quinta-feira, 30 de agosto de 2018

"A Mão e a Luva", Machado de Assis

Bom dia, queridos leitores!

Hoje eu trago para vocês as minhas impressões sobre o livro A Mão e a Luva, do maravilhoso Machado de Assis (1839-1908). Esse é o segundo livro publicado pelo autor carioca, que foi lançado primeiramente em formato seriado no jornal O Globo entre setembro e novembro de 1874, e no mesmo mês de novembro saiu em formato de livro.

Muitos críticos consideram essa obra de Machado como pertencente a sua primeira fase, a fase romântica, enquanto os seus livros mais "maduros" fariam parte da tradição realista. Contudo, não é tão simples assim (e nem vantajoso!) classificar a obra de Machado ou de qualquer outro autor. O que vemos em A Mão e a Luva é um narrador super irônico e não-convencional, que nos leva a conhecer a história de Guiomar, uma jovem moça de origens humildes, e seus três pretendentes: Estêvão, Luís Alves e Jorge.

O livro começa já durante uma conversa entre Estêvão e Luís Alves, dois jovens cariocas que estudam Direito em São Paulo. Estêvão, sonhador e ingênuo, conta a sua paixão avassaladora por Guiomar, que mal lhe retribui o afeto. É verdade que Estêvão conhece a moça muito pouco, mas já está disposto a morrer por um amor não correspondido. O exagero de sentimento de Estêvão e suas referências literárias (ele lê, por exemplo, Os Sofrimentos do Jovem Werther, do alemão Johan Wolfgang von Goethe [1749-1832], e escreve versos à la Lord Byron [1788-1824]) o caracterizam como uma própria caricatura do movimento literário Romantismo, já em decadência em meados do século XIX. 
Machado de Assis

Luís Alves, em oposição, é um rapaz ambicioso e racional. Logo, ele percebe em Guiomar a mesma ambição, o que o leva a cogitar a ideia de casar-se com ela também. Guiomar era uma moça muito humilde que ficou órfã muito cedo. Porém, ela teve a sorte de ter sido adotada por sua madrinha, uma baronesa, que perdeu sua filha, que tinha praticamente a mesma idade de Guiomar. Guiomar se torna, assim, uma nova filha para a rica baronesa. 


Os planos da baronesa e de sua governanta inglesa, Mrs. Oswald, são outros. As duas planejam casar Guiomar com o sobrinho da baronesa, o preguiçoso e sem-graça Jorge. Frente a esses três pretendentes, Guiomar deve escolher entre seguir o coração, uma ambição ou o desejo de sua benfeitora. Guiomar é uma protagonista feminina muito forte, tem caprichos e vontades, e estava muito a frente do seu tempo. Ela sabia como deveria se comportar para garantir um lugar de conforto e respeitável na sociedade. 



Guiomar e seus três pretendentes em uma adaptação do livro para HQ

O sagaz narrador da trama não é nada imparcial. Seus comentários irônicos e linguagem metafórica deixam a leitura mais prazerosa, dinâmica e divertida. Acima de tudo, ele defende Guiomar de toda e qualquer crítica. Guiomar pode não ser o exemplo de como uma mulher deveria se comportar, mas ela é a "nossa heroína", como o próprio narrador diz. E que heroína! Ame-a e ou odeie-a!



Rio de Janeiro no século XIX - cenário de A Mão e a Luva

Então é isso, pessoal! Espero que tenham gostado das minhas impressões sobre esse título não tão conhecido de um dos maiores escritores da nossa literatura brasileira.


Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!


Fernanda


Nenhum comentário:

Postar um comentário