sábado, 23 de janeiro de 2016

"Ligações Perigosas", Choderlos de Laclos

Boa noite, queridos leitores!

A partir do sucesso e de meu envolvimento pessoal com a minissérie da Globo Ligações Perigosas, não pude deixar de, ao saber que a minissérie foi baseada em um romance epistolar francês do século XVIII, colocá-lo em minha lista de leituras. Porém, nem precisei sair em busca do livro, ele, de fato, me encontrou! Alguns dias depois do primeiro capítulo da minissérie na televisão, me deparei com o livro de Choderlos de Laclos em uma livraria. E não teve outra: comprei e o coloquei à frente de toda a lista, tão envolvida eu estava com a trama e curiosa para ler o texto original!

Pois bem, o romance que inspirou a incrível adaptação de Manuela Dias foi escrito pelo francês Choderlos de Laclos (1741-1803) e publicado em 1782 de forma epistolar, ou seja, o romance é inteiramente composto por cartas, gênero que era comum e teve seu auge justamente no período de publicação de Ligações Perigosas. Por esse motivo, a leitura foi um pouco arrastada para mim, porque para um leitor contemporâneo torna-se cansativo a leitura de uma carta atrás da outra, principalmente no estilo rebuscado e romântico da maioria das cartas.


Choderlos de Laclos
Mas a trama por trás das cartas é simplesmente sensacional! Segundo críticos da época, este era um livro "diabólico" e que deveria ser visto como uma ligação perigosa pelas jovens da época por causa dos horrores e perfídia humanas retratada na obra, principalmente pelos personagens principais Visconde de Valmont e Marquesa de Meurteil. Os dois se deliciam em aventuras amorosas e gabam-se de suas conquistas através de sua correspondência. Sua vitória era tanto maior quanto o desespero de suas vítimas.

Eis, então, que o novo alvo de Valmont é a beata Presidenta de Tourvel, que está passando uns dias na casa da tia do visconde enquanto o seu marido não volta de viagem. Valmont se torna obcecado em fazer com que a presidenta se entregue a ele, mas o que ele não esperava era que iria apaixonar-se de verdade pela mulher religiosa, abalando sua relação com a marquesa.

 O que deve ter tornado este romance ainda mais escandaloso para a época, além dos temas tratados, como a traição, infidelidade conjugal, perda da inocência e amadurecimento sexual, foi o fato de que muitas gerações acreditaram que as cartas que compõem a coletânea eram, de fato, verdadeiras, e que os personagens criados por Laclos eram reais, o que levantava rumores com relação a quem seriam estas pessoas e onde estariam escondidas estas cartas.


Na fabulosa adaptação da Globo, a autora Manuela Dias transporta a história da Paris pré-Revolução Francesa, onde os nobres tinham um estilo de vida completamente exagerado e ostentador, para uma cidade fictícia chamada Vila Nova no Brasil da charmosa década de 20. O Visconde de Valmont torna-se o sedutor Augusto de Valmont, vivido por Selton Mello; a Marquesa de Meurteil torna-se a belíssima Isabel D'Ávila de Alencar, interpretada pela sensacional Patrícia Pillar; e a beata Presidenta de Tourvel é vivida na televisão por Marjorie Estiano no papel de Mariana de Santanna.


Patrícia Pillar como a marquesa e Selton Mello como o visconde

Eu simplesmente adorei a maneira como o romance foi adaptado para a televisão. Muitos diálogos foram tirados das próprias cartas presentes da coletânea de Laclos, porém as cartas permaneceram elemento essencial do enredo - os personagens mantinham uma correspondência constante entre si. O local das gravações também é de tirar o fôlego; muitas das cenas foram gravadas na Patagônia, Argentina, e em Concepción del Uruguay.
Selton Mello em cena na Patagônia

Há algumas diferenças no enredo em si entre o romance original e a adaptação televisiva, mas nada que comprometa a unidade da obra. O destino da pequena Cécile, por exemplo, é diferente, mas não escreverei sobre ele aqui para evitar spoilers.

A obra de Laclos é, certamente, uma crítica à elite francesa da época, ociosa em sua superficialidade, da qual certos membros procuravam a desgraça alheia como meio de abrandar o tédio. O limite ao qual um ser humano está disposto a ir em prol do próprio benefício é colocado em discussão, e levou a muitas disputas e desacordos entre o público leitor do século XVIII, que não podia acreditar que tais ações e pensamentos poderiam ser fruto da mente de seus contemporâneos.

Felipe e Cecília, jovens corrompidos pela malícia do visconde e da marquesa

Além da adaptação para a televisão brasileira, Ligações Perigosas já teve outras onze adaptações, incluindo a de 1959, dirigida por Roger Vadim, a versão de 1988, de Stephen Frears, e a de 1989, dirigida por Milos Forman.





Trazida à atenção do público mais uma vez em 2016, o romance de Laclos é resgatado e ganha uma nova roupagem à vis do contexto do século XXI. Mesmo mais de duzentos anos depois, a obra de Laclos permanece atual e conquista mais leitores. Não é isso que faz de um clássico um clássico?

Um ótimo sábado a todos e não esqueçam do que disse a Sra. de Volanges em uma carta à tia de Valmont:

"Quem poderia deixar de tremer ao pensar nos males que pode causar uma ligação perigosa?"











Um beijo,

Fernanda


Nenhum comentário:

Postar um comentário