns dos acontecimentos da narrativa são baseados em eventos que ela presenciou quando criança. O pai de Harper, Amasa Coleman Lee, também foi um advogado e, certamente, uma inspiração para o personagem Atticus. Em 1919, Amasa defendeu dois homens negros contra uma acusação de assassinato. No entanto, eles foram considerados culpados, enforcados e seus corpos mutilados. Depois dessa ocorrência, o pai de Harper nunca mais aceitou defender outro caso. Lee também tinha um irmão mais novo, Edwin, que pode ter servido de inspiração para o personagem Jem. Uma curiosidade é que Harper baseou o personagem Dill no seu amigo e também escritor Truman Capote (1924-1984), autor de Bonequinha de Luxo (1958).

Harper Lee

Em 2015, a editora Harper Collins publicou Go Set a Watchman, traduzido para  Vá, Coloque um Vigia, o único outro livro escrito por Lee. Apesar de ter sido divulgado como uma continuação de O Sol é para Todos, o texto é, na verdade, baseado em um rascunho antigo do primeiro livro da autora. No entanto, já coloquei esse título na minha lista de leituras. E vocês? Já leram algo de Harper Lee?


Espero que tenham gostado dessa sugestão de leitura.

Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!

Fernanda


3 comentários:

  1. Amei sua resenha, realmente " O SOL É PARA TODOS " é um livro incrível e que deve ser lido pelo bem do despertar da consciência social e humana. Parabéns

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  2. This blog post analyzing Harper Lee's "To Kill a Mockingbird" is a great reminder that even the most enduring stories often grapple with challenges and journeys. Similar to Scout's journey in the novel, relocating to a new city can be its own adventure, filled with new experiences and adjustments.

    One aspect of relocation that can be stressful is car transport, especially for long distances. The logistics and potential delays can feel like a mockingbird taunting you during an already complex process.

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