Hoje eu venho compartilhar com vocês a minha leitura de Mulherzinhas (1868), de Louisa May Alcott. Esse é um livro que estava na minha lista de leituras há muito tempo por se tratar de uma obra importante na história da literatura norte-americana. Porém, foi quando eu assisti à mais recente adaptação cinematográfica da obra, Adoráveis Mulheres (2019), que a vontade de ler o romance despertou! Eu simplesmente amei esse filme! Sem falar que o elenco estava divino: Emma Watson no papel da irmã mais velha Meg, Saoirse Ronan como a icônica Jo, Eliza Scanlen como a jovem Beth, e Florence Pugh como a espevitada Amy. Eu deixei o cinema com o coração aconchegado, eu ri, chorei e queria passar mais tempo com as irmãs March. Portanto, saí do cinema direto em direção à livraria e comprei o livro em capa dura, mas só agora, dois meses depois, tive a oportunidade de lê-lo.
Fiquei muito feliz com a leitura porque tive o mesmo sentimento aconchegante que senti no cinema. Adorava voltar para casa, abrir o livro e voltar ao dia-a-dia da família March. A história se inicia em dezembro de 1861, ou seja, no primeiro ano da Guerra Civil Americana. As quatro irmãs March estão em casa com sua mãe, que elas chamam carinhosamente de Marmee, e a empregada Hannah, ocupadas com os preparativos do Natal. Porém, apesar da atmosfera festiva, as garotas não estão completamente felizes porque seu pai, o Sr. March, estava lutando na Guerra Civil como um soldado da União, ou seja, do lado contra a escravidão. Além disso, os negócios da família tinham sofrido nos últimos anos, diminuindo as condições da família, que precisava ser criativa para manter certos hábitos - principalmente as garotas, que em sua adolescência ansiavam por presentes de Natal, roupas da moda, lenços para o cabelo, sapatos de seda e livros com capa de couro. Apesar da simplicidade e escassez, a família nunca deixou de ajudar os mais necessitados, oferecendo o seu próprio café da manhã natalino para uma pobre mãe com seis filhos.
Conforme o livro avança, nós acompanhamos as quatro irmãs, nos familiarizamos com os seus jeitos, gostos e ambições: a mais velha Meg é romântica mas sensata e sonha se casar por amor e construir uma família; Jo é a criativa das irmãs, que ama ler e escreve histórias, que eventualmente são publicadas e a levam a sonhar em ser uma famosa escritora; Beth é a mais doce e frágil das irmãs. Ela é apaixonada por música, ajuda a todos que puder, mas tem saúde e corpo frágeis, que causam preocupação às outras garotas e Marmee; e, finalmente, Amy, a mais nova mas que tem desejos bem definidos: ela quer usar sua beleza e charme para conseguir um lugar de prestígio na sociedade. Ela ama pintar e sonha em ser uma artista aclamada, mas percebe que gênio e talento são duas coisas distintas.
Originalmente, o livro foi publicado em dois volumes: Little Women em 1868, que corresponde a um ano inteiro desde dezembro de 1861 até o final de 1862, e 23 capítulos. O
romance foi tão bem-recebido que o editor pediu a Louisa May Alcott uma continuação, a qual ela publicou sob o título Good Wives, ou "Boas Esposas" em 1869. O segundo volume acompanha as garotas, que já se tornaram jovens mulheres, durante um período maior de tempo em suas jornadas de autoconhecimento e de busca pelo amor. Atualmente, o costume editorial é publicar os dois volumes em um só, como a edição da Penguin Classics que eu li. Portanto, é importante prestar atenção quando escolher o seu livro para verificar se ele traz a versão completa ou se tem só a Parte I.
A minha edição da Penguin Classics traz uma introdução escrita pela crítica literária Elaine Showalter (da qual soou fã!), que escreveu importantes livros sobre a presença das mulheres na história da literatura inglesa e americana, como A Literature of their Own (1977) e A Jury of her Peers (2009), respectivamente. Aliás, no meu canal no YouTube eu fiz uma série de vídeos com base nos primeiros capítulos de A Literature of their Own, cujo projeto eu intitulei "Uma Literatura Toda Delas". Para acessar os vídeos no canal, clique aqui:
Nesta introdução, Showalter comenta sobre a importância de Mulherzinhas para diversas autoras, como, por exemplo, a admirável Simone de Beauvoir (1908-1986). Beauvoir escreveu o seguinte: "Houve um livro no qual eu acreditei ter visto uma fagulha do meu 'eu' do futuro: Little Women, de Louisa May Alcott... eu me identifiquei apaixonadamente com Jo, a intelectual. Brusca e magrela, Jo escalava árvores quando ela queria ler; ela era mais durona e ousada do que eu, mas eu compartilhava o seu horror por costura e cuidados da casa e o seu amor por livros. Ela escrevia; de modo a imitá-la mais completamente, eu escrevi dois ou três contos" (Tradução livre minha).
Meg, Amy, Jo e Beth |
Imaginem só! A personagem Jo levou Simone de Beauvoir a escrever! Eu também me identifiquei muito com Jo, o seu amor por livros, sua vontade de ser escritora e sua admiração pela biblioteca do Sr. Laurence, apesar de meu temperamento e comportamento serem mais compatíveis com o de Meg. Eu, por exemplo, nunca fui de escalar árvores! :)
Cena do filme de 2019 |
Mulherzinhas traz muitos elementos autobiográficos de Louisa May Alcott (1832-1888), uma jovem mulher da Nova Inglaterra, que começou sua carreira de escritora sob o pseudônimo A. M. Barnard, quando escreveu histórias de espiões e vingança no estilo dos contos sensacionalistas de Jo em Mulherzinhas. Louisa, como Jo, tinha três irmãs: Abigail, Elizabeth e Ana. Interessantemente, o sobrenome de Louisa é May, que significa Maio em português. As irmãs em Mulherzinhas têm o sobrenome March, que significa Março em português. Coincidência?
Louisa May Alcott |
SPOILERS: Voltando ao filme de 2019, eu achei a adaptação de Greta Gerwig muito fiel (apesar de não gostar muito dessa palavra) ao romance. Como li o livro depois de assistir à adaptação, eu revi o filme em minha mente capítulo por capítulo. Há apenas duas alterações no filme, que eu achei que deram mais emoção à trama. Primeiramente, a tia March, interpretada pela fantástica Maryl Street, é um solteira convicta e ácida no filme, enquanto no livro ela é uma mulher casada e mais tradicional. Segundo, no livro não há nenhuma menção ao arrependimento de Jo por ter recusado Laurie, enquanto no filme a Jo de Saoirse Ronan chega a escrever uma carta para Laurie antes de descobrir que ele estava casado com Amy.
Espero ler mais livros como esse, que me aqueceu o coração e vai ter um lugar especial na minha estante para sempre.
Uma ótima semana a todos e, é claro, ótimas leituras!
Fernanda
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