segunda-feira, 21 de setembro de 2015

"O Coração de Leão", Jean Plaidy

Bom dia, queridos leitores!

Hoje trago para vocês a continuação da saga da dinastia Plantageneta, que reinou sobre a Inglaterra por muitos anos a partir do século XII. A fantástica saga de 14 volumes foi escrita por Jean Plaidy, pseudônimo da escritora inglesa Eleanor Hibbert, que combina ficção e história nesta maravilhosa jornada pela Inglaterra medieval.

O terceiro volume, O Coração de Leão, foi publicado pela primeira vez em 1977, e segue os volumes Prelúdio de Sangue e O Crepúsculo da Águia, primeiro e segundo livros respectivamente. Quem tiver interesse em reler as publicações sobre estes volumes, pode acessá-los aqui.

Com a morte do Rei Henrique II, seu filho mais velho ainda vivo Ricardo sobe ao trono como Ricardo I, e mais tarde viria a ser conhecido como Ricardo Coração de Leão, por sua coragem e maestria na arte da guerra, e pelo medo e respeito que impunha a todos ao seu redor.

Com sua ascensão ao trono, a primeira medida de Ricardo é libertar sua mãe, a Rainha Eleanor da Aquitânia, que tinha sido feita prisioneira por seu marido, o Rei Henrique II, por dezesseis longos anos. Extremamente orgulhosa de seu filho, Eleanor atua como regente enquanto Ricardo está fora do reino em suas batalhas.

Ricardo Coração de Leão durante a Terceira Cruzada
O grande desejo de Ricardo como monarca, no entanto, estava bem longe da corte inglesa. Seu sonho era reconquistar a Terra Santa do poder dos infiéis e, para isso, planeja uma cruzada com Filipe II, Rei da França. É sabido que os dois jovens reis tinham uma relação de muito afeto um pelo outro; é até suposto que foram amantes durante, praticamente, suas vidas inteiras. Ricardo I chegou a casar-se com Berengária de Navarra, porém nunca tiveram filhos. Mesmo tendo um certo carinho por sua esposa, Ricardo nunca foi amante das mulheres.

Ricardo Coração de Leão teve muitas vitórias durante a Terceira Cruzada, porém não conseguiu alcançar o seu sonho de reconquistar Jerusalém. Depois de quatro anos longe de casa, depois da retirada do já cansado Rei Filipe II, e depois de ter sido feito prisioneiro do duque da Áustria, Ricardo volta à Inglaterra. Ele volta em boa hora, pois sua coroa estava sendo cobiçada por ninguém menos que seu próprio irmão, João.

Ricardo Coração de Leão virou um mito da cultura popular e hoje aparece em diversos livros, como o de Plaidy, poemas, filmes, pinturas, entre outros meios artísticos. Sua coragem é lembrada até hoje, e sua figura é sinônimo de herói. Infelizmente, reis audazes como Ricardo normalmente encontravam a morte muito cedo. Ricardo morre dez anos após a sua coroação, não deixando nenhum filho legítimo que tivesse direito à herança da coroa inglesa. Por isso, após sua pesarosa morte, o país entra em um período de conflito, pois há muitos olhos cobiçosos em espreita pela coroa. O próximo rei da Inglaterra será João, o cruel irmão de Ricardo, ou Artur da Bretanha, o sobrinho de Ricardo e filho do irmão mais velho de Ricardo, Geofredo? É este período de incertezas que inicia o próximo volume da saga de Plaidy, O Príncipe das Trevas.

A Terceira Cruzada


Eu estou simplesmente amando esta saga de Plaidy. Sempre fui amante de história e tinha muito interesse em conhecer melhor a história da Inglaterra. Já li diversos livros didáticos e teóricos sobre o assunto, mas nada se compara a ler sobre os temores e desafios das figuras históricas como personagens de carne e osso, humanos, com defeitos, ambições e sentimentos! Transformá-los em personagens da ficção é a melhor maneira de nos envolver com estas figuras e de nos transportar para o período histórico em que eles viveram.


Realmente, Jean Plaidy é uma grande romancistas e historiadora. Além desta saga sobre a dinastia Plantageneta, ela também escreveu romances históricos sobre as dinastias Tudor e Stuart, sobre as rainhas da Inglaterra, a Revolução Francesa, as irmãs Bolena, e muitos outros! Em 86 anos de vida, ela escreveu mais de duzentos romances. Eleanor Hibbert já virou minha ídola e modelo de inspiração!

Jean Plaidy, pseudônimo da autora Eleanor Hibbert


Não vejo a hora de continuar a leitura da saga destes grandes monarcas da Inglaterra medieval. Afinal de contas, não há história melhor do que a própria História, não é?

Uma ótima semana a todos e boas leituras!

Fernanda


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Discussão - Literatura Antiga Inglesa

Boa noite, queridos leitores!

Hoje iniciamos nosso percurso pela história da literatura em língua inglesa. Esta é uma jornada fantástica, muito já foi escrito durante estes séculos de existência da cultura britânica. Teremos como base o fabuloso volume The Short Oxford History of English Literature, organizado por Andrew Sanders, professor da Universidade de Durham. Apesar do título, este livro contém mais de setecentas páginas! Mas não é à toa, há muita história para contar, não é?

A história da língua inglesa pode ser traçada desde o princípio dos séculos V e VI, período que podemos chamar de Inglês Antigo (Old English) ou Anglo-Saxão. Estudiosos do século XIX preferiam chamar este período de Inglês Antigo, dando assim uma sensação de continuidade à história e cultura britânica, que seguiria para os períodos posteriores de Inglês Médio (Middle English) e Inglês Moderno (Modern English). Estes estudiosos consideravam o termo Anglo-Saxão pejorativo, pois se referia aos povos germânicos que haviam se fixado no sul e leste da Grã-Bretanha. Para eles, estes povos bárbaros, guerreiros e pagãos nada tinham em comum com a nação inglesa que viria a se estabelecer mais tarde depois da Conquista Normanda de 1066.

Mapa das rotas de migração dos povos germânicos para a Grã-Bretanha no século V

A partir do século VII, um processo de re-Cristianização ocorreu na Grã-Bretanha. Missionários foram enviados de Roma para converter a população pagã, e a região voltou a ser regulada pela Igreja Romana Cristã. Este foi um passo decisivo na construção da cultura inglesa, pois a Igreja Católica prezava muito a língua escrita e o idioma usado por eles era o Latim. Dessa maneira, a Grã-Bretanha se juntou à cultura ocidental dominante. Neste período, houve bastante trabalho de intelectuais e estudiosos em monastérios, como o importante Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum, a História Eclesiástica do Povo Inglês, escrito por Bede em 731, há mais de mil e duzentos anos! Ainda há manuscritos deste trabalho que sobreviveram até os dias de hoje.

 É verdade que a habilidade de ler e escrever naquela época era reservada para os literatos do clero, mas a tradição da literatura oral era bastante disseminada. Sermões e instruções religiosas eram proclamadas não em Latim, mas na língua inglesa vernacular, possibilitando a compreensão de toda a população. A partir do século X, também foram feitas traduções para o inglês de textos religiosos em Latim.

No entanto, a paz dos ingleses foi conturbada por novas invasões vikings no século VIII que destruíram bibliotecas, saquearam monastérios e deixaram-nos desertos. Somente no reino do Rei Alfred (848-899) que a educação e o conhecimentos foram novamente encorajados. É desta época que datam os manuscritos antigos em verso mais conhecidos da literatura inglesa: Junius, Vercelli, Exeter e Beowulf. Não se sabe quais foram as razões pelas quais estes manuscritos em particular foram preservados e outros não, mas há dois processos distintos que podem ter ocorrido: a influência das condições arbitrárias de preservação, como casual destruição e esmorecimento natural; ou um processo de edição e seleção, provavelmente feito por monges, o que explicaria o fato de os manuscritos sobreviventes salientarem temas como a virtude da comunidade tribal, as relações de lealdade entre o senhor e o vassalo, heroísmo e o poder do destino (wyrd) - uma literatura elevada e de caráter predominantemente masculina.

Rei Alfred

Dentre estes quatros manuscritos, acredito que o mais conhecida seja Beowulf, o poema épico que conta as aventuras do herói escandinavo que dá nome ao texto. O poema foi escrito em inglês antigo e, por isso, até um falante nativo de língua inglesa hoje em dia não entenderia uma palavra sequer do original. É por isso que existem versões adaptadas para o inglês moderno, ou até versões bilíngues que trazem página a página a versão original comparada com a versão moderna. É uma destas versões que pretendo ler em breve, e então trarei para vocês mais informações sobre esse mitológico guerreiro e marco na literatura de língua inglesa!

Uma boa noite a todos e ótimas leituras!

Fernanda


domingo, 6 de setembro de 2015

"Noite de Reis", William Shakespeare

Bom dia, queridos leitores!

Hoje o dia amanheceu chuvoso, e o que melhor a fazer em uma manhã dessas do que ficar até tarde na cama lendo uma boa história?

Há um certo tempo, estou me dedicando a me familiarizar melhor com os escritos de William Shakespeare, autor que estudo no meu mestrado em literatura inglesa. Shakespeare escreveu quase quarenta peças durante a sua vida e muitas delas não recebem a devida atenção hoje em dia. Há os clássicos atemporais como Hamlet (1599-1601) e Romeu e Julieta (1591-1595) , mas dessa vez quis procurar uma peça sobre a qual não sabia absolutamente nada. Escolhi Noite de Reis (1601-1602) e tive uma adorável surpresa com a leitura.

Noite de Reis é uma peça muito engraçada e posso imaginar como a audiência deve ter reagido ao vê-la em performance no palco há tantos anos . Nesta peça, conhecemos Viola, uma garota que perdeu seu irmão gêmeo Sebastian durante o naufrágio do navio em que estavam. Ao chegar em terra firme, na região de Illyria, Viola decide se passar por um homem para sua segurança. Ela passa a se chamar Cesario e vira criado do Conde Orsino, que estava apaixonado por Olivia, uma bela donzela da cidade.


Cesario - ou Viola - decida ajudar o Conde a conquistar sua amada. No entanto, Olivia se apaixona pelas palavras do jovem rapaz (que, na verdade, é Viola) e acaba se declarando a ela.


Malvolio, criado de Olivia e secretamente apaixonado por ela, é levado a crer por seus colegas que seu amor é correspondido. Ele passa a agir de maneira muito estranha com relação a Olivia, de classe superior à dele, sorrindo-lhe e agindo como superior. Os outros pensam que Malvolio está enlouquecendo!


E assim a trama de Shakespeare se desenvolve no seu estilo "alguém ama alguém que ama outra pessoa, que ama outro", assim como na maravilhosa Sonho de Uma Noite de Verão (1590). Assim como Carlos Drummond de Andrade escreveria muito mais tarde, "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém", podemos dizer que Viola amava o Conde, que amava Olivia, que amava Viola, que era amada por Olivia, que era amada por Malvolio. Ufa!

Essa história de Shakespeare já foi adaptada para o cinema algumas vezes, dentre as quais está o filme britânico de 1996 dirigido por Trevor Nunn, com Toby Stephens no papel de Conde Orsino, Imogen Stubbs como Viola, Helena Bonham Carter como Olivia e Nigel Hawthorne como Malvolio. Como sou fã do trabalho de Helena Bonham Carter, fiquei muito animada para conferir esta adaptação.

Outra versão, desta vez em um ambiente moderno, da peça de Shakespeare é o filme de 2006 Ela é o Cara, com Amanda Bynes no papel de Viola Hastings. Para entrar no time de futebol chamado Illyria, Viola tem que se passar por um rapaz, e se veste como seu irmão gêmeo, Sebastian. Quando ela se muda para o dormitório dos garotos, ela conhece seu novo colega de quarto, Duke Orsino, por quem acaba se apaixonando. Mas Viola não pode contar seus sentimentos a Duke, porque ele acha que ela é um cara! Essa adaptação é muito engraçada e mostra como a história de Shakespeare ainda nos cativa, mesmo mais de quatrocentos anos depois.

A peça Noite de Reis, Twelfth Night em inglês, provavelmente foi encenada durante a celebração do Dia de Reis, no início de janeiro de 1602, para encerrar as festividades do Natal.

Para quem ainda tem receio de ler Shakespeare, esqueça essas temores! Ler Shakespeare pode ser muito divertido! Além do mais, você já deve conhecer muitas histórias que nem sabia que foram escritas pelo Bardo.

Um ótimo domingo a todos e boas leituras!

Fernanda