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Pois bem, o romance que inspirou a incrível adaptação de Manuela Dias foi escrito pelo francês Choderlos de Laclos (1741-1803) e publicado em 1782 de forma epistolar, ou seja, o romance é inteiramente composto por cartas, gênero que era comum e teve seu auge justamente no período de publicação de Ligações Perigosas. Por esse motivo, a leitura foi um pouco arrastada para mim, porque para um leitor contemporâneo torna-se cansativo a leitura de uma carta atrás da outra, principalmente no estilo rebuscado e romântico da maioria das cartas.
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Choderlos de Laclos |
Eis, então, que o novo alvo de Valmont é a beata Presidenta de Tourvel, que está passando uns dias na casa da tia do visconde enquanto o seu marido não volta de viagem. Valmont se torna obcecado em fazer com que a presidenta se entregue a ele, mas o que ele não esperava era que iria apaixonar-se de verdade pela mulher religiosa, abalando sua relação com a marquesa.
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Patrícia Pillar como a marquesa e Selton Mello como o visconde |
Eu simplesmente adorei a maneira como o romance foi adaptado para a televisão. Muitos diálogos foram tirados das próprias cartas presentes da coletânea de Laclos, porém as cartas permaneceram elemento essencial do enredo - os personagens mantinham uma correspondência constante entre si. O local das gravações também é de tirar o fôlego; muitas das cenas foram gravadas na Patagônia, Argentina, e em Concepción del Uruguay.
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Selton Mello em cena na Patagônia |
Há algumas diferenças no enredo em si entre o romance original e a adaptação televisiva, mas nada que comprometa a unidade da obra. O destino da pequena Cécile, por exemplo, é diferente, mas não escreverei sobre ele aqui para evitar spoilers.
A obra de Laclos é, certamente, uma crítica à elite francesa da época, ociosa em sua superficialidade, da qual certos membros procuravam a desgraça alheia como meio de abrandar o tédio. O limite ao qual um ser humano está disposto a ir em prol do próprio benefício é colocado em discussão, e levou a muitas disputas e desacordos entre o público leitor do século XVIII, que não podia acreditar que tais ações e pensamentos poderiam ser fruto da mente de seus contemporâneos.
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Felipe e Cecília, jovens corrompidos pela malícia do visconde e da marquesa |
Além da adaptação para a televisão brasileira, Ligações Perigosas já teve outras onze adaptações, incluindo a de 1959, dirigida por Roger Vadim, a versão de 1988, de Stephen Frears, e a de 1989, dirigida por Milos Forman.
Trazida à atenção do público mais uma vez em 2016, o romance de Laclos é resgatado e ganha uma nova roupagem à vis do contexto do século XXI. Mesmo mais de duzentos anos depois, a obra de Laclos permanece atual e conquista mais leitores. Não é isso que faz de um clássico um clássico?
Um ótimo sábado a todos e não esqueçam do que disse a Sra. de Volanges em uma carta à tia de Valmont:
"Quem poderia deixar de tremer ao pensar nos males que pode causar uma ligação perigosa?"
Um beijo,
Fernanda
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